Antes de chegar ao copo do consumidor a bebida fabricada na Grande BH é mantida por 70 dias em adega subterrânea a uma temperatura constante de 19 graus. Não é curtida no silêncio dos tonéis, mas embalada pelo som terapêutico dos cantos gregorianos, etapa que antecede seu envasamento em garrafas de champanhe. Apesar da embalagem, não se trata de uma bebida francesa, mas da Monasterium, um entre os diversos rótulos da cerveja artesanal produzida em Minas. Apreciada pelo brasileiro as fábricas gourmet multiplicaram nos últimos cinco anos, transformando a capital em um espécie de “Bélgica brasileira.” A rota da cerveja é o mais novo roteiro turístico da capital. Ao custo de R$ 160, é possível aprender sobre o processo de fabricação da iguaria, passear pelas fábricas, degustar dezenas de rótulos, com direito a café da manhã e almoço genuinamente cervejeiros.
Há cinco anos eram quatro microfábricas no estado, segundo levantamento do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral (Sindbebidas-MG). Hoje são 30, sendo 16 na Grande BH. Minas já é o terceiro maior fabricante nacional da espécie, produzida com receitas originais que podem levar em sua composição ingredientes típicos como a jabuticaba, rapadura e o caldo de cana de açúcar. A fabricação mensal do estado atinge 600 mil litros, que agora poderão ser degustados por turistas de todo o mundo, como ocorre com a rota do vinho no Sul do país. Em setembro, a Belotur lança guia turístico da cidade. “O circuito da cerveja artesanal será oficialmente incluído no roteiro da cidade, com endereços e detalhes do produto encontrado em cada fábrica”, explica o presidente da instituição Mauro Werkema.
A cervejaria Backer, que funciona no Bairro Olhos D’água, começou há 15 anos com produção para abastecer estabelecimento comercial próprio. Agora fabrica 245 mil litros/mês de 10 estilos diferentes do produto artesanal. Vende para todo o país e exporta para os Estados Unidos. A cervejaria, que já faz parte do roteiro turístico, está investindo R$ 5 milhões na ampliação do seu parque, especialmente para receber os visitantes. “Teremos um restaurante com capacidade para atender 300 pessoas, loja de souverniers, loja para homebrew (fabricação de cerveja em casa)”, diz Paula Lebbos, diretora de Marketing da cervejaria. Segundo ela, a inauguração será no ano que vem e o turista vai acompanhar o processo de fabricação e ainda participar de palestras.
“As receitas de Minas são inéditas, fabricadas com conhecimento, inovação e criatividade, aplaudido por grande fabricantes mundiais”, diz Marco Antônio Falcone, diretor do Sindbebidas e proprietário da Falk Bier. A fábrica, em Ribeirão das Neves, na Grande BH, está na rota cervejeira e investe R$ 1 milhão na ampliação da capacidade produtiva que passará de 10 mil litros/mês para 60 mil litros mensais. Falcone, que fabrica a cerveja Monasterium, garante que o canto gregoriano não é apenas um charme. “Em experiências constatamos que as leveduras que escutam a música têm menor taxa de mortalidade.” De acordo com o especialista, o resultado é uma bebida com aroma agradável que tem conquistado o público.
O roteiro com visita a pelo menos seis cervejarias já está aberto. “Temos várias opções de programa na Bélgica brasileira”, diz Fernanda Fonseca, proprietária da Libertas Viagens e Experiências. Ela diz que geralmente o turista escolhe conhecer de duas a três cervejarias por dia, em que conhece todo o processo de fabricação da famosa cerveja. “A demanda cresce ao ritmo de 20% ao mês.”
FESTIVAL Em 6 e 7 de setembro, os interessados em investir neste mercado poderão aprender mais sobre o processo artesanal no Festival de Cervejas Artesanais, Minas Mix Beer, que vai ocorrer na Serraria Souza Pinto, evento que também entrou para o calendário oficial da cidade. Segundo Cindra Gomes, organizadora do festival, a expectativa é que 8 mil pessoas passem pelo local, movimentando R$ 1 milhão em negócios.