Juscelino Filho sabe que mesmo com a defesa do Ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP), o pedido público de sua cabeça por Gleisi Hoffmann não foi uma bravata isolada. Para relembrar: Juscelino foi pego viajando em avião oficial e recebendo diárias para ir a eventos ligados à sua paixão por cavalos. Gleisi pediu afastamento imediato, Padilha disse que já viu “muita gente afastada por prejulgamentos injustos”.
Manter o partido do Ministro Juscelino sob pressão é importante para o presidente. Mesmo não sendo oficialmente da base do governo, o União Brasil foi agraciado com três ministérios na Esplanada com a promessa de trazer votos preciosos para aprovação de pautas relevantes. No entanto, o que vem aparecendo nas declarações e atos das lideranças é que o ímpeto de apoio a Lula simplesmente não existe.
Nem o presidente e nem seu ministro podem falar do afastamento de Juscelino. Gleisi pode. O que vai tirá-lo ou não da cadeira não é a presidente do PT, mas o fato de o União Brasil entregar ou não seus cargos. Isso vale para a ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União-RJ), e para o ministro da Integração Nacional, Waldez Góes (que ainda é do PDT, mas ficou na cota do União). É bastante provável que Daniela e Waldez entrem na mira de Gleisi em breve também.
Dinâmica semelhante ocorreu no episódio da reoneração dos combustíveis. A presidente do PT chegou a afirmar que a ação seria descumprir uma promessa de campanha, gerando uma desavença pública com o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP). O presidente Lula aparentemente apoiou Haddad, e a reoneração ocorreu.
No entanto, não existia uma disputa entre Gleisi e Haddad neste caso. O presidente precisava de um contraponto público à uma medida impopular. Pode até nem ter sido combinado, mas as declarações de Gleisi serviram para marcar em Haddad a reoneração e diluir um pouco o desgaste do presidente.
Tanto no caso do ministro Juscelino ou no da reoneração dos combustíveis, pouco importa se Gleisi “vence” ou não o debate público. Ela cumpriu seu papel de expressar o que a base do PT pensa. Ser um verdadeiro alter ego petista.
É provável que, por vezes, esse alter ego gere mais problemas do que traga vantagens ao longo do mandato. Porém, a psicanálise ensina que é melhor reconhecer sua existência, acolhê-lo e controlá-lo, sob pena de ser controlado por ele.