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Dia de ser criança

O melhor presente de todos, porém, é o seu tempo. Ofereça meia horinha do seu dia para ele"


02/10/2022 04:00

Ilustração

 
Que tal dar ao seu filho um Dia das Crianças diferente em 12 de outubro? Sim, você pode comprar um presente para marcar a data, mas por favor acrescente um algo a mais no pacote. Pode ser um abraço de urso, demorado, sem celular na mão. Vale também elogiar o seu jeito alegre e amigo,  aquela nota boa na prova, o topete sem sair um fio do lugar.  
 
O melhor presente de todos, porém, é o seu tempo. Ofereça meia horinha do seu dia para ele. Sente-se no chão, desligue o telefone e o ajude a curtir o brinquedo que ele acabou de ganhar. Brinquem juntos. Acredite, ele nunca mais se esquecerá desse dia. 
 
Após viverem esse momento feliz, diga ao seu filho que você também quer um presente dele. No lugar do brinquedo novo, você gostaria que ele desapegasse de outro, que está ocupando lugar no armário e com o qual ele já não brinca mais. É uma dica de ouro: sempre que entrar uma roupa ou sapato novos no armário, retire um item igual que já não serve mais em você.
 
Quanto ao brinquedo, explique que o presente não é para você. Na verdade, você gostaria de entregar para outra criança que não tem tantos brinquedos como ele e que também iria gostar de ganhar um carrinho ou uma boneca diferente. Isso seria bem legal, não acha? 
 
Dependendo da idade ou do temperamento do seu filho, pode acontecer de ele querer ‘desapegar’ de algo inútil, como uma rodinha que soltou do carro ou daquele boneco do super-herói que perdeu uma perna ou a cabeça. É assim mesmo. O desapego é um processo.
 
Não se preocupe com isso. Vai chegar o dia em que ele, sem consultar os pais, vai abrir mão de um de seus carros preferidos, aquele que faz barulho, imitando o motor do Porsche. E ele irá entregar espontaneamente o objeto para o menino que bateu o interfone pedindo comida, trazido pela mãe dele. 
 
É possível que, alguns dias depois do ocorrido, seu filho decida revelar a você que já está crescendo e que não tem mais vontade de brincar com carrinhos. E, nesse dia, apesar de você já começar a sentir saudades do seu pequeno, ficará aliviado porque conseguiu curtir uma parte boa da infância dele.  
 
Voltando aos brinquedos usados, suficientes para lotar até o trenó do Papai Noel, você irá procurar uma entidade para fazer uma doação na Semana das Crianças. E você descobrirá que a vida é mesmo um ciclo. No lugar da infância de seus filhos, surgiram as 115 crianças de Raposos, atendidas pela Associação Arte de Educar. 
 
Foi uma aventura a ida a Raposos, a 35 quilômetros de BH. Já na chegada, o coordenador William Figueiredo solicita a todos que se apresentem, dizendo o seu nome. Sugiro que eles, além de falar o nome, digam uma palavra ou algo que consideram importante colocar na roda.
 
Puxo o coro das crianças, começando com a palavra amor. Na minha ingenuidade, achei que se seguiriam menções a esperança, alegria e a paz. Teria sido lindo do mesmo jeito, mas as crianças de Raposos desejavam mais do futuro. Elas sabiam o que queriam.
 
Uma a uma, as crianças fizeram os seus pronunciamentos diante da plateia. O primeiro a falar foi um garoto de 7, 8 anos. Sem nenhuma timidez, com o olhar firme e pescoço erguido, ele foi logo exigindo o ‘fim ao racismo’. Daí em diante, vieram pedidos de ‘respeito’, ‘não ao bullying’ e o ‘fim  da violência contra a mulher’.  
 
Então, chegou a vez da linda garotinha, com seus 5 anos, vestida com um casaco com estampa de onça. Tímida, ela não conseguia se expressar em público. Eu me agachei ao lado dela e perguntei: “Qual palavra você gostaria de dizer, querida? Se não quiser falar nada, tudo bem”. Ela pensou, pensou, e depois sussurrou no meu ouvido: “Deus”.
 
Foi um momento emocionante. Como a alma das crianças é sábia !!! A menor palavra dita foi, ao mesmo tempo, a maior de todas. 

Obs.: No @projetoartededucar, as 115 crianças moram com suas famílias, mas passam as horas vagas na entidade, que fornece lanche, reforço escolar e atividades como teatro e futebol.  O coordenador visita cada casa para checar se os meninos estão estudando ou se são vítimas de violência doméstica. Sem apoio governamental, o projeto vive de doações de biscoitos, leite e achocolatados e frutas para o lanche. O telefone para contato é 98776-0949.

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