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Estado de Minas

Concorrência reduz preço de veículos para competir com modelos chineses

Chegada de carros da China leva montadoras instaladas no país a baixar preços e a desenvolver modelos para competir


postado em 24/05/2011 06:00 / atualizado em 24/05/2011 06:17

 

A chegada dos carros chineses ao mercado brasileiro, que começou a ganhar força no segundo trimestre, já trouxe um benefício para os consumidores: provocou a redução de preço dos concorrentes. A Ford baixou os preços do Fiesta, tanto hatch quanto sedã, e fez uma promoção igualando com os valores de dois veículos vendidos pela JAC, grupo chinês que comercializa dois modelos desde o final de março. Além disso, o principal sintoma é o fato de ter equipados os carros da promoção com freios ABS e air bags, que são de série nos chineses. A Renault também reduziu os preços do Sandero e a Citroën com o C3, mas ambas não fizeram a paridade com os equipamentos.

A estudante Fernanda Nunes com o chinês Chery QQ que comprou (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
A estudante Fernanda Nunes com o chinês Chery QQ que comprou (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Já a chegada de outro chinês, o Chery QQ – veículo mais barato vendido no Brasil (R$ 22.990)  –, incomoda as montadoras que brigam pela base do mercado, principalmente Volkswagen e Fiat, com o Gol e o Uno/Mille, respectivamente. A Fiat planeja um automóvel que concorrerá no mesmo segmento do QQ e será produzido na planta que está sendo construída em Pernambuco. A montadora não revela detalhes do novo carro, tratado apenas como Projeto 344. O presidente da Volkswagen, Thomas Schmall, já afirmou que a VW pretende produzir um modelo baseado no conceito Up!, um veículo compacto voltado para os centros urbanos e que também competirá com o QQ.

O acirramento da disputa pode ser sentida na deflação dos automóveis. De acordo com o IPCA-15, medido pelo IBGE, no ano passado os veículos novos tiveram queda de 1,81% e neste ano acumulam uma queda de 0,60%. Resultado da competição maior, que também levou à diminuição da participação dos líderes. Em 2004, quando o mercado automobilístico teve uma retomada, seis modelos (Gol, Palio, Corsa, Celta, Uno e Fiesta) respondiam por 57% das vendas. Neste ano, a participação do sexteto caiu para 36%.

O representante de vendas Vanderlei Alves é um dos responsáveis por esse fenômeno. Nessa segunda-feira ele fazia um teste-drive no J3 Turin, o sedã, da JAC, vendido por R$ 39.990 com todos os itens, incluindo freio ABS e air bag. Vanderlei tem um VW Gol e procura um modelo sedã. Olhou antes o Fiat Siena e o VW Voyage. “Por enquanto preenche todos os requisitos. Não tenho medo de novidade e esse apresenta excelentes condições”, afirma, mostrando que estava bem intencionado a comprar o veículo importado da China.

O efeito da chegada da JAC, que em dois meses no mercado nacional conta com 50 revendas, pode ser mais sentido em São Paulo, onde tem 14 concessionárias, e no Rio de Janeiro (cinco revendas). A Ford anunciou inicialmente que as ofertas do Fiesta só valeriam para as praças de Rio de Janeiro e São Paulo. Entretanto, o gerente de vendas de veículos novos da concessionária Ford Pisa, Antônio Longuinho, disse que a revenda pratica os mesmos preços em Belo Horizonte, onde os chineses da JAC tem apenas uma revenda.

Longuinho aproveitou para alfinetar os chineses: “Muita gente compra um carro desse por vaidade, para ter algo diferente, mas não sabe como será o serviço e nem o atendimento”. A estudante de educação física Fernanda Vieira Nunes não se importa com os detalhes e comprou nessa segunda-feira um Chery QQ. “Um conhecido já havia comprado um carro da marca e teve uma boa experiência. Além disso, gostei do design e por ele ser equipado com air bag e freios ABS”, afirma Nunes.

Tendência

O consultor, especialista no mercado automotivo André Belchior Torres, explica que as montadoras sempre tiveram margens astronômicas de lucro, mas com a competição com novas marcas, que se acirrou nos últimos anos, foram obrigadas a diminuir o rendimento. “A tendência é de derrubar o preço que já existe hoje. Quem ganha é o consumidor”, crava Belchior.

Segundo Belchior, algumas marcas, que tem grande parte das revendas de um único dono, como a Hyundai, que pertence ao grupo Caoa, e a JAC, do grupo SHC, podem equilibrar melhor essas ofertas, oferecendo descontos mais agressivos. “Passaram a espremer muito mais as margens dos concessionários, exigindo que eles tomassem providências para conseguir se sustentar na rede”, afirma. As providências, segundo Torres, foram investir no mercado de usados e também na venda de acessórios e na prestação de serviços.


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