Robinho foi jogador de futebol por 18 anos -  (crédito: Getty Images)

Robinho foi jogador de futebol por 18 anos

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Definitivamente, ser mulher nesse mundo é o maior karma de uma criatura. Esse mundo é dos homens, para os homens e a gente que lute para conseguir respirar esse ar quente e poluído que a humanidade nos deu!

É Robinho, o estuprador, condenado a nove anos de prisão na Itália por estupro coletivo de uma albanesa em Milão, vivendo livremente no Brasil, e dizendo que a condenação foi injusta porque a relação com a vítima foi “rápida e superficial”. Em um momento de lucidez, na última semana, o STJ resolveu homologar o pedido da Justiça italiana para que o ex-jogador cumpra a pena de nove anos de prisão no Brasil.

É Daniel Alves, outro condenado por estupro, tendo sua pena reduzida por pagar indenização para a vítima com ajuda financeira de Neymar, e depois tendo sua liberdade provisória aprovada mediando o pagamento de uma fiança no valor de um milhão de euros. Esse é o mundo dos homens, a justiça dos homens. A vítima só queria que ele fosse punido, mas para a Justiça está tudo bem se ele pagar pelo crime em dinheiro. Estupro agora tem preço.

É tarado do elevador que apalpa uma mulher enquanto ela deixa o local distraída vendo seu celular. Tudo devidamente registrado pelas câmeras de segurança. É avô colocando câmera escondida na tomada do banheiro para gravar a neta de 12 anos tomando banho. É Alexandre Correa se queixando de estar há 390 dias em abstinência sexual.

Se a gente não grita, os crimes ficam impunes, e antes a gente não gritava. Éramos silenciadas pela vergonha, mas aprendemos que a vergonha é toda deles, nunca da vítima. Esses crimes sempre aconteceram, o que mudou foi a forma de as mulheres reagirem, saindo do silêncio e berrando para todo mundo ouvir.

Há anos uma amiga foi drogada por um homem muito bem relacionado entre os jogadores de futebol para que ela pudesse ser estuprada por outro homem. Ela nunca teve coragem de contar, tinha medo de causar problemas aos seus pais. Era assim, nos encolhíamos numa culpa que não tínhamos e nos calávamos. Nesse caso, o crime prescreveu, ela não tem como provar. Quantas outras passaram pela mesma coisa e guardaram para si o trauma? Quantas ficam vendo seus carrascos livres, ricos e soltos para repetirem o mesmo crime com outras vítimas?

A justiça dos homens falha. Um milhão de euros é o preço pela violação de um corpo feminino, o corpo de uma mulher que só quer que ele seja devidamente punido. E o silêncio ensurdecedor dos homens em relação a essas duas condenações diz muito sobre a culpa que cada um deles carrega.

Quem se cala diante desse tipo de situação diz muito sobre quem é e o que faz quando não estamos olhando. O silêncio agora é dos homens, no mundo dos homens, porque a mulher agora grita bem alto, denunciando os abusos cometidos contra elas. Nunca mais seremos silenciadas, nem por um milhão de euros.