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Estado de Minas

Brasil tenta acelerar a nova corrida do ouro

País pretende turbinar exploração de terras-raras, matérias-primas de grande importância para a indústria moderna. Em Minas já há desapropriação de terrenos com potenciais jazidas


postado em 13/05/2012 07:33 / atualizado em 13/05/2012 07:39

Brasília e Belo Horizonte – O Brasil se arma com novas estratégias para uma disputa histórica com a Índia para conseguir espaços em um mercado estratégico, hoje monopolizado pela China. Além de ter as principais jazidas conhecidas do grupo de minerais conhecidos por terras-raras, a segunda maior economia do mundo concentra e regula a oferta (97%) em favor de seu crescente domínio nas aplicações industriais desses insumos, geralmente ligadas a produtos de alta tecnologia.

Pesquisas indicam que o país pode até alcançar a vice-liderança no fornecimento de terras-raras, desde que invista, ao mesmo tempo, na exploração de suas ricas e variadas reservas e no florescimento local de fábricas para agregar valor a elas, ultrapassando assim a muralha chinesa. Produzindo 303 toneladas anuais, o Brasil está num magro terceiro lugar mundial, bem atrás da Índia (2,7 mil) e da líder, China (120 mil). Mas ainda tem 52 milhões de toneladas, no mínimo, para serem exploradas, patamar próximo ao chinês, de 55 milhões.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação está antenado para a importância de turbinar a exploração das terras-raras no Brasil. Fernando Freitas Lins, diretor do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), avisa que planejar a exploração desses minerais do futuro em compasso com o desenvolvimento da indústria se tornou prioridade do órgão, ligado ao ministério.

A Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais Geológico (CPRM) já mapeou a região localizada entre o Norte fluminense e o Sul capixaba e deu início a uma avaliação do potencial de terras raras em áreas do Amazonas e Roraima. A ideia é montar um quadro mais detalhado das jazidas até 2014. Mas, antes disso, cerca de 200 pedidos de lavra já foram encaminhados por empresas nacionais ao governo.

Outro sinal inequívoco da importância que a área vem ganhando está no interesse explicitado pela brasileira Vale, uma das maiores mineradoras do mundo. O presidente da companhia, Murilo Ferreira, afirma que a busca por esses minerais está no radar da empresa, que iniciou pesquisas em reservas das cidades mineiras de Araxá e Patrocínio (Alto Paranaíba). A expectativa é de começar a produção de terras-raras em 2015. Outro projeto da Vale envolve uma parceria de longo prazo com a Petrobras para garantir o fornecimento de minerais usados no refino de gasolina, hoje 100% importados da China.

Ainda este ano a multinacional canadense MBac, que produz fertilizantes no Brasil, deve iniciar a exploração de terras-raras em Minas Gerais. Na sexta-feira a Prefeitura de Araxá desapropriou o primeiro terreno da região. O proprietário recebeu R$ 298 mil por três alqueires. Ao todo, 190 hectares devem ser desapropriados pela prefeitura nos próximos meses para viabilizar a busca pelos minerais. Outros 41 hectares pertencentes à Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), responsável pelo maior complexo mínero-industrial de nióbio do mundo e localizado em Araxá, também apresentam potencial de terras-raras e devem ser explorados pela empresa.

Na próxima semana, uma comissão da MBac deve visitar a área desapropriada para avaliar as condições de exploração, segundo o prefeito Jeová Moreira da Costa. Recentemente, a companhia classificou o potencial das jazidas da cidade como “um dos mais altos níveis de óxidos de terras-raras” do mundo. Estudos apontam que é possível produzir aproximadamente 9 mil toneladas dos metais por ano na região e quase um quarto do material é composto por elementos que devem ter aumento considerável de valor de mercado nos próximos anos, como neodímio, európio e disprósio. Com isso, a multinacional inclusive cogita a possibilidade de o produto tornar-se o principal foco da empresa no país, deixando em segundo plano os fertilizantes.

País quer ser destaque da década

O resultado da aposta em um forte avanço do Brasil, que já foi o maior produtor do mercado de terras-raras e hoje tem 1% dele, pode ser a presença do país nas atividades mais lucrativas das próximas décadas. Boa parte das inovações da indústria mundial depende desses 17 minerais, abundantes na natureza em várias partes do planeta, mas classificados como extraordinários em razão das dificuldades para serem extraídos e beneficiados.

“O Brasil teve um razoável aproveitamento de suas terras-raras, caso do óxido de lantânio a partir da monazita, dos anos 1950 aos 1980. Após longa e forte retração depois desse período, chegamos a um cenário totalmente novo e desafiador, em que está em jogo a própria soberania nacional”, comenta Cláudio Scliar, secretário de geologia do Ministério de Minas e Energia (MME). O engenheiro explica que o seleto grupo de matérias-primas vem assumindo nos últimos 10 anos papel de destaque na produção de artigos de última geração que movimentam negócios promissores, como produção de telas planas, tablets, lasers, baterias de carros elétricos e até locomotivas que flutuam sobre os trilhos.
Basta saber, segundo ele, que, com poucos miligramas desses elementos de nomes engraçados, como praseodímio, promécio e gadolínio, podem-se criar linhas exclusivas de metais, plásticos, vidros, filtros e ímãs. “O setor é ainda mais estratégico para quem dominar toda a sua cadeia produtiva”, frisa Scliar, lembrando que o país já perdeu grandes oportunidades, como a do silício produzido a partir dos cristais extraídos em Minas Gerais e exportado para a China.

Sob o domínio chinês, o comércio internacional de terras-raras gira em torno de US$ 2 bilhões anuais, devendo se aproximar de US$ 10 bilhões no próximo ano. A atenção cada vez maior de grandes marcas de eletrônicos e automóveis nesses produtos singulares está no fato de eles serem excepcionais condutores de eletricidade e de calor, característica essencial para a fabricação de TVs digitais a tomógrafos. “Graças ao emprego em pequenas quantidades em áreas sofisticadas, um quilo de determinada terra-rara pode custar US$ 6 mil”, afirma Daniel Alves de Lima, pesquisador do MME, lembrando que as cotações dispararam desde 2009. (Com Pedro Rocha Franco)

Até Obama se interessa pelas terras-raras

Uma prova explícita da importância atual das terras-raras e do horizonte que se abre para esses materiais está nas recentes tensões diplomáticas entre a China e grandes parceiros comerciais, como Estados Unidos, União Europeia e, sobretudo, Japão. A incômoda dominação chinesa já levou a um protesto japonês na Organização Mundial do Comércio (OMC) e provocou até queixas públicas do presidente norte-americano, Barack Obama.
“Eles são os minerais do futuro, formando as bases da economia verde e da internet móvel”, resume o consultor Paulo César Ribeiro de Lima. Ele conta que os EUA dividiam ao meio com as mineradoras chinesas o mercado mundial até a segunda metade dos anos 1990, mas deixaram de produzir os insumos em 2001 diante dos preços arrasadoramente baixos da concorrência asiática. Depois, foi a vez de conglomerados tecnológicos do Japão serem obrigados a fazer associações em território chinês. “O reflexo disso é que equipamentos como turbinas de usinas eólicas (energia dos ventos) caminham também para ser domínio chinês”, ilustra.

CONGRESSO Uma das maiores defensoras no Congresso da exploração de terras-raras no Brasil, inclusive em áreas indígenas, a deputada Teresa Surita (PMDB-RR) quer aproveitar o debate sobre o novo Código Mineral para definir fontes perenes de recursos para a pesquisa desses insumos especiais. “O novo marco regulatório do setor precisa não só ampliar os percentuais pagos pelas mineradoras na forma de royalties, mas reservar, nesse montante, uma parte para financiar o florescimento no país de uma indústria de ponta a partir dos minerais extraídos", disse.
Ela vê grande espaço para taxar os lucros das concessionárias de lavra, a exemplo do que já ocorre no setor petrolífero. Nas últimas semanas foram realizadas audiências públicas com especialistas no Senado e na Câmara para discutir o potencial brasileiro nos negócios estratégicos das terras-raras.


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