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Estado de Minas fora da caixa

Mercado de trabalho: empreender no Brasil passou a ser necessidade

Com menos empregos, criar um negócio próprio tornou-se opção de sobrevivência de expressiva parcela dos brasileiros


postado em 13/06/2020 04:00 / atualizado em 13/06/2020 08:15

Com desemprego batendo recordes, milhares de brasileiros procuram se reinventar para dar conta das despesas(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 1/5/18)
Com desemprego batendo recordes, milhares de brasileiros procuram se reinventar para dar conta das despesas (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 1/5/18)
O contingente de trabalhadores com carteira assinada é cada vez menor. De outro lado, a quantidade de cadastros de pessoas jurídicas (CNPJs) é cada vez maior. São duas informações distintas que, quando reunidas em um mesmo contexto, permitem uma série de interpretações. Uma delas foi escancarada durante a pandemia da COVID-19: para alguns, empreender é uma oportunidade; para muitos, necessidade.
 
Enquanto empresas demitem para economizar e criam comitês internos de inovação, pessoas sem renda para sobreviver são obrigadas a ser criativas sozinhas. O novo negócio precisa dar certo antes do vencimento do próximo boleto, antes ainda da próxima refeição. É uma mostra da desigualdade social sustentando o lado mais perverso do capitalismo.
 
Uma realidade já sofrida por tantos e que está sendo intensificada não pode ser considerada um “novo normal”. A taxa de desocupação no Brasil passou de 11,2% para 12,6% no trimestre terminado em abril, atingindo 12,8 milhões de desempregados. Com isso, são 898 mil pessoas a mais à procura de trabalho em meio à pandemia, de acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada em 28 de maio.
 
A analista da pesquisa Adriana Beringuy destacou que o emprego com carteira assinada no setor privado no país teve queda recorde. “A gente chega a abril com o menor contingente de pessoas com carteira assinada, que é de 32,2 milhões”, afirmou. Ela também apontou que a massa de rendimento real teve a maior retração da série histórica. “É uma queda de 3,3%, o que significa que em um trimestre a retração foi de R$ 7,3 bilhões.”


MAIS RECORDES
 
O Brasil teve uma abertura recorde de empresas no primeiro trimestre de 2020: 847 mil. Foram fechadas 292,4 mil, o que resultou, ao fim de março, em 18,287 milhões de empresas ativas no país. Os dados fazem parte de levantamento lançado pelo governo federal, chamado Mapa de Empresas.
 
O estudo mostra ainda que as atividades econômicas mais exploradas no primeiro trimestre do ano foram cabeleireiro, manicure e pedicure (45,4 mil empresas abertas; 815,7 mil ativas no total); comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios (42,9 mil abertas; 1,1 milhão ativas); promoção de vendas (36,1 mil abertas; 358,5 mil ativas); obras de alvenaria (29,9 mil abertas; 473,4 mil ativas); e fornecimento de alimentos preparados preponderantemente para consumo domiciliar (23,4 mil abertas; 264,6 mil ativas).


OUTRA MARCA HISTÓRICA
 
O Brasil deve atingir neste ano o maior patamar de empreendedores iniciais dos últimos 20 anos, com aproximadamente 25% da população adulta envolvida na abertura de um negócio ou com um negócio de até 3,5 anos de atividade, segundo a pesquisa Global Entrepreneuship Monitor (GEM), realizada com o apoio do Sebrae. “Esse número, segundo nossa projeção, será puxado pelas mulheres, pelas pessoas negras, em geral, os grupos que mais costumam ser afetados pelo crescimento do desemprego”, afirmou o presidente do Sebrae, Carlos Melles.
 
Quase 90% dos empreendedores iniciais brasileiros concordam, total ou parcialmente, que a escassez de emprego constitui uma das razões para desenvolver a iniciativa empreendedora com a qual estão envolvidos. Em comparação aos outros 54 países que participaram da pesquisa, o Brasil está entre os 10 que mais consideram a escassez de emprego como fator motivador para empreender, junto de África do Sul e Índia.


RAÇAS E GÊNEROS
 
A Pnad, referente a 2019, apontou ainda a permanência das discrepâncias entre o rendimento médio mensal real em relação ao trabalho das pessoas brancas (R$ 2.999, 29,9% superiores à média nacional), pardas (R$ 1.719, 25,5% inferiores) e pretas (R$ 1.673, 27,5% inferiores). O rendimento dessa última parcela é quase um terço a menos do que o da média nacional.
 
Já o rendimento médio dos trabalhadores com ensino superior completo (R$ 5.108) era, aproximadamente, três vezes maior que o daqueles com somente o ensino médio completo (R$ 1.788) e cerca de seis vezes o daqueles sem instrução (R$ 918).
 
As interpretações em relação às várias pesquisas podem ser muitas, mas peca quem diz que a COVID-19 não discrimina. As diferentes análises trazem uma constatação: há grupos mais desprotegidos e vulneráveis. Comprar de alguém que passou a vender máscaras de tecido, comida caseira ou pijama de flanela, e receber o produto das mãos de um motoqueiro, não é só uma oportunidade para você, é atender a necessidade do outro.
(foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
(foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)
 
“A pandemia chegou de um dia para o outro afetando emocional, social e economicamente, exigindo uma redescoberta desesperada por comportamentos, serviços e produtos que façam sentido e sobrevivam a isso tudo.”

Barbara Olivier
diretora-executiva de inovação e tecnologia na Afferolab.

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