Léo Drummond, autor do livro ABC do LGBTQIAPN+ -  (crédito: Henrique Selva Manara/Divulgação)

Léo Drummond, autor do livro ABC do LGBTQIAPN+

crédito: Henrique Selva Manara/Divulgação

Muita gente tem dúvidas sobre o que significa cada letra da sigla e também sobre alguns conceitos básicos relacionados à nossa comunidade. Por isso, compartilho aqui um conteúdo das primeiras páginas do meu livro ABC do LGBTQIAPN+.

A sigla LGBTQIAPN+ é utilizada para representar socialmente a diversidade sexual humana e algumas identidades de gênero. Acontece que tanto a nossa sexualidade quanto a nossa identidade de gênero podem ser entendidas como um espectro, com infinitas possibilidades de vivência e experimentação. Por isso, a sigla possui tantas letras e pode aumentar ainda mais.

 

Vamos entender cada uma delas?

L de lésbicas: mulheres que sentem atração sexual e/ou afetiva por pessoas do mesmo gênero.

G de gays: homens que sentem atração sexual e/ou afetiva por pessoas do mesmo gênero.

B de bissexuais: pessoas que sentem atração sexual e/ou afetiva por mais de um gênero.

T de transgênero e travestis: refere-se à identidade de gênero (e não à orientação afetivo-sexual). São pessoas que têm uma identidade de gênero diferente daquela que foi designada no seu nascimento. São pessoas representadas pela letra “T” os homens trans, as mulheres trans, as travestis e as pessoas não-binárias. É importante pontuar que, apesar de possuírem uma identidade de gênero feminina, as travestis se identificam em uma expressão de gênero latino-americana que não busca necessariamente suprir as expectativas de gênero que são criadas sobre identidades femininas “padrão”.

Q de queer: esse é um termo “guarda-chuva” que abriga diferentes possibilidades da sexualidade e gênero que não são heterossexuais ou cisgênero. O termo vem da língua inglesa e não é tão comum no Brasil, mas há pessoas que o usam por aqui.

I de intersexo: são pessoas cujas características biológicas de nascimento (anatômicas e reprodutivas), como a genitália, os hormônios e os cromossomos possuem "combinações" diferentes daquelas que se encaixam no padrão binário típico do “masculino” e “feminino”. Para facilitar o entendimento: antigamente, se usava a palavra “hermafrodita” para se referir a pessoas intersexo, porém seu uso tornou-se pejorativo e não é apropriado se referir a elas dessa maneira atualmente.

A de assexual: são pessoas que não entendem o sexo como sua primeira referência de desejo ou atração, independentemente do tipo de pessoa pela qual ela se atrai. Muitas vezes, a pessoa assexual vai ter baixa ou nenhuma atração sexual por outras pessoas (mas isso não é regra).

P de pansexual: a identidade ou expressão de gênero da outra pessoa não é fator predominante para a atração sexual ou afetiva. Desse modo, elas podem se relacionar com pessoas de diferentes identidades de gênero e orientações afetivo-sexuais.

N de Não-bináries: são aquelas pessoas que não se identificam com o tradicional padrão binário (homem ou mulher), podendo se identificar com os dois gêneros simultaneamente, com nenhum deles ou várias outras possibilidades de identificação.

 

E o "+"?

O sinal de adição foi adicionado para reforçar que a sociedade está sempre em transformação e que a sigla LGBTQIAPN+ não é capaz de representar toda a pluralidade da diversidade sexual e de gênero possíveis. Esse reconhecimento é muito importante para a legitimação dos grupos sociais e para o acesso a direitos.

 

Atenção

É importante respeitar a sexualidade e a identidade de gênero de todas as pessoas! Mesmo se por questão ideológica, religiosa ou qualquer outro motivo uma pessoa não entender toda essa pluralidade, isso não dá a ela o direito de desrespeitar ou discriminar ninguém. LGBTI+fobia é crime e há sanções previstas na legislação.

