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Estado de Minas

Calote sobe no comércio de Belo Horizonte e volta a preocupar lojistas

Inadimplência medida pelo SPC na capital mineira aumentou 4,48% em 2013. A alta foi a maior desde 2009 e preocupa os comerciantes, que estão mais cautelosos com as vendas


postado em 08/01/2014 06:00 / atualizado em 08/01/2014 07:14

Wagner Mattos, da Loja Elétrica, diz que a análise de crédito dos clientes agora está 'sendo feita com lupa' (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Wagner Mattos, da Loja Elétrica, diz que a análise de crédito dos clientes agora está 'sendo feita com lupa' (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)

Depois de um Natal morno em vendas no varejo, o calote sobe no comércio de Belo Horizonte e volta a preocupar lojistas e consumidores. Cresceu 4,48% em 2013 o número de registros no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) da capital mineira, termômetro do nível de inadimplência de pessoas que atrasaram o pagamento de dívidas em mais de 90 dias. O percentual, divulgado nessa terça-feira pela Câmara de Dirigentes Lojistas de BH (CDL-BH), foi o maior dos últimos cinco anos, portanto desde 2009, quando a economia brasileira ainda se ressentia dos efeitos da crise financeira mundial. Na comparação de dezembro com novembro, o resultado foi pior, com acréscimo de 6,9%.

A estatística indica um cenário desfavorável para os dois lados do balcão nas lojas. Cliente com dificuldade de honrar dívidas tende a conter o impulso na hora das compras e o comerciante, por sua vez, além de correr atrás do prejuízo, torna mais rígida a oferta de crédito novo. O crescimento do calote reflete um 2013 quase todo marcado pela pressão dos preços mais altos sobre os rendimentos da população, embora ainda em ascensão, avalia a economista Ana Paula Bastos, da CDL-BH. “A inflação corroeu a renda das famílias, que já estavam endividadas por causa da bolha de consumo de 2012, com o crédito farto naquele período. Aliado a isso, falta planejamento financeiro”, afirma.

A campanha de recuperação de crédito que a instituição realiza em dezembro também teria contribuído para a elevação dos registros, segundo Paula Bastos, pelo fato de ter estimulado alguns lojistas a inscrever inadimplentes antigos no SPC com o objetivo de negociar o pagamento das dívidas. Não fosse a oportunidade oferecida pela campanha, o calote poderia ter crescido mais que o indicado no termômetro da CDL-BH. A conduta dos comerciantes, agora, será evitar as estratégias de vendas a qualquer custo, fazendo a devida consulta ao banco cadastral antes de efetuar o negócio.

Os atrasos nos pagamentos das compras a prazo se tornaram mais constantes no segundo semestre do ano passado, desaguando num dezembro em que os clientes demonstraram menor propensão a gastar, conta o sócio-proprietário da rede Loja Elétrica Wagner Mattos. Com 15 lojas, a empresa fatura de 60% a 65% das vendas na forma parcelada, incluindo nessa modalidade um grande fluxo de clientes pessoas jurídicas. “Como diz o ditado, prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Passamos a policiar as compras a prazo. A análise e o acompanhamento dos clientes estão sendo feitos com lupa”, diz o comerciante.

Para Wagner Mattos, o próprio consumidor inadimplente dá sinal de preocupação e ficou arredio, em razão de um cenário de insegurança sobre o rumo de indicadores como a inflação, os juros e o câmbio. Na rede Klus, com nove lojas de moda masculina, o proprietário Salvador Ohana observa que 2014 exigirá mais controle nas vendas a prazo – a empresa só trabalha com cartões de crédito e débito – e eficiência num atendimento melhor e na oferta de produtos com mais qualidade. “Estamos otimistas porque houve crescimento de vendas neste Natal, embora menor que o esperado, mas preocupados com uma série de feriados que a cidade terá na época da Copa do Mundo e as eleições, que afetam o comércio”, afirma.

Juro descolado


De acordo com o levantamento da CDL-BH, o nível de inadimplência mais alto verificado em BH no mês passado foi o das faixas de consumo de até R$ 249, de 77,41%. A elevação do calote, no entanto, não retrata a realidade do varejo medida para o Brasil, como destaca o economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio. Pesquisa do Banco Central apontou que 6,8% dos empréstimos enfrentam atrasos superiores a 90 dias nos pagamentos, menor índice em dois anos, ante a taxa de 7,5% observada em 2012.

“Índices inferiores a 7% já podem ser considerados mais favoráveis e o consumidor evitou os parcelamentos muito longos nas compras de Natal, preferindo pagar à vista. Afinal os juros estão no nível mais alto em 18 meses”, afirma Bentes. Ele acredita que apesar do encarecimento do crédito 2014 será um período de alguma recuperação do comércio num ambiente de inflação menor. Pesquisa mais recente, realizada em novembro, pela Fundação Ipead, vinculada à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostrou que os encargos pagos nos empréstimos das financeiras independentes alcançaram 13,72%, em média, ao mês, em BH. As taxas cobradas pelas administradoras de cartões de crédito atingiram 10,96%, também na média, e as do cheque especial chegaram à 8,09%. A inflação foi de 0,65% em novembro, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Ipead/UFMG.

Registros cancelados


Contrapeso do aumento da inadimplência medido pela CDL-BH, o número de cancelamentos de registros no SPC cresceu 2,11% em 2013, sinal positivo para um começo de ano pressionado por juros muito altos. Essa é a principal diferença de 2014 em relação ao ano passado, para o economista Gabriel de Andrade Ivo, da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG). Este trimestre, na avaliação do economista, será de más notícias, com o típico desaquecimento do consumo, sob pressão dos gastos com impostos, matrículas e material escolar, e a inflação impactada por essas despesas.

“As famílias vão continuar segurando o consumo agora e o crédito ainda vai ficar caro. A expectativa de melhora está no segundo trimestre”, afirma Gabriel Ivo. A circulação de turistas durante a Copa do Mundo deverá favorecer o consumo. O economista Fábio Bentes, da CNC, lembra que o evento deverá ajudar principalmente a indústria do turismo.

Ainda com base no termômetro da inadimplência da CDL-BH, em dezembro houve aumentos de 6,5% e de 7,2% dos cancelamentos de registros no SPC, respectivamente, ante novembro de 2013 e dezembro de 2012. (MV)


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