“Ninguém quer comprar um apartamento por mais de R$ 1 milhão com apenas uma vaga, nem um apartamento de R$ 2 milhões com duas vagas”, explica o presidente da Secovi, que garante que a oferta de imóveis sem vaga é limitada em Belo Horizonte e que a ausência de garagem é mais comum em prédios antigos. A exigência por vagas também vale para os imóveis comerciais. “Não conseguimos vender salas comerciais a preços viáveis se ela não tiver quantidade de vagas mínima”, lembra Ariano, que garante que a legislação não permite mais a construção de imóveis sem vagas. A perspectiva de desvalorização é reforçada pela pesquisa do Sindicato de Habitação do Rio de Janeiro (Secovi-RJ). Por lá, o levantamento mostrou que os apartamentos com dois quartos sem garagem postos à venda tinham o metro quadrado até 20% mais barato. Na região central do Rio, o metro quadrado desse tipo de imóvel valia R$ 5,39 mil, enquanto o valor do metro do apartamento com vaga subia para R$ 6,67 mil.
Por as vagas terem se transformando em um atributos valorizados, que dão mais liquidez ao imóvel, Ariano garante que investidores e empreendedores estão atentos a essa demanda na capital mineira. “O preço do estacionamento traduz bem o problema. Uma hora no estacionamento custando de R$ 10 a R$ 15 significa que há demanda”, afirma. “A necessidade de vagas é indiscutível porque elas têm valorizado o imóvel e o mercado está pagando bem por elas. Hoje, uma vaga extra chega a ser vendida por R$ 200 mil em um edifício de alto padrão”, conta.
De acordo com o vice-presidente de lançamentos da Morus Imóveis, Marcelo Groppo, a falta de vagas, que pode resultar até mesmo na desistência da compra de um apartamento, faz surgir novas tendências para atender a demanda por estacionamento. “É esperado que as vagas encareçam muito daqui para a frente e já trabalhamos com a compra de vagas extras, que são oferecidas por valores entre R$ 25 mil e R$ 40 mil”, conta. “Além de ser barato para financiar, alguns empreendimentos permitem a comercialização e isso desponta como tendência, fora os edifícios-garagem, que também têm alguns projetos em andamento”, adianta.
O diretor da Autopark (empresa com atuação em Minas) e da Associação Brasileira de Estacionamentos (Abrapark), Rogério Lima, afirma que o crescimento da construção civil é um dos fatores associados para a aceleração do mercado de estacionamentos. “Quanto mais lançamentos, mais oportunidades”, sintetiza, lembrando que o crescimento da indústria automotiva é outro ponto a ser considerado para o momento positivo do setor. Diante disso, o empresário considera a perspectiva “muito positiva”, e diz que prova disso é “a criação de estacionamentos a toda hora”.
Condomínios
Contribui para isso a Lei Federal 12.607, que entrou em vigor em abril do ano passado. Em uma tentativa de aumentar a segurança dos proprietários de imóveis, o texto proíbe o aluguel e comercialização de vagas em condomínios residenciais e comerciais caso a convenção não permita. Para isso, é necessário que dois terços dos moradores votem favoravelmente em assembleia. A demanda é tão grande que a dentista Lázara Dirle demorou menos de uma semana para conseguir vender duas vagas em um edifício comercial na Região Hospitalar de Belo Horizonte. Por R$ 48 mil cada, um médico fechou o negócio com ela. “Precisava conseguir dinheiro para investir em outro projeto da empresa. Como as vagas estavam ociosas, decidi vendê-las”, afirma Lázara. Mas antes de bater o martelo ela consultou um a um os vizinhos, que não se interessaram e deram o aval para a venda. Com isso, o novo proprietário pretende, segundo ela, usar uma vaga e alugar a outra.
Rotativo viabiliza prédios comerciais
Diz o ditado norte-americano: “no park no business” (sem estacionamento, sem negócio). De olho na máxima, o mercado imobiliário de Belo Horizonte parece ter aprendido a lição, tanto é que a construção de empreendimentos comerciais em regiões mais visadas adotou como parte essencial dos projetos as vagas rotativas. “Hoje, um prédio comercial que não tenha estacionamento rotativo é um edifício aleijado”, afirma o diretor da Autopark (empresa com atuação em Minas) e da Associação Brasileira de Estacionamentos (Abrapark), Rogério Lima.
Seja supermercado, farmácia, restaurante ou principalmente shopping center, a inclusão de um estacionamento na planta de um empreendimento comercial se tornou quase obrigatória como forma de garantir maior praticidade e comodidade aos visitantes. Necessidade tamanha que, no caso de casas noturnas, criou-se o serviço de valet (manobrista contratado para permitir ao cliente descer na porta, enquanto o veículo é estacionado). “Sem o estacionamento, há um prejuízo claro para o comércio. Basta ver os shoppings, que crescem no ritmo que crescem. É conveniente. É seguro. Tem custo, mas compensa por ser cômodo”, afirma Lima.
Na concepção do All Business Center (ABC) Emílio Pampolini, edifício que será instalado no lugar da antiga Padaria ABC, na Praça Benjamim Guimarães, a Construtora Caparaó definiu a inclusão de quatro andares de garagem no subsolo, sendo que 124 vagas serão destinadas ao público em geral. Além disso, cada uma das 60 salas terá direito a uma vaga. Segundo a diretora de Projetos e Planejamento da Caparaó, Maria Cristina Valle, as empresas que atuarão no condomínio (clínicas médicas e odontológicos, escritórios de advocacia, empresas de tecnologia) têm uma demanda latente por vagas, assim a oferta se torna uma facilidade e garantia de segurança. “Essa comodidade, hoje, chega a ser uma exigência para a prestação do serviço”, afirma. (CM e PRF)