A alta do dólar e a quebra da safra de grãos dos Estado Unidos que gerou o aumento dos insumos como a ração, fizeram o preço da carne de frango disparar. Situação pior é sentida pelo consumidor na hora de comprar o quiabo, companheiro inseparável do frango na maioria das casas mineiras. O frio e a instabilidade do clima, com chuvas esparsas em algumas regiões do estado, fizeram o preço do quiabo subir.
Pesquisa divulgada pelo site Mercado Mineiro aponta que nos últimos três meses o quilo do frango congelado acumula alta de 12,76%, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Enquanto o quiabo saltou 52%, de R$ 1,99 em maio para R$ 3,02 em agosto, segundo a Central de Abastecimento S.A. (Ceasa Minas). Os reajuste de preço do frango e da hortaliça superam a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), que acumula alta de 0,95% de maio a agosto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A alta nos preços está causando dor de cabeça aos donos de restaurantes, que não têm como repassar todo aumento à clientela sem o risco de perder a freguesia. O gerente do restaurante de comida mineira Maria das Tranças, Kleber Teles, conta que o último reajuste repassado para os clientes do restaurante foi de 6%, em novembro. Hoje, um prato de frango com quiabo no restaurante, acompanhado de arroz e angu, para servir duas pessoas, custa R$ 59,50. Kleber explica que, nas duas unidades da empresa são consumidos por semana, em média, 2,5 toneladas de frango e 1,5 tonelada de quiabo. "Está difícil, mas estamos segurando para não aumentar o preço. Se continuar nesse patamar, não vamos conseguir fazer isso por muito tempo", completa.
Já no restaurante Sem Igual, a proprietária Renata Staino, conta que a saída é substituir o prato por outro no cardápio. O prato tradicional mineiro era servido no restaurante três vezes por semana, mas com a inflação dos produtos, o frango com quiabo só faz parte do cardápio uma vez a cada cinco dias. "Não repassamos a alta dos preços para o consumidor, mas diminuímos o consumo e tentamos conquistar a clientela com outras opções", revela.
No bolso Nos supermercados e sacolões, porém, os preços do frango e quiabo são ainda mais salgados. No Mercado Central, o quilo da hortaliça é vendido a R$ 8,99, enquanto o frango sai a R$ 5,90. Além do clima não estar favorável para o cultivo do quiabo, o coordenador de informações da Ceasa Minas, Ricardo Fernandes Martins, explica que a demanda é maior do que a oferta. "Isso faz o preço disparar. O consumidor vai ter que usar a criatividade para substituir o famoso frango com quiabo", completa.
O quiabo não pode faltar na casa da professora Mônica Tavares. Para não pesar no bolso, ela substituiu o frango pela carne moída. "Tudo está muito caro e, na correria, não temos tempo de pesquisar preço e comprar mais barato. A saída, então, é comprar pouco e substituir por produtos mais em conta", lamenta. A professora revela que se assustou ao ver o preço da hortaliça no mercado a quase R$ 9.
As elevações nos preços da carne de frango estão relacionadas ao bom desempenho das exportações, principalmente na região Sudeste, de acordo com informações do Centro de Estudo Avançados em Economia Aplicada (Cepea). "É uma pena ver o frango tão caro", lamenta a cuidadora de idosos Lucina Simone, que gosta de preparar um cardápio especial com frango para a família todos os fins de semana. "Não consigo mais fazer o frango com a frequência que eu fazia. Isso é ruim de mais, já era tradição na família", comenta.
Inflação sobe 0,10% em BH
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), fechou agosto com alta de 0,10%, em Belo Horizonte, com leve aumento em relação ao índice de 0,06% em julho. Levando em conta o acumulado nos últimos 12 meses, o indicador ficou em 5,84%, dentro do teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de 4,50% com variação de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
No mês, os itens do grupo alimentação e bebidas ficaram 0,24% mais caros, influenciados por condições climáticas e crises internacionais. O destaque foi para a alimentação em restaurante, que registrou alta de 1,46%. A refeição, segundo o estudo teve a principal contribuição para o índice, ficando 1,68% mais cara.
Analisados separadamente, os serviços e produtos que mais sofreram alta, segundo o Ipead, foram vidro (11,55%), excursões (2,20%), conserto de automóvel (1,99%), refeição (1,68%) e condomínio (1,18%). As cinco menores contribuições foram batata inglesa (-21,96%), feijão carioquinha (-15,31%), passagem aérea (-5,39%), ônibus urbano (-1,61%) e gasolina comum (-0,92%).
Deflação O grupo alimentos in natura, em contrapartida, apresentaram deflação de 4,18%. A coordenadora de pesquisa e desenvolvimento da Ipead, Thaize Vieira Martins Moreira, acredita que o IPCA está alcançando a estabilidade. “A alta da taxa de juros divulgada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (COPOM) é uma tentativa de trazer a inflação para níveis mais baixos e assegurar a tendência prevista para 2014, No entanto, ainda é preciso aguardar os resultados dos próximos meses”, comenta. Ainda de acordo com dados do Ipead, a cesta básica apresentou queda pela quarta vez seguida, com variação negativa de 2,72%, entre julho e agosto de 2013. O valor da cesta representou no último mês 44,66% do salário mínimo, cerca de R$ 302,80. (FM)