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Coronavírus acelera discussão sobre adesão ao capitalismo stakeholders

A supremacia dos 'shareholders', ou acionistas, dá espaço aos 'stakeholders', termo que identifica as partes interessadas ou afetadas por uma empresa


postado em 25/04/2020 04:00 / atualizado em 25/04/2020 10:34

Fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab questinou e artigo qual tipo de capitalismo que queremos (foto: Fabrício Caprini/AFP - 20/1/20)
Fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab questinou e artigo qual tipo de capitalismo que queremos (foto: Fabrício Caprini/AFP - 20/1/20)

 
Nenhum novo modelo econômico é capaz de substituir o capitalismo e ficar em pé sozinho, o que não quer dizer que derivações não possam coexistir como parte de um processo de evolução. A pandemia global da COVID-19 vem acelerando esse debate e fortalecendo práticas capazes de mudar o sistema operacional do capitalismo como bem conhecemos, de extrativista para colaborativo. E então volta à tona o Capitalismo 'Stakeholder' ou Economia 'Stakeholder', conceito resgatado no Fórum Econômico Mundial 2020, realizado no início deste ano em Davos.
 
A supremacia dos “shareholders”, ou acionistas, dá espaço aos “stakeholders”, termo que identifica as partes interessadas ou afetadas por uma empresa, como funcionários, fornecedores, clientes, comunidades e meio ambiente. Esse seria um momento de iniciar uma jornada de realinhamento dos negócios como ferramenta para melhorar o mundo e, consequentemente, melhorar as chances de empresas sobreviverem nas próximas décadas. Estamos falando aqui, também, de sustentabilidade financeira.
 
O lucro passa a não ser o único objetivo de um negócio, uma vez que ele precisa garantir a sua oferta, mas também suprir as demandas de sua cadeia. Afinal de contas, empresas e nações sobrevivem com pessoas ganhando e gastando dinheiro. Além disso, a geração lucro e valor para os acionistas, a qualquer custo, não são mais aceitos como comportamento comercial adequado à atualidade, especialmente pelas novas gerações.
 
Trazendo o contexto do isolamento social, doar cestas básicas e produtos de limpeza é o mínimo esperado, mas é preciso ir além, como converter parte do lucro ao desenvolvimento contínuo da comunidade. Ajudá-la a prosperar também fará o mesmo pela empresa, conforme destacou o fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, em um editorial recente, quando questionou que tipo de capitalismo queremos.
 
Em 2018, o livro Conscious Capitalism Field Guide apontou que empresas que aplicam fundamentos do capitalismo consciente geram resultado financeiro sete vezes maior à média de mercado, medido pelo índice da consultoria Standard & Poor's (S&P), composto por 500 ativos cotados nas bolsas NYSE e Nasdaq, em um prazo de 20 anos. No ano passado, 183 líderes de empresas norte-americanas assinaram manifesto propondo como prioridade gerar resultado para todas as partes interessadas em vez de lucro apenas para os acionistas.
 
Junto com as mensagens de Davos sobre o Capitalismo Stakeholder, o presidente da BlackRock, uma das maiores administradoras de patrimônio dos Estados Unidos com mais de US$ 6 trilhões em ativos, Larry Fink, destacou a necessidade de as empresas regenerarem e não só gerar resultado para acionistas.
 
“A Economia 'Shareholder' nos trouxe desigualdade e crise climática”, destacou Marc Benioff, fundador e presidente da gigante Salesforce. “A Terra é o nosso maior stakeholder”, completou em participação, em Davos, no painel “Economia Stakeholder: O que esperar das lideranças corporativas?”. A conversa também contou com a participação de Feike Sybesma, presidente da DSM, empresa global de ciências que desenvolve soluções para nutrição, e “líder climático global” pelo Banco Mundial. Ele ecoou a ideia do planeta Terra como stakeholder e criticou o modelo velho de capitalismo. “Nós servimos ao modelo econômico ou o modelo econômico serve a nós?”, questionou. “Ninguém irá ter sucesso em um mundo que está ruindo.”
 
Há o reconhecimento, de um lado, que o capitalismo foi excelente para produzir riqueza, mas falhou em sua distribuição. De outro lado, o socialismo foi excelente na distribuição da riqueza, mas falhou em sua produção. Essa polarização entre os extremos pode impedir que outras possibilidades sejam enxergadas. O ego e a busca de resultado de curto prazo são colocados como os maiores vilões dessa perda de rumo. Ou, nas palavras de teóricos, a boa governança corporativa tem a ver hoje com entendimento de papéis e responsabilidades, prestação de contas da empresa para todos, dos shareholders aos stakeholders. 
 
Pílulas

  • Cartões de vale-refeição e alimentação passam a ser aceitos em pagamentos on-line em aplicativos de delivery de comida. No iFood, por exemplo, a medida é válida para as bandeiras Alelo, Sodexo e VR.
  • Nada de empréstimo. A startup Xerpa trabalha em parceria com empresas que querem oferecer o benefício do adiantamento salarial a seus funcionários sem impactar as suas contas. Saiba mais em xerpa.com.br.
  • A startup belo-horizontina Gooders, plataforma de marketing digital, criou o Festival Digital de Conteúdo Popular, para estimular geração de renda. Para saber mais e participar acesse festivalgooders.com.br
  • Na Alctel, empresa mineira de tecnologia da informação e comunicação (TIC), a demanda de serviços para auxiliar empresas na organização do home office aumentou cerca de 70% desde o início da pandemia. É uma tendência que veio para ficar.

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