 

Sexo designado, orientação afetivo-sexual, identidade e expressão de gênero

Para além da sigla, muitas pessoas têm dúvidas sobre termos e conceitos relacionados a toda a pluralidade que existe relacionada à orientação afetivo-sexual e identidades de gênero. Vamos entender um pouco mais também?

 

Sexo designado ou biológico

É chamado de sexo designado ou sexo biológico aquele rótulo que o médico nos dá quando nascemos, com base em características biológicas (anatômicas e reprodutivas), como a genitália, os hormônios e os cromossomos. O termo biológico é problematizado, pois a biologia também mostra que há muito mais que apenas o padrão binário homem/mulher. Por isso, há a preferência por usar o termo sexo designado.

Uma pessoa com cromossomos XX geralmente tem órgãos sexuais e reprodutivos femininos e é designada como do sexo feminino. Uma pessoa com cromossomos XY geralmente tem órgãos sexuais e reprodutivos masculinos e então é designada como do sexo masculino. Mas vale lembrar que isso não exclui a existência de outras combinações de cromossomos, hormônios e órgãos sexuais e reprodutivos. Essas múltiplas combinações podem levar uma pessoa a ser considerada intersexo, por exemplo.

 

Identidade de gênero

É a identidade que existe a partir de como a pessoa se identifica, que pode ou não corresponder ao seu sexo designado ao nascer. Gênero está relacionado com algo que a sociedade entende como papéis, comportamentos ou estéticas masculinas ou femininas. Existem pessoas cisgênero, transgênero (o que inclui as pessoas não binárias), entre outras possibilidades de identidade de gênero.

A pessoa cisgênero (ou simplesmente cis) é aquela cuja indentidade de gênero está alinhada com o seu sexo designado aos nascer (masculino/masculino ou feminino/feminino). Chamamos de pessoa transgênero uma pessoa cuja identidade de gênero é diferente daquela que lhe foi atribuída ao nascer. Há também as pessoas não binárias (que já explicamos nesse texto).

 

Expressão de gênero

É a forma como a pessoa se apresenta, sua aparência e seu comportamento, de acordo com as expectativas sociais de um determinado gênero. Depende da cultura em que a pessoa vive, porque de acordo com a nossa cultura é que aprendemos quais são comportamentos e roupas esperados tradicionalmente para homens e mulheres, por exemplo.

A expressão de gênero pode ter a ver então com a sua maneira de impostar a voz, com a roupa que você veste, com o seu estilo de cabelo ou barba (se tiver), entre outros elementos. Nada disso é escolhido aleatoriamente. Você só escolhe suas peças de roupa por algo relacionado ao que aprendeu culturalmente relacionado à sua expressão de gênero. Ou seja, você aprendeu, por exemplo, como homens e mulheres se vestem no Brasil. Há países em que homens usam saias, mas aqui não é comum, então geralmente homens cisgênero brasileiros não irão usar esse tipo de peça para ir trabalhar (obviamente, há exceções), mas essa escolha de vestimenta não é algo da natureza, é cultural.

É importante reconhecer que existem expressões que não se encaixam nas categorias binárias dos gêneros masculino ou feminino. Temos as pessoas andróginas, por exemplo.

 

Orientação afetivo-sexual

A orientação afetivo-sexual tem a ver com a atração sexual, romântica e/ou afetiva que as pessoas sentem. Tem a ver com parte do que já explicamos sobre a sigla LGBTQIAPN+ As pessoas podem ser heterossexuais, homossexuais, bissexuais, pansexuais, entre outras orientações.

As combinações desses 4 itens são muitas. A identidade de gênero de uma pessoa não tem nenhuma relação necessária com a orientação afetivo-sexual, por exemplo. Uma pessoa trans pode ser hetero, homo, bi, pansexual etc. Nós nunca conseguimos nem devemos tentar adivinhar qual é a história e vivência das outras pessoas.

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