O ano mal começou, mas a inflação disparou e já está doendo no bolso dos belo-horizontinos em 2012. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pela Fundação Ipead, avançou 2,60% em janeiro deste ano em comparação com dezembro do ano passado. É a taxa mais alta para janeiro nos últimos 10 anos. Em 2002, em igual período, o IPCA fechou com uma alta de preços de 0,84%. Em janeiro do ano passado, o índice foi de 2,17%. Os preços que mais subiram foram os dos produtos do grupo despesas pessoais (5,52%), seguidos pelos produtos in natura (5,18%), produtos não alimentares (3,04%), encargos e manutenção (2,76%) e serviços públicos (2,32%). Em 12 meses, a inflação acumulada na capital chegou a 7,68%.
Em relação aos produtos e serviços individualmente, as cinco altas que mais pesaram para o avanço do dragão na capital mineira em janeiro ficaram concentradas no pagamento de serviços de empregado doméstico (14,13%), IPTU (6,56%), ônibus urbano (7,03%), mensalidades escolares de nível universitário (8,37%) e do ensino fundamental (11,46%). Em termos de contribuição para o IPCA de janeiro, esses itens contribuíram com 0,62, 0,33, 0,28, 0,21 e 0,19 pontos percentuais, respectivamente
Mesmo assustando os consumidores, esse avanço de preços é considerado sazonal, uma vez que janeiro concentra muitos fatores que induzem à carestia: aumento do salário mínimo, da passagem de ônibus, das mensalidades e material escolar e do IPTU. “O índice foi bem mais alto do que o esperado, mas essa foi uma variação esporádica, que não pode ser tomada como tendência inflacionária para 2012”, pontua o diretor adjunto da Fundação Ipead, Wanderley Ramalho.
O problema é que Belo Horizonte vem sendo sistematicamente castigada pela inflação. Basta dizer que o IPCA-15 de janeiro, índice que mede a prévia da inflação oficial de todo o Brasil, fechou em 0,65%. No fim do mês, deverá ficar em 0,55%, segundo estimativas de mercado. A auxiliar de serviços gerais Elizabeth Pereira e a professora Célia Regina de Freitas já sentiram a fisgada. “Os preços dos alimentos subiram e o material escolar nem se fala. Tenho uma filha de 12 anos que estuda em escola pública. Gastei R$ 230 comprando mochila, cadernos, lápis e borracha”, reclama a primeira. “A gente vê que tudo sobe. Meus filhos trabalham numa papelaria e chegam em casa horrorizados com os valores que os pais estão gastando com a lista de material”, observa a segunda.
Além disso, a trajetória da inflação em Belo Horizonte e no Brasil seguiu direções diferentes. “O IPCA-15 mostra que o resultado para o país foi ligeiramente favorável. O preço da gasolina caiu e o do álcool vai cair até o fechamento de janeiro” aposta. Para o resto do ano porém, ele não vê trégua significativa nos preços “Em fevereiro haverá uma desaceleração, mas o cenário está longe de ser tranquilo no que se refere à inflação de 2012”, diz. Ele lembra que haverá pressão de preços por conta da demanda interna aquecida e que o próprio aumento do mínimo é um combustível para a aceleração do consumo. “O governo tem dado sucessivos sinais de que em busca de um crescimento de 4% vai impulsionar a demanda. A meta da inflação deixou de ser uma prioridade política, mas de qualquer maneira, a inflação de janeiro deverá ser uma das priores do ano.
Taxas de juros têm redução na ponta
Se a inflação está em alta, os juros cobrados na ponta do consumo já estão caindo. Segundo levantamento da Fundação Ipead, em janeiro de 2012 as taxas de juros ao consumidor encolheram até 17,23% em Belo Horizonte entre dezembro de 2011 e o mês passado. A maior queda ocorreu nas taxas praticadas pelo setor alimentício, reduzidas em mais de 17%. Os juros cobrados pelas financeiras independentes estão 16,74% menores. O financiamento de automóveis novos também ficou mais barato: as taxas pré-fixadas pelas montadoras encolheram 3,70% e as pré-fixadas multimarcas 7,69%. O juro do cheque especial ficou, em média, 1,17% mais leve. A própria taxa básica de juros da economia encolheu 1,17% em janeiro deste ano.
“Como era esperado, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) promoveu mais um corte na taxa básica de juros da economia trazendo-a para 10,5% ao ano em sua reunião de janeiro”, observa o diretor adjunto do Ipead, Wanderley Ramalho. Na avaliação dele, uma leitura atenta da ata mostra que o Copom acredita haver ainda espaço para continuar com a flexibilização da política monetária, uma vez que atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic deslocando-se para o patamarde um dígito”, diz.
Ele lembra, porém, que o Copom deixa claro não acreditar em descompasso entre oferta e demanda capaz de pressionar a inflação. Por outro lado, chama a atenção para uma possível ameaça ao processo inflacionário brasileiro que decorreria de reajustes salariais acima dos que seriam recomendados pela análise da produtividade dos diversos setores. “Do ponto de vista do consumidor, a recomendação continua sendo um uso bastante seletivo das diversas alternativas de crédito disponíveis uma vez que não há o que comemorar quanto à enormidade das taxas praticadas na ponta do consumo”, orienta. (ZF)