Pedro Rocha Franco
O jogo é lá dentro, mas, enquanto a bola não rola, o aquecimento é feito nas redondezas do estádio. Horas antes de a partida começar, torcedores se reúnem em bares e lanchonetes para aproveitar, principalmente, a possibilidade de tomar cerveja com amigos – a CBF proíbe a venda de bebidas alcoólicas dentro do estádio. Se dentro do estádio o jogo dura 90 minutos, lá fora a confraternização pode durar até três vezes mais. E a concorrência é pesada. No Mineirão, por exemplo, o gasto médio de um torcedor é de apenas R$ 5,10, quase a metade do valor necessário para comprar um tropeiro.
De olho nesse mercado, o empresário Luis Trillo, em vez de manter a loja de conveniência do posto de combustível, preferiu adaptar o espaço e montar um bar no lugar. Investimento certeiro. Além de só abrir em dias de jogos (ou eventos) no Mineirão, o faturamento com o Arena BH, de frente para o estádio, tem sido considerável. “O bar dá uma ajuda boa para o posto. Houve jogos em que consegui vender todos os freezers”, diz ele, preferindo manter em sigilo sobre quanto ganha. Prova de que o negócio é rentável, no jogo entre Brasil e Chile ele chegou a vender 9 mil latas de cerveja, o que o faz pensar em abrir o bar todos os dias. “A qualquer hora encho todos os tanques de areia”, diz Trillo, dando pista de querer mudar de ramo e até mesmo fechar o posto de combustível.
Vizinha do estádio, Maria Luiza Mota decidiu abandonar a antiga profissão para montar o próprio bar. Até fevereiro do ano passado, ela vendia material de escritório, mas conseguiu R$ 14 mil para investir na transformação da garagem de casa no Bar Preliminar. Em um ano e meio, o montante investido já foi pago, com a colaboração dos quatro amigos contratados para trabalhar em dias de jogo. “Só de trabalhar em casa já é melhor”, avalia. Cruzeirense, ela só reclama de uma coisa do time rival: o fato de não ter disputado a final no Horto. A troca pelo Mineirão a fez deixar de vender aproximadamente 200 espetos, 480 latas, 140 garrafas de 600ml e 90 long necks de cerveja e 100 litros de chope, além de doses de uísque e vodca e porções de espaguete e feijão-tropeiro. “Fiquei triste porque a final não foi aqui”, disse, pensando nos R$ 8 mil que fatura em grandes jogos.
REDE
Com a inauguração da nova arena, Rosana Moura vislumbrou a possibilidade de vender camisas, bandeiras, faixas e adornos variados nas proximidades do Independência. Mas, em vez de sair pelas ruas com a sacola nas mãos, bateu de porta em porta, negociando com moradores da região para saber quem se interessava em alugar a varanda nos dias de jogos. Ao custo de R$ 50 por jogo, o espaço vira um enorme varal com os produtos dos times da casa que vão jogar – Atlético ou América. “Me cadastrei como microempreendedora individual. Pego as mercadorias consignadas com o fornecedor e, em dias bons, consigo vender entre R$ 500 e R$ 600”, garante.
No caso da atriz Marilia Aparecida Marques, criatividade não foi o primordial. Afinal, ela já tinha o principal: a garagem de casa para locação. A falta de vagas de estacionamento faz com que os moradores do bairro aproveitem para alugar suas vagas. Antes das partidas fica de prontidão na porta de casa à espera dos clientes. Os R$ 30 por carro garantem um bom complemento de renda. "Em quase todos os jogos a garagem fica cheia", diz ela.
Preço salgado nos estádios
Ingresso, estacionamento, refrigerante, tropeiro, água, picolé. Há quem diga que ir ao estádio ver o time de coração não tem preço, mas só quem tem o costume de ir aos jogos sabe que a diversão tem um alto custo. O advogado Alan Wykret, de Divinópolis, para ver o Cruzeiro acompanhado de esposa, filho e nora, desembolsa mais de R$ 500 – se considerado o gasto com a gasolina. “Não é barato, mas é bom”, diz. “Por esse preço, os jogadores, que ganham tão bem, têm que dar um bom espetáculo.“
Domingo em família no estádio é um programa que o cruzeirense Cláudio Rogério Alves dos Reis ensina ao filho Bernardo, ainda ao colo. Enquanto o filho não pode acompanhá-lo na cerveja, a solução é matar a sede com água gelada, no estádio. "É bom para ele se acostumar", brinca o pai.
No Independência, o setor define o consumo. Na ala onde ficam os sócios-torcedores, o consumo de tropeiro é bem maior. “No Galo na Veia (ala de torcedores associados), o torcedor não gasta com ingresso no dia. Aí, costuma gastar um pouco mais no estádio”, explica o gerente operacional da Arena Independência, Helber Gurgel. (PFR)