Belo Horizonte sempre foi notícia. Nascido e criado na cidade, o Estado de Minas tem um olhar cuidadoso sobre a capital e seus moradores. Da evolução de BH aos desafios da urbanização, passando por eventos que movimentam a população, são 90 anos de cobertura do dia a dia da metrópole. A construção de bairros, obras viárias, dramas da população, conquistas e frustrações, tragédias, visitas ilustres, festas, tudo o que diz respeito à cidade erguida para ser a capital do estado foi registrado nas páginas do jornal. Abaixo, uma seleção de fatos ocorridos nas últimas nove décadas que mobilizaram equipes de reportagem.
Solução Pampulha
Em 1936, Belo Horizonte sofria com o problema de fornecimento de água para a população. O então prefeito Otacílio Negrão de Lima tem a ideia de iniciar o represamento do Ribeirão Pampulha, com o objetivo de construir uma lagoa, cuja finalidade seria amortecer enchentes e contribuir para o abastecimento da capital. A obra foi concluída em 1943 na gestão de seu sucessor, Juscelino Kubitschek, que, com planos de modernização da cidade, aproveitou a lagoa para construir um projeto arquitetônico mundialmente famoso, desenhado por Oscar Niemeyer, aliado a uma imensa estrutura de lazer. Uma ampla cobertura mostrou o passo a passo da construção do complexo arquitetônico, o que atendia plenamente aos anseios dos leitores, ansiosos por receber uma obra de vulto, que os fizesse orgulhosos.
Tão orgulhosos que, em 2016, ganhou o título mundial de patrimônio.
O texto da reportagem na edição on-line de 17 de julho de 2016 começava assim: “Deu Pampulha na cabeça. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconheceu na manhã deste domingo em Istambul, Turquia, o conjunto moderno de Belo Horizonte, projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012), como Patrimônio Cultural da Humanidade. A reunião da 40ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, para discutir a candidatura da Pampulha, seria realizada ontem, mas, devido à tentativa de golpe de estado na Turquia, teve que ser suspensa, com todos os representantes dos países visitantes, inclusive do Brasil, orientados a não sair dos hotéis em que estavam’’. Fazem parte do conjunto arquitetônico da Pampulha a Igreja de São Francisco de Assis, a Casa Kubitschek, o Iate Tênis Clube, o Museu de Arte da Pampulha e a Casa do Baile.
Ainda sem água
Mas o problema da água continuou. Projetos e mais projetos surgiram, mas somente na década de 1960 viria o que resolveria o problema: a canalização do Rio da Velhas e a construção de uma adutora, que termina no Bairro São Lucas. A conclusão da obra demorou cerca de 15 anos. Nesse tempo, os bairros da Região Leste de BH sofreram com a falta de água. Os leitores procuravam o Estado de Minas para chamar a atenção para o problema e sensibilizar o poder público na aceleração das obras.
povo nas ruas
Final trágico
Mais recentemente, a Copa do Mundo de 2014, com BH como uma das sedes dos jogos. Foi envolvida toda a equipe de reportagem, dos jornais impresso e on-line, para a cobertura dos jogos e das seleções que aqui estiveram, além da movimentação de estrangeiros, quando havia uma verdadeira romaria entre as praças da Liberdade e Diogo Vasconcelos (Savassi). Os dois pontos foram os campeões de visitação por parte dos torcedores. Apesar do triste desfecho em BH, marcado pela histórica derrota do Brasil para a Alemanha, por 7 a 1, no Mineirão, a cidade caiu no gosto dos turistas.
Foi também nesse período que ocorreu uma das maiores tragédias da história de Belo Horizonte – a queda do Viaduto Batalha dos Guararapes, na Avenida Pedro I, em 3 de julho de 2014, atingindo um micro ônibus, um carro e dois caminhões. Duas pessoas morreram e 23 ficaram feridas. Minutos antes, a Seleção da Argentina, com Messi, havia passado debaixo dessa construção. Cerca de 60 jornalistas, entre repórteres, editores, fotógrafos e diagramadores trabalharam nessa cobertura, que teve como uma das reportagens “Luto cancela festa da Copa em Belo Horizonte”.
Tesouro da cidade
São muitos os tesouros escondidos em Belo Horizonte. Um deles é um vitral que conta parte da história do Estado de Minas, quando a sede era na Rua Goiás, 36, no Centro. A peça ficava na entrada principal, que dava acesso às salas dos diretores. A obra de 1977, do artista plástico Pedro Miranda, é uma ilustração da antiga rotativa, com um de seus operadores. Esse vitral permaneceu no prédio e foi retirado de seu lugar de origem, estando hoje servindo como parede de isolamento, junto a um banheiro, e não é visto por ninguém, pois, além de estar na parte interna do prédio, foi colocado com a imagem virada.
nós e ela
Saudade do bonde
“Crescer é algo particular dos tempos urbanos. Entristece é ver como Belo Horizonte perdeu personalidade e uma beleza muito própria nas últimas décadas que o Café Nice presenciou e acompanhou. Era um garoto quando entrei aqui pela primeira vez e comecei a ver as transformações de uma cidade que abrigou os fícus, o bonde elétrico, uma única linha de ônibus e o estacionamento liberado ao longo do asfalto da já movimentada Afonso Pena. O Centro e os bairros tradicionais, como o Floresta, caminhos iluminados que cruzei de dia e na madrugada, tinham os seus cinemas de rua e as grandes magazines. As pessoas eram mais educadas, exigentes e elegantes. As famílias vinham passear, ver as vitrines nas noites tranquilas, interagindo com BH. Lamento que as grandes lojas e os cinemas tenham sumido e a dificuldade que o Centro tem, hoje, de criar atrativos para a população. Entristece ver o aumento da pobreza. Quem sabe se a política melhorar e houver mais consciência, será possível revigorar o Centro, com bons projetos? Temos exemplos como o Cine Theatro Brasil e a reforma do antigo prédio do Bemge para receber startups.”
Renato Moura Caldeira, sócio-proprietário do Café Nice, há 44 anos à frente da octogenária lanchonete na região da Praça Sete
O som dos tambores
“Minha história se confunde com a história da cidade. Escolhi ficar em Belo Horizonte na época em que todo mundo me incentivava a ir para o Rio ou São Paulo. Sempre tive muito medo de sair, mas isso foi bom, porque me deixou dentro da história daqui. Isso está no livro De Camarões: veredas de Mauricio Tizumba, que acabei de lançar. Toquei em mais de 150 bares de Belo Horizonte, e os bares na década de 1970 tinham outros valores. Então, imagina, conhecer gente de tudo quanto é jeito... A noite era muito prazerosa. Antes de ser artista, trabalhei na construção. Conheci toda a periferia, e, como músico, toquei em toda a região metropolitana. Sou belo-horizontino nato, coisa rara de ver, pois grande parte das pessoas que moram em BH é de fora. As pessoas me amam muito em BH, mas, apesar disso, não deixa de ser uma grande cidade racista. E os tambores batem aqui durante o ano inteiro. É uma tradição muito grande no estado. só na Região, Metropolitana de BH, temos cerca de 65 grupos de congado.”
Maurício Tizumba, ator, cantor, compositor e percussionista
Obrigado, mineiros!
“Divido minha vida em duas partes. Na primeira, antes de ser atleta profissional, eu só pensava em me divertir com os amigos de infância no Rio, onde nasci. Depois, como profissional, tudo mudou completamente, me tornei bem mais responsável. E Belo Horizonte é fundamental nisso. Cheguei em 1973 para defender o Cruzeiro, encontrei minha esposa, tivemos três filhas, constituí família, já tenho dois netos e outros dois estão a caminho. Finquei o pé aqui, tenho uma academia aqui, que é de onde tiro o sustento depois que parei de jogar. Tudo que tenho agradeço aos mineiros, especialmente aos cruzeirenses e atleticanos. BH foi uma dádiva na minha vida, um lugar ótimo para se viver. Quando perguntam, digo que nasci no Rio, mas sou mineiro, belo-horizontino. O trânsito piorou, a cidade cresceu bastante, mas isso é inevitável. É uma cidade muito boa para se viver, sem dúvida.”
Nelinho, ex-jogador do Cruzeiro, do Atlético e da Seleção Brasileira
Cápsula do tempo
“BH a capital do século.” Essa foi a manchete de capa do Estado de Minas em 12 de dezembro de 1997, quando a cidade completou 100 anos. Em todos os cadernos, parte da história da cidade, mostrando que a capital mineira estava pronta para o futuro. Um baú, com documentos desde a fundação da metrópole, foi enterrado no Parque Municipal Américo Renê Giannetti. E ainda, uma viagem por fatos e personagens, como o “Santo Milagreiro”, relembrando o Padre Eustáquio e os políticos famosos, como JK. Na cultura, músicos, peças, shows, teatro e eventos que ficaram na memória da cidade.
Em 2017, nos 120 anos de Belo Horizonte, o EM desenvolveu o projeto BH120, que envolveu profissionais de toda a redação em edições especiais. Um encontro de gerações, as paixões no futebol, o legado dos grandes escritores, o abastecimento de água e a ocupação do espaço urbano estiveram entre os temas apresentados em formato multimídia.