O Brasil está numa zona cinzenta. Nesta semana, até por causa do feriado de sexta-feira, Brasília está funcionando já em ritmo de meio expediente. Alguns já falam nas férias natalinas. Mas o país está paralisado, sem rumo, sem perspectiva. O governo não consegue demonstrar que pode conduzir a retomada da economia. Não inspira confiança. A disputa pelo PSL pode servir como exemplo. Se a base parlamentar de Jair Bolsonaro já era pequena, a criação de um novo partido – controlado pela família do presidente – traz ainda mais insegurança. Deverá ter enorme dificuldade para se legalizar a tempo de concorrer nas próximas eleições municipais. Por outro lado, até a formalização efetiva do partido, haverá inúmeras pendências legais sobre os fundos partidário e eleitoral, além dos questionamentos acerca dos mandatos dos parlamentares eleitos pelo voto proporcional. Acusações certamente serão trocadas de parte a parte. Mas nada no campo ideológico, programático ou referente às ações de governo. O foco – o que está em disputa – é o dinheiro, dinheiro, registre-se. Contudo, no campo congressual, o governo deverá terminar o ano mais fraco do que quando começou, o que é um mau sinal.
Já o presidente faz de tudo para enfraquecer a institucionalidade. Estimula os filhos a constantemente atacarem os fundamentos do Estado democrático de direito. Isso, claro, produz ainda mais instabilidade. O país perde dias e dias discutindo afirmações disparatadas. É um péssimo sinal aos investidores estrangeiros. O fracasso do megaleilão do pré-sal é uma clara evidência de que externamente há uma preocupação com os rumos políticos do Brasil. Há uma sensação de que Jair Bolsonaro não consegue ser o dirigente necessário ao país neste momento de grave crise econômica. Não há, no mundo ocidental, por exemplo, um presidente que poste um vídeo como aquele do leão e as hienas. Sinaliza que o país está à deriva. E a irresponsabilidade é permanente. Basta acompanhar, nesta semana, a invasão da embaixada da Venezuela. Viola os princípios básicos da diplomacia. Já é um fato grave. Pior ainda foi o apoio de Eduardo Bolsonaro aos invasores, insinuando – tendo em vista que os filhos são meros agentes do pai – que o governo estava ciente e apoiou o ato criminoso – recordando que a inviolabilidade territorial de uma representação diplomática não pressupõe concordância com o governo. A situação é ainda mais grave tendo em vista a reunião dos Brics, criando mais um enorme constrangimento diplomático.
Jair Bolsonaro é o fator maior da instabilidade política. Não consegue ser o presidente da República. Conduz os negócios públicos de forma pueril. Reage aos fatos sem a mínima mediação. Vive tensionado. Nota-se que ele sente que está em uma posição muito acima do que poderia estar. Tem dificuldade para tratar os temas de Estado. Não lê os projetos. Tem um conhecimento primário das questões nacionais. Não suporta as exigências do cargo. Para ele, a Presidência é um fardo. O mais preocupante é que ainda tem pela frente pouco mais de três anos de governo. E a pergunta não é se ele suportará concluir o mandato, mas como as inevitáveis questões econômicas e sociais que aguardam soluções – e não é de hoje – vão resistir à inépcia presidencial.
Neste cenário marcado pela abulia, que já é extremamente preocupante, fica ainda pior com a libertação (temporária?) de Lula. O velho caudilho petista continua o mesmo. Tudo quer decidir. O PT é seu mero instrumento. Não tem vida própria. No discurso em São Bernardo, em momento algum fez qualquer autocrítica. Sobre o petrolão ou mensalão, nenhuma palavra. E em relação à corrupção nos 13 anos de governos petistas, comprovado em dezenas de condenações? Silêncio absoluto. Mais que silêncio, é a tentativa de negar que existiu o maior desvio de recursos públicos da história. Aquilo que, em um voto na Ação Penal 470, o ministro Celso de Mello denominou, com propriedade, de projeto criminoso de poder. Lula deve percorrer o Brasil representando o papel de dom Sebastião, bem ao gosto da tradição brasileira. Vai colar? Pode dar certo. Joga com a permanente ação antirrepublicana de Bolsonaro. Nunca na nossa história um personagem precisou tanto de um oposto para estar presente no primeiro plano da cena política. E no teatro atual ele representará o papel reservado à estabilidade e Bolsonaro o da instabilidade.
O que menos importa para Lula e Bolsonaro é o Brasil. Isso é absolutamente secundário. Esta é a hora de os setores responsáveis da política, economia e da sociedade civil assumirem o protagonismo político. Não é possível deixar o país entregue a duas lideranças nefastas à nossa nacionalidade. A omissão pode custar muito caro. É urgente politizar a discussão dos grandes problemas nacionais, isolando os caudilhos de ópera bufa. O Brasil não pode ficar submetido a aventureiros sem qualquer responsabilidade com o nosso destino.