Cultura passada de pai para filho, o cultivo do repolho foi abandonado por agricultores de Alfredo Vasconcelos, na Região Central dde Minas Gerais, quando o produto perdeu preço e competitividade no mercado. Para resistir na atividade, os agricultores trocaram de lavoura, passaram a investir no morango. A diferença é que, dessa vez, para não sair do mercado, incorporaram à fruta um componente decisivo: o design. “A forma como vendíamos o morango mudou por completo. A embalagem ficou menor, a fruta passou a ser resfriada. Criamos uma marca e rótulo, diferenciais que deixaram o morango muito mais atrativo”, diz o presidente da Cooperativa Agropecuária de Alfredo Vasconcelos, dona da marca Frutano, Leandro Rodrigues.
De forma simples e rápida, ele define sua experiência e de outros 55 agricultores com o design. “Mudou nossa vida. Há dois anos não vendemos morangos, vendemos a Frutano. O mercado cresceu e o preço que recebemos pela caixa é R$ 0,50 maior que a média do mercado.” Do morango produzido por pequenos agricultores no Sul de Minas às joias desenhadas no estado ou o carro que agrada ao mundo, o conceito leva diferencial às organizações, mas ainda conversa pouco com as pequenas e médias empresas. A ideia do governo de Minas é promover um bombardeio de informações para que a indústria seja seduzida de vez pelo conceito que fortalece produtos e serviços. É uma aposta para revolucionar, inclusive, a pauta das exportações mineiras, estrelada pelas commodities.
A partir de setembro o estado vai experimentar uma maratona de eventos batizada de “Tempo de design em Minas”, que faz parte da estratégia de agregar valor aos produtos, criando nichos além dos tradicionais. A programação começa com a Bienal Brasileira de Design (19 de setembro a 31 de outubro), seguida de outros 30 eventos conexos que vão de um congresso a premiações para projetos inovadores. “Toda vez que discutimos a possibilidade de aumentar as exportações mineiras com valor agregado, percebemos que tem de haver nicho de mercado, temos de diferenciar o produto. Então, tem de haver design”, defende a secretária de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Dorothea Werneck.
Conceito bem explicado pelo fundador da Apple, Steve Jobs, o design não é apenas o que pode ser visto em um produto, mas o modo como ele funciona. “Um produto deve ser inovador, agradar ao usuário e trazer novas divisas para quem o produz”, traduz o reitor da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), Dijon Moraes Jr., que é o primeiro designer reitor no mundo. Pequeno exemplo de sucesso, o morango produzido em Alfredo Vasconcelos se tornou mais atrativo para o consumidor, que, no momento da compra, tem gostado do que vê e, em casa, da fruta que prova. “Em parceria com o Sebrae, decidimos investir porque tínhamos medo de que acontecesse com o morango o que ocorreu com o repolho e com o tomate. Buscamos um diferencial para competir”, garante Leandro.
Estima-se que a cada US$ 100 investidos em design o retorno para a empresa seja multiplicado por cinco. Mesmo assim falta às empresas se apropriarem da criatividade para transformar seus produtos ou serviços. “Ainda existe uma distância grande entre a criação e os empresários, uma dificuldade em aceitar a inovação, de transformar produtos de fato, apesar de a criatividade brasileira ser premiada em todo o mundo”, comenta Dijon Jr. Segundo ele, a transferência da Escola de Design da Uemg para o antigo prédio do Ipsemg, no conjunto da Praça da Liberdade, vai contribuir para disseminar o conceito, que é estratégico para o estado.
A expectativa é de que, a partir da bienal, seja gerada uma overdose de informação sobre o tema capaz de despertar o interesse de grandes, pequenas e médias empresas. O potencial do estado é promissor. Além de nichos reconhecidos, como moda, calçados, joias, o estado tem atividades tradicionais como o artesanato com pedra-sabão. Panelas de pedra são feitas há muitas décadas da mesma forma e é aí que a inovação pode abrir novos mercados. O resultado prático do investimento também foi conferido por Janine Capelão, farmacêutica, proprietária da indústria de cosméticos Ormifarma. Ela conta que, a partir do projeto, não só as embalagens foram redefinidas, mas toda a linha de produção dos cosméticos foi reestruturada. “Crescemos 15% e, quando todo os novos produtos forem lançados, vamos chegar a 20% de crescimento”, diz Janine.
Segundo a secretária Dorothea Werneck, o conceito deve estar no processo, para chegar a um produto diferenciado, ou do produto, para obter uma imagem. “O que a gente espera dessa maratona de eventos é mudança de cultura. É que se entenda que design não é uma bobagem. É investimento no seu processo e no seu produto.”