A onda de diagnósticos – precoces ou tardios – de pessoas com autismo, inclusive de celebridades, no Brasil, tem chamado a atenção de especialistas e profissionais de saúde em geral. A prova é que um levantamento da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) mostra que os custos com tratamentos para transtorno do espectro do autismo (TEA) superaram os gastos com tratamentos oncológicos. Somente no ano passado, as despesas com TEA atingiram 9% do custo médico total, ultrapassando os 8,7% destinados à oncologia.

Isso se intensificou com as mudanças implementadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) desde 2021, que incluem cobertura ilimitada de sessões com psicólogos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos, além de outros métodos indicados para o tratamento desses transtornos.

Se por um lado os pacientes diagnosticados têm recebido um melhor tratamento – multidisciplinar, na maioria dos casos – por outro muitos não têm como arcar com esses gastos. Um outro estudo, "Retratos do Autismo no Brasil", realizado pela healthtech Genial Care, em parceria com a Tismoo.me, revela que 73% dos entrevistados mencionam dificuldades financeiras para arcar com os custos do tratamento.

O relatório revela ainda que a grande maioria dos cuidadores está profundamente preocupada com o futuro a longo prazo da criança com autismo (79%). E vale destacar que essa preocupação integra também os estudos anteriores. Esses profissionais apontam a incerteza de um futuro a longo prazo para essas crianças em termos de desenvolvimento, inclusão e apoio emocional. Por isso, intervenções multidisciplinares e orientação parental são fundamentais nesse aspecto. Além disso, o setor de saúde deve ser ativo, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de crianças autistas e suas famílias.

Atualmente, em todo o planeta, os autistas representam 2% da população e, nos últimos 20 anos, houve uma grande evolução no diagnóstico devido aos avanços das técnicas de sequenciamento. Mas no Brasil, ainda há precariedade na adoção de políticas públicas que permitam o acompanhamento e o tratamento de todos os brasileiros com essas condições.

Entre 2017 e 2021, o Censo Escolar registrou um aumento de 280% no número de estudantes com TEA matriculados em escolas públicas e particulares do país, e a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que o Brasil tenha entre 2 milhões e 4 milhões de pessoas com TEA.

Fato é que há falhas na condução das práticas que envolvem o tema autismo. Os sistemas de saúde e educação – tanto a rede pública quanto a privada – precisam se realinhar, visando a capacitação de pessoas com autismo. Focar o tratamento na doença ou a “cura” não é o caminho ideal, bem como práticas como terapias intensivas e salas de aula separadas.

Cabe também à sociedade enxergar a pessoa com autismo e suas famílias como parte integrante da comunidade, capaz de garantir um suporte inclusivo que reforce as diferenças de forma positiva. Há muito o que fazer, mas é preciso começar.