A venda de quase meio milhão de ingressos em apenas quatro horas mostra o fascínio dos fãs pelas bandas que vão se apresentar no Rock in Rio em setembro. Mas, enquanto milhares de consumidores vão conseguir realizar o sonho, outros tantos podem ficar de fora das apresentações dos ídolos. De olho nessa procura, as redes sociais se infestam de oportunistas e até sites de vendas coletivas atuam de forma irregular como se fossem cambistas modernos. Os ingressos podem custar até três vezes mais que o valor original, enquanto o preço dos pacotes completos sobem 2,6 vezes mais.
O site de compras coletivas Hotel Urbano é um deles. Por não ser parceiro do Rock in Rio, eles não têm autorização para comercializar ingressos. Com isso, o mais provável é que a empresa tenha comprado ingressos em nome de pessoas físicas e agora está comercializando os tíquetes por preços superiores. Pelo pacote, o interessado paga R$ 1.990 por uma diária e dois ingressos. Se comprados separadamente, os valores poderiam sair por R$ 740 – os ingressos custam R$ 260 e a diária na suíte a partir de R$ 220. Em nota, o site diz que atua “como um canal de vendas para uma agência credenciada pelo Rock in Rio e, portanto, autorizada a vender os ingressos do evento”. A organização do festival discorda da informação e diz que, inclusive, o Hotel Urbano foi notificado e pedido para que as vendas sejam interrompidas.
Até na página oficial do festival no Facebook os cambistas virtuais usam para anunciar a venda de ingressos. São centenas de anúncios no balcão de negócios virtual. Antes mesmo de os ingressos terem sido entregues, eles tentam lucrar sobre quem não conseguiu comprar o tíquete. Entre os anunciantes, há quem venda a entrada para um só dia por até R$ 800. O valor seria suficiente para adquirir até três ingressos, que custaram entre R$ 130 (meia-entrada) e R$ 260 (inteira) por dia. Detalhe: tem usuários da rede social oferecendo até R$ 1 mil pelo dia 22, quando tocam as bandas Iron Maiden e Slayer. Em comunicado recente, a Polícia Civil do Rio de Janeiro afirmou que a venda por valores acima do estipulado é considerado crime contra a economia popular, com pena de seis meses a dois anos, e que é feito monitoramento constante da internet.
Devido aos anúncios, a organização do festival emitiu comunicado alertando aos fãs. O texto colocado na página principal do site diz que “pode ter gente que vai querer se aproveitar dos fãs que não conseguiram ingresso. Uma ação conjunta com a Polícia Civil do Rio de Janeiro e empresas parceiras fará ainda uma força-tarefa para detectar irregularidades, inibir a ação de cambistas e a venda em pontos de venda ilegítimos”. No mais, são enumeradas ações adotadas para evitar fraudes, como produção do papel usado na confecção dos ingressos e do sistema de operação das catracas, e é dado conselho aos interessados para evitar a compra em pontos não autorizados.
Saga
A jovem fluminense Dafiny Paloma da Silva é uma das caçadoras de ingresso. Nas redes sociais, ela insiste na compra de dois ingressos para ela e o namorado. O sonho do casal é ir ao show da banda californiana de heavy metal Avenged Sevenfold. No dia que foram abertas as vendas, ela não tinha dinheiro e o namorado se enrolou no processo de preenchimento do cadastro. “Ele vendeu camiseta, boné e até tênis para conseguir comprar. E não conseguiu. Agora temos que tentar de todo jeito”, diz, relatando a saga. No bolso, os dois têm R$ 800 para pagar pelas duas entradas, mas sabem que será preciso negociar bastante para conseguir o feito. Para não cair em golpes, eles tentam conversar com o “cambista” antes de bater o martelo.
Uma solução pode ser procurar um dos parceiros oficiais do festival para aquisição de pacotes que incluem hospedagem e passagem aérea ou rodoviária. A assessoria de imprensa do Rock in Rio afirma que somente as agências CVC estão no rol de parceiros e que outras empresas não têm autorização para a comercialização. A agência Viajanet está entre as autorizadas que têm ofertado pacote para o festival a partir de R$ 898 em sites de compras coletivas. Os valores variam de acordo com o tipo de transporte escolhido para levar o comprador até o Rio de Janeiro. Nesse caso, segundo Marcelo Barbosa, coordenador do Procon da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, não há venda casada, sendo permitida a comercialização de pacotes em modelo semelhante ao adotado pelas empresas de turismo para viagens.
SERVIÇO
Xô, cambistas!
Caso saiba de alguma ocorrência, é possível denunciar pelo e-mail vendailegal@rockinrio.com ou por meio da Polícia Civil do Rio de Janeiro