Refletindo o paradeiro do setor automotivo, fabricante instalada em Minas concede férias coletivas para ajustar os estoques. Diante da menor procura por seus produtos e a queda de dois dígitos na venda de carros no país, a Teksid, responsável pela produção de blocos de motor para mais da metade das fabricantes do Brasil, deu 10 dias de férias para cerca de 12% dos funcionários da unidade de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os trabalhadores só retornam aos postos na quarta-feira da próxima semana. Com pátios cheios, consumidores podem se aproveitar de descontos rechonchudos.
O volume de carros parados no país atingiu a marca equivalente a 43 dias de vendas – recorde desde 2008 – e, por isso, nos bastidores o restante da indústria dá sinais de que também pode parar parte da produção. No mês passado, a Mercedes-Benz deu 10 dias de férias para mais da metade dos empregados da unidade de São Bernardo do Campo, no interior de São Paulo. As vendas de caminhões foram as que sofreram maior redução no mês passado, com diminuição de 18,8% ante março e 17,8% em relação a abril do ano passado, totalizando 11,1 mil unidades. Já a venda de automóveis e comerciais leves despencou 15,5% no mês passado, em relação a março, e 7,5% em relação a abril de 2011.
A Fiat pode ser a próxima a repetir a medida. Apesar de negar a possibilidade e não ter comunicado oficialmente aos sindicatos, a montadora italiana já teria entrado em contato, por telefone, com o Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e Região para alertar sobre a possibilidade, mas ontem em reunião teria afastado essa possibilidade. Além disso, diz ser necessário fazer a confirmação com antecedência de 15 dias. Desde o mês passado, segundo o sindicato, a empresa cancelou o turno de sábado, que funcionava como hora extra. “Se a Fiat der (férias coletivas), outros fornecedores devem repeti-la. Hoje, ninguém trabalha com estoque mais”, afirma o diretor do sindicato, João Alves de Almeida. A assessoria de imprensa da montadora reitera a negativa.
Em Minas, no primeiro quadrimestre, a retração foi menos aguda que na média do restante do país, com redução nas vendas de quase 5% no comparativo com o ano passado, segundo o Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG), o que obrigou o setor a rever a previsão de crescimento neste ano. A perspectiva inicial era que o volume de carros comercializados tivesse aumento entre 3% e 5%, mas as novas metas vão de 0% a 2%.
O diretor do sindicato, Mauro Pinto, cobra a tomada de medidas urgentes para reaquecer o setor. “O mercado vem num ritmo muito lento este ano, oscilando a cada mês. A luz amarela está acesa”, diz ele, reiterando que o consumidor está com o pé atrás assistindo às mudanças promovidas pelos bancos nas taxas de juros. Ele acredita que a partir de agosto o consumidor pise para valer no acelerador das compras. “O comprador ainda está meio perdido no meio de tudo isso”, diz em relação às mudanças nas taxas.
No mês passado, bancos públicos e privados iniciaram uma série de cortes nas taxas de juros, depois de a presidente da República, Dilma Rousseff (PT), ter dado ultimato nas instituições. As taxas do Banco do Brasil, por exemplo, que oscilavam entre 1,24% e 2,3% ao mês, foram reduzidas para 0,95% e 1,99%, resultando na atração de mais clientes. Balanço da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostrou que o resultado imediato foi a maior participação do banco no financiamento de automóveis, passando de 4% para 7% do volume total em menos de um mês.
Efeito cascata
Caso as montadoras paralisem parcialmente a produção, dando férias coletivas para seus empregados, o efeito cascata deve significar perdas ainda mais significativas para setores atrelados. Seguindo a expectativa de crescimento do setor, empresas investiram na ampliação de suas estruturas, mas seguem tendo redução nas contratações. É o caso dos transportadores: no mês passado, 250 carretas foram dispensadas de trabalhos previstos. Segundo o presidente do Sindicato dos Cegonheiros de Minas Gerais, Carlos Roesel, um quarto da frota está parada devido à redução das vendas. O carregamento diário antes era de 3 mil automóveis e caiu pela metade. "O efeito da diminuição da produção já chegou a nossa cadeia. A partir do momento que as vendas caíram nas concessionárias a gente começou a sentir as mudanças", afirma o presidente do sindicato, recordando que em meados do ano passado empresas investiram esperando crescimento do mercado.
Hora de aproveitar pechinchas
Se, por um lado, o mercado está estagnado para quem vende, por outro, o consumidor que tem dinheiro em mãos pode aproveitar e pechinchar para conseguir descontos consideráveis. Sabendo negociar, o corte pode chegar a 8%, dependendo do modelo do automóvel. A economia para quem optar por comprar ainda neste mês pode chegar a R$ 4,5 mil. As montadoras também iniciaram a distribuição dos modelos 2012, o que acarreta em redução ainda maior dos preços. Mas os valores mais atrativos podem durar pouco: o mercado prevê reviravolta no setor nos próximos meses, com a oferta de taxas de juros mais baixas favorecendo o consumo.
No mês passado, o volume de vendas nas concessionárias mineiras teve redução de 19,6% no comparativo com março. A consequência foi que as revendas aumentaram consideravelmente seus estoques e foram obrigadas a negociar descontos diretamente com as montadoras. O gerente de vendas da Roma Fiat, no Alto Barroca, Mark Crepalde, afirma que a explicação para a redução brusca nas vendas é a apreensão do consumidor quanto aos rumos da taxa de juros e a expectativa é que a medida do governo federal para estimular as compras surta efeitos já nos próximos meses. “As montadoras não param de produzir de uma hora para a outra e, por isso, têm dado bônus para o consumidor”, afirma ele.
Repetindo o cenário dos pátios das fábricas, por consequência, as montadoras também estão com os estoques abarrotados. De acordo com o último balanço da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no mês passado 366,5 mil unidades estão estocadas no país. Do total, 111 mil estão nas mãos das montadoras, o equivalente a 13 dias de vendas, enquanto o restante, ou 254 mil unidades, está nas redes de concessionárias, o que representa 30 dias de vendas. “O estoque está cheio. Mas acreditamos que o segmento deve ganhar fôlego assim que os consumidores conseguirem analisar as tendências dos bancos quanto às taxas de juros”, afirma o gerente de vendas da concessionária, Mark Crepalde.
Na Roma Fiat, o Novo Uno, modelo Vivace e com duas portas, sai por R$ 23,9 mil, redução de quase 4% em relação ao preço original, enquanto o Linea, equipado com todos os opcionais, é vendido por R$ 51,9 mil, valor 8% inferior. Segundo o gerente de vendas, por enquanto, é possível escolher cores e opcionais em praticamente todas as unidades. (PRF)