Quando os diretores que integram o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidirem elevar hoje a taxa básica de juros da economia em 0,5 ponto percentual, para 9% ao ano, conforme preveem 10 em cada 10 analistas de mercado, eles terão ratificado o erro de cálculo da própria instituição e, principalmente, da equipe econômica do governo Dilma Rousseff.
Há dois anos, quando, sob pressão do Palácio do Planalto, o BC iniciou o processo de derrubada da Selic para o menor patamar histórico, 7,25% ao ano, o presidente da instituição, o gaúcho Alexandre Tombini, justificou a medida como uma forma de proteger o país dos riscos que a recessão nas principais economias do mundo poderia provocar sobre a recuperação da atividade econômica no Brasil. Na prática, pregava que o menor crescimento externo ajudaria a reduzir a pressão sobre os preços de produtos e serviços no Brasil, o que não aconteceu.
Já naquele momento, porém, a inflação no país vinha em uma espiral de elevação, que culminou na taxa acumulada de 6,5% ao ano, em dezembro de 2011. O primeiro ano de gestão de Tombini à frente do BC só não foi pior porque a taxa de 6,5% era justamente o teto da meta perseguida pela instituição. Caso tivesse rompido esse patamar, ele teria de ter escrito uma carta ao Congresso justificando o fracasso do BC em cumprir a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que fixa como parâmetro uma inflação de 4,5% ao ano, com tolerância de dois pontos para cima ou para baixo.
De lá para cá, porém, não houve sequer um mês em que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tivesse ficado dentro da meta perseguida pelo governo, de 4,5%, no acumulado em 12 meses. Mesmo assim, o governo aposta que o ritmo fraco de recuperação da economia servirá para reduzir a pressão sobre os preços, em um momento em que a atual disparada do dólar sobre o real coloca ainda mais lenha na fogueira da carestia no país.
Erros
Para especialistas ouvidos pelo Estado de Minas, o descuido com o controle dos preços, que agora tem obrigado o BC a elevar os juros para desaquecer a economia brasileira, é resultado de uma série de erros cometidos pela equipe econômica do governo. Na opinião do economista Juan Jensen, sócio da consultoria Tendências, do ex-presidente do BC Gustavo Loyola, houve “erro generalizado” na condução da política econômica. “A própria redução da taxa de juros promovida pelo BC”, ele diz, “foi uma medida que tinha como objetivo salvar o crescimento econômico, e não trazer a inflação para o centro da meta”, criticou.
Caso o BC estivesse, de fato, preocupado em trazer a inflação para o centro da meta de 4,5%, diz o doutor em economia pela Universidade da Califórnia Alexandre Schwartsman, os juros básicos deveriam subir acima de 12%. “Mas isso não vai acontecer, justamente porque 2014 é um ano de eleições, e o governo não quer correr o risco de prejudicar a candidatura da presidente Dilma Rousseff”, ponderou.