Com inflação de 6,14%, resultado maior que o registrado em 2012, que foi de 5,75%, Belo Horizonte encerrou o ano com custo de vida mais alto, segundo Balanço Econômico de 2013, divulgado ontem pela Fundação Ipead/MG. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) da capital ficou acima do centro da meta de 4,5%, estipulada pelo governo federal, mas dentro da margem de dois pontos para mais ou para menos. A aceleração de 0,87% nos preços de dezembro – maior taxa para o mês desde 2005 – contribuiu para o resultado no ano. Entre as principais altas no mês, as excursões (15,87%) e a gasolina comum (4,77%). No ano, o principal aumento foi sentido nas bebidas vendidas em bares e restaurantes, que subiram 11,64%. Só a cerveja apresentou alta de 12,19%.
Os amigos Weslei Parzeweski e Yuri Henrique, que pelo menos duas vezes por semana vão ao bar, já sentiram o aumento da bebida e optaram por mudar os hábitos. “Acredito que o preço subiu cerca de 7,5% de 2012 para 2013 nos lugares que frequentamos e, por isso, temos dado preferência por beber em casa”, conta Yuri. “Comprar bebida no supermercado é mais barato pelo volume que eles compram, fora isso não temos que pagar os 10% do garçom e a margem de 100% dos donos dos bares”, pondera Weslei. Dependendo da região onde bebem, de acordo com eles, os preços são ainda maiores e a substituição pelo chope acaba mais interessante.
Ainda de acordo com o balanço da Ipead, nos últimos 12 meses, a maior alta foi sentida no grupo dos produtos não alimentares, que consideram habitação, artigos de residência e outros, e tem peso de 79,54% no indicador. Dentro do grupo, o item despesas pessoais, que pesa 43,32% no índice e apresentou variação de 8,54%, foi o destaque, seguido por encargos e manutenção, com aumento de 10,51%. No grupo alimentação, que responde por 20,46% do indicador, o item com maior alta no ano foi a alimentação em restaurante, que ficou 10,28% mais cara.
De acordo com o gerente do Restaurante Maria das Tranças da Savassi, Kleber Teles, ao longo do ano as altas foram sentidas em importantes insumos, como o frango e o quiabo. “Seguramos até o mês passado, mas, como os custos subiram bastante e estávamos pressionados, alguns itens do cardápio tiveram aumento de 4,5% a 5%”, revela. Assim como Kleber, a maquiadora Andreia Fernandes, sócia-proprietária de um espaço de beleza no Bairro Ouro Preto que leva o seu nome, tenta segurar a inflação e ganhar no volume. “O preço sobe para manter a qualidade e oferecer profissionais qualificados, que custam mais”, explica. A única alta, segundo ela, foi de 20% para o serviço de manicure, de R$ 25 para R$ 30, e acompanha o mercado da região.
Pessimismo Thaize Martins, coordenadora de pesquisas do Ipead, lembra que a inflação somada a alta da cesta básica de 9,09% no último ano e retração de 13,20% na confiança do consumidor no mesmo período, também verificados pelo Ipead, sinalizam “a perda do poder de compra pelo consumidor, que está pessimista em relação a macroeconomia.” Ela lembrou que as consecutivas elevações na taxa Selic durante o ano passado, que alcançou patamar de 10%, não foram suficientes para arrefecer a inflação. No balanço, o destaque foi para a queda na taxa de cartão de crédito que saiu de 12,69% em julho para 10,96% em agosto, mas que no entanto, é de 248,34% ao ano, ou seja, 24 vezes maior que a Selic.
Embora os resultados cheguem com pessimismo para o consumidor, a coordenadora lembra a inversão nos preços em alguns itens que já foram considerados “vilões” no passado e fecharam 2013 como “mocinhos”. Entre os exemplos, ela destaca o feijão que fechou 2012 com alta de 32,52% e o ano passado com queda de 24,71% e a energia elétrica, que segundo a pesquisa, passou de uma alta de 14,16% em 2012 para queda de 3,88% em 2013.
E vem mais por aí
Brasília – O ano de 2014 já começa sendo pressionado pelo aumento do custo de vida. E a expectativa dos analistas ouvidos pelo Estado de Minas é de que a taxa oficial da inflação será mais alta este ano do que em 2013. Uma das prévias da carestia, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e divulgado ontem, registrou alta de 0,73% na primeira semana de janeiro, ficando 0,04 ponto percentual acima do 0,69% computados nos sete dias anteriores.
O resultado do IPC-S ficou dentro das expectativas do mercado. A alta foi impulsionada pelos reajustes das mensalidades e dos materiais escolares e pelo tradicional encarecimento dos alimentos no início do ano. Os itens do grupo Educação, Leitura e Recreação que saltaram de 0,47%, na última semana de dezembro, para 1,03%, nos primeiros sete dias de janeiro de 2014. Já o preço dos itens do grupo Alimentação subiu de 0,93% para 1,04%, no mesmo período. A principal alta ficou com as frutas in natura, que deram um salto de 3,66% para 5,31%.
“O IPC-S reflete a sazonalidade de janeiro e o resultado ficou dentro da normalidade. A alimentação tem alta por conta das chuvas e educação normalmente costuma puxar o indicador para cima nesse período”, explicou o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno. Ele não demonstrou surpresa com o indicador assim como todos os economistas ouvidos pela reportagem. Eles preveem que, neste ano, a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficará acima da registrada em 2013.
O economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre), da FGV, André Braz, destacou que os reajustes nas mensalidades e material escolar ainda devem ter um impacto maior no indicador de fevereiro. “O IPC-S apenas antecipa essa tendência que deve ocorrer mais forte no próximo mês. Além disso, a queda de 15% a 18% nos preços de energia ocorrida em janeiro de 2013 não terá mais reflexo na inflação e, somente por conta disso, o índice deverá ir para 6% e deverá permanecer nesse patamar até o fim do ano”, destacou.