O Morro da Providência, primeira favela do Rio de Janeiro, localizada no centro da capital fluminense, será também a primeira comunidade da cidade no mundo a sediar um Startup Weekend Favela. O evento ocorrerá entre os dias 28 e 30 deste mês no Instituto Central do Povo, localizado naquela comunidade, em parceria com o Comitê para a Democratização da Informática (CDI).
O Startup Weekend é uma rede global de líderes e empreendedores cuja missão é inspirar e capacitar indivíduos, equipes e comunidades para que suas ideias possam se transformar em negócios capazes de receber investimentos. Mais de 600 empresas foram criadas a partir de ideias que surgiram nos Startup Weekends feitos em mais de 119 países.
O criador do CDI, organização não governamental fundada em 1995 e que utiliza a informática como ferramenta para o desenvolvimento social e da cidadania, Rodrigo Baggio, disse hoje (14) à Agência Brasil que esta será a primeira vez que o Startup Weekend será feito com uma visão de negócio social.
“O Startup Weekend é uma iniciativa que existe em mais de 100 países para inspirar pessoas para serem empreendedoras e criarem as suas startups [empresas]. Muito da motivação das pessoas que vão ao evento é criar uma nova empresa, para ser o novo Google, o novo Facebook”. A primeira edição do Startup Weekend Favela atende a uma sugestão feita pelo próprio CDI à rede Startup Global com o objetivo de resolver problemas sociais. O CDI está completando este mês 19 anos de funcionamento, nos quais promoveu a capacitação de mais de 1,54 milhão de pessoas em 13 países, com 780 espaços abertos de inclusão digital.
Baggio destacou que a proposta virou uma grande inovação e passou a ser considerada uma iniciativa histórica. “Para a gente, é uma grande honra fazer o Startup Weekend Favela no mês de aniversário do CDI, porque a gente quer inspirar e dar exemplo para as pessoas serem tecativistas, tectransformadoras. Para as pessoas perceberem que mais que usar a tecnologia para ganhar dinheiro e gerar empregos, elas podem usar tecnologia para criar causas e movimentos e fazer com que elas evoluam para empreendimentos e negócios sociais”.
Mário Chagas, coordenador do espaço CDI Comunidade no Morro da Providência, ressaltou hoje (14) a importância do 1º Startup Weekend dentro de uma favela. “É importante porque a comunidade vai ter uma experiência ímpar em relação aos problemas que são comuns a várias comunidades, como a questão do lixo e a questão dos eventos culturais. Tudo isso faz com que as pessoas tenham a oportunidade de expor as suas ideias e que essas ideias sejam ouvidas por pessoas capacitadas para solucioná-las. A gente fica na expectativa que isso, realmente, vai ser um marco dentro do projeto de comunidade”, declarou.
Chagas enfatizou a necessidade de divulgação do evento para que os moradores do morro possam participar de forma mais ativa. “Tem sido aquele trabalho mais 'boca a boca'”, disse. Os principais temas que afligem os moradores da Providência foram identificados, em uma consulta prévia, e são: educação, destino do lixo, geração de renda e cultura e lazer.
O coordenador acredita que as soluções que forem apontadas vão colaborar para que possam ocorrer algumas mudanças, estimulando o empreendedorismo, que já é bem comum dentro das comunidades, além de favorecer um maior entrosamento no âmbito social. O Instituto Central do Povo completