O diálogo da selfie com a velha fotopintura inspira a exposição Deslimites da memória, que reúne 56 obras do fotógrafo mineiro Cyro Almeida, de 35 anos, e do cearense Júlio Santos, de 75, um dos últimos fotopintores vivos do Brasil. Contemporâneo e tradição se unem nesta mostra, que ficará em cartaz a partir de sábado (7) no Museu Mineiro, em Belo Horizonte. A curadora é assinada pela artista portuguesa Ângela Berlinde.
Técnica muito difundida no interior do país no século 20, a fotopintura empresta cores e retoques a retratos em preto e branco. “Recriações do Mestre Júlio foram pintadas com tinta a óleo e pastel sobre fotografias feitas por mim em 2016 e 2017”, explica Cyro. Os modelos são jovens e adolescentes exibindo atitudes e expressões como aquelas postadas nas redes sociais. “Há harmoniosa fusão entre passado e presente”, comenta o fotógrafo.
Cyro Almeida tem 10 anos de carreira. Mestre Júlio Santos completou seis décadas de ofício. “Ele começou ainda menino com a técnica da fotopintura e nunca a abandonou. Nossas idades são importantes, pois nosso trabalho tem como eixo fundamental o encontro de vários tempos distintos, das tecnologias, do modo de expressão da juventude e do tempo da visibilidade das imagens”, comenta Almeida.
O mote está na fotopintura, mas o enfoque é contemporâneo. “Quando pensamos nessa linguagem, geralmente a associamos a pessoas de gerações anteriores à nossa. No entanto, a grande virada é mostrar o rosto da atualidade por meio dessa técnica em desuso neste século 21. Estão ali pessoas jovens com traços marcantes da contemporaneidade: piercings, cabelos coloridos ou mesmo a atitude provocativa diante da uma câmera fotográfica”, observa Cyro.
É a primeira vez que os dois artistas trabalham juntos. Na primeira etapa do projeto, o mineiro mapeou, nas redes sociais, possíveis fotografados. “Entrei em contato com eles, explicando o conceito da mostra e perguntando se estavam dispostos a participar. No segundo momento, encontrei-me com os jovens e os fotografei. Pedi a eles uma espécie de performance, uma encenação daquele rosto que, geralmente, é postado nas selfies”, conta Almeida.
Tudo foi realizado com câmera analógica e película. No terceiro momento, as fotografias em preto e branco foram levadas para o laboratório e ampliadas em papel. “Como é típico da fotopintura, a única parte ampliada no papel é o rosto. A criação do cabelo, estilo de roupa e acessórios coube ao Mestre Júlio”, comenta Almeida.
DESLIMITES DA MEMÓRIA
Fotopintura. Trabalhos de Cyro Almeida e Mestre Júlio Santos. Abertura sábado (7/3), às 13h. Até 3 de maio. Museu Mineiro. Avenida João Pinheiro, 342, Funcionários, (31) 3269-1103. O espaço funciona de terça a sexta-feira, das 10h às 19h; sábado e domingo, 12h às 19h.