Para atrair investimentos dos grandes consumidores de energia, o preço do gás natural a ser produzido na Bacia do Rio São Francisco deverá ser 50% menor do que o distribuído atualmente pela Gasmig, que é sócia da Petrobras e subsidiária de gás da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Hoje, a tarifa industrial média, cobrada em cascata – quanto maior o consumo, menor a tarifa –, é de R$ 1,2782 por metro cúbico. Se o preço do insumo cair pela metade quando o gás do Velho Chico vier, o consumo no estado poderá ser multiplicado por cinco, saltando de 1,8 milhão de metros cúbicos para 9 milhões de metros cúbicos ao dia, estima a Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), que reúne os maiores consumidores do insumo no estado como Usiminas, Companhia Siderúrgica Nacional, Vale e Votorantim Metais.
Além do preço competitivo para acelerar e viabilizar entrada de novos produtores de gás natural no mercado mineiro, será necessário definir questões regulatórias, sustenta a Abrace. “A situação do estado é bastante peculiar. Há um potencial muito grande de produção na bacia, uma série de produtores independentes estão realizando investimentos na exploração e produção do gás”, afirma Ricardo Pinto, coordenador de Energia Térmica da Abrace. O insumo a ser produzido no interior de Minas tem característica de exploração não convencional. A expectativa é de que o volume firme a ser ofertado seja conhecido em dois anos.
A oferta do combustível a partir de terras mineiras depende do desenvolvimento de clientes. Ao todo, já existem 12 empresas trabalhando em 39 blocos para pesquisa e prospecção de gás licitados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) na parte mineira da bacia do Velho Chico. Para que a produção do insumo se transforme em geração de riqueza, será necessário perfurar cerca de 200 poços por ano, informa o levantamento sobre as possibilidades que Minas tem de entrar nesse setor encomendado pelo estado à empresa de consultoria especializada e negócios Gas Energy.
Regras claras
O gás poderá ser usado pelas indústrias que o utilizam no processo produtivo e também em termelétricas para a geração de energia elétrica. “Entendemos que é preciso ter regras claras no que diz respeito ao cálculo das margens de distribuição, à consolidação dos agentes consumidores livres e autoprodutores previstos na lei do gás e um ambiente de transparência na formação dos preços, mecanismos que incentivem a própria distribuidora a universalizar o atendimento do gás, investindo em infraestrutura naquelas regiões que não são atendidas pelas malhas de dutos”, diz Ricardo Pinto, da Abrace.
Nova rede de distribuição
Em outubro, a Gasmig começa a construir uma rede de distribuição de gás natural em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, e uma base de compressão que será instalada em Ipatinga, Timóteo, Coronel Fabriciano ou Belo Oriente, municípios já atendidos pelo gasoduto. A iniciativa vai permitir a ampliação do número de cidades atendidas pela empresa com o gás natural comprimido (GNC), levado por caminhões até os fornecedores.
As carretas chegarão à base, serão abastecidas com o gás comprimido – por meio da elevação da pressão – e seguirão até Governador Valadares, onde será instalada uma base de descompressão. A partir daí, o gás será “devolvido” à Gasmig por meio da rede de gasoduto que será construída no próprio município. De lá, o gás será levado para Itabira, na Região Central do estado.
Hoje, a rede da Gasmig atende apenas 30 dos 853 municípios no estado. Em 2013, serão mais cinco. A iniciativa de levar o gás natural por carretas atende o esforço da empresa para aumentar sua base de clientes. A distribuidora trabalha com o GNC desde 2004, mas hoje apenas 10 municípios são atendidos pelo sistema. Hilton Corrêa Vale, gerente de relação com clientes das Gasmig, explica que o projeto inicial prevê a construção da rede de distribuição e a instalação de uma base de compressão de gás natural em Valadares. “Essa base ficará localizada na região de Ipatinga, Timóteo, Coronel Fabriciano ou Belo Oriente, municípios que já são atendidos pelo gasoduto.
Clientes potenciais
Em Valadares, serão clientes da Gasmig a Raiom Baterias e a Doce Rio. Em Itabira, a Fermag vai receber o gás. O consumo inicial será de 216 metros cúbicos ao mês. “A ideia é viabilizar o atendimento a outras indústrias. Em Governador Valadares há outros consumidores potenciais, que poderão substituir outros energéticos pelo gás natural. Nesse caso, o consumo pode chegar a 1 milhão de metros cúbicos em dois anos”, diz Vale. (ZF)