As eleições de 2022 já estão batendo na porta e no dia 2 de outubro teremos a chance de escolher quem mais nos representa. Para além da polarização política e do embate entre os presidenciáveis, precisamos falar de uma figura com papel fundamental nos rumos que o nosso país seguirá: os parlamentares. Hoje, convido o doutor Lincoln, médico cirurgião, com experiência nacional e internacional de gestão e que muito me ensina desde quando era um jovem acadêmico.
Natural de Itaúna (MG), doutor Lincoln é médico cirurgião do aparelho digestivo formado pela UFMG e tem formação de administração em Saúde pela Fundação Getúlio Vargas. Ocupou os cargos de Presidente da Associação Médica de Minas Gerais e também da Brasileira.
Doutor Lincoln, o Andarilho da Saúde, como é conhecido, conhece todos os estados brasileiros e sua bagagem fica cada dia maior, pois, além de conhecer a realidade nacional, pôde, através dos encontros internacionais, acumular experiências que são valiosas para realmente as opiniões serem pautadas na plausibilidade. Na medicina, a gente só cumprimenta quem a gente conhece, o que também não diferente na política.
Doutor Lincoln, afinal, o que um deputado federal faz?
Os deputados federais representam os estados brasileiros na Câmara dos Deputados. São 503 representantes. O deputado qualificado, com boa formação e experiência, é fundamental para que as leis que são discutidas, alteradas e apresentadas possam ser plausíveis e adequadas à nossa realidade e que também possam atender às peculiaridades de cada estado da federação brasileira.
Há um abismo entre o que o papel aceita e o que o papel pode proporcionar na realidade dos brasileiros. Na linguagem popular, um deputado que não sabe a respeito do que ele está debatendo pode produzir leis que "não pegam" e que consequentemente deixam de cumprir seu papel social e cívico para a população brasileira.
Atender o desejo da maioria do povo brasileiro é um dos pilares básicos da democracia e um dos instrumentos mais sólidos e duradouros são as leis. As leis são as regras do jogo democrático do governo, o que ainda, surpreendentemente, é muito associado ao poder executivo. Cabe ao legislativo proporcionar à sociedade oportunidades, liberdades e direitos iguais em busca de uma população cada vez mais equânime. O deputado federal contribui especialmente em leis que irão vigorar em todo o território nacional.
O que as leis podem fazer pela saúde?
A vasta expertise em gestão demonstra que a execução sem planejamento não é eficaz. Toda a atuação dos profissionais de saúde passa pela regulação e normatização e quando isso é executado com primor é possível observar resultados de excelência na atuação da saúde como um todo.
Inclusive, devemos atentar para um ponto crucial: a formação de todos os profissionais da saúde - médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos, dentre outros - também é orquestrada pelas leis nacionais, ou seja, boas leis formam bons profissionais.
Para o exercício da profissão, é fundamental a existência de infra-estrutura adequada, como ambulatórios, hospitais, clínicas, redes de atendimentos e outros programas.
Muito mais que boa vontade, teremos que proporcionar o financiamento correto para que toda essa complexidade funcione e, para isso, não basta somente tinta das canetas, mas também suor, empenho, estudo e preparação.
Pode parecer óbvio, mas todo o custeio dos profissionais, estrutura, insumos, equipamentos e medicamentos provêm do orçamento geral da união, que é alimentado pelos impostos que todos nós cidadãos pagamos. A discussão adequada e o cuidado adequado com o destino correto e coerente desses recursos é realizada por meio das leis que são geridas também pelos deputados.
O Brasil deve caminhar com o compromisso de uma política de Estado e não somente de governo, e esse é um dos compromissos do legislador. Se faz necessário atuações duradouras e não somente medidas que tapam buracos ou que apagam incêndios.
Na sua visão, qual o maior desafio para deputados federais?
Sem sombra de dúvidas é a qualificação da discussão e do debate no ambiente político. É necessário semear com ética, qualificação, zelo e decoro para que em breve possamos colher frutos de uma imagem melhor do político brasileiro. As pessoas de boa índole e de boa reputação tendem a não compartilhar espaço e nem conhecimento com pessoas de má fé.
Quem nunca ouviu falar da história de políticos que davam para população mais carente um pé de botina antes das eleições ou outro pé somente se houvesse a vitória. Voto de cabresto, compra de voto, votos fantasmas são realidades que macularam a imagem dos políticos brasileiros - e com razão.
O grande desafio é mostrar o político como algo útil e importante para a população e demonstrar que os recursos que são pagos pela população, recolhidos pelo governo, valem a pena, pois serão transformados em benefícios de todos. Saúde, emprego, educação, geração de riqueza e realização de sonhos.
Conseguir modificar o ambiente político que muitas vezes é a disputa de grupos que se digladiam para se apossar daquilo que é arrecadado em benefício próprio ou dos seus próximos, desprezando os compromissos com a sociedade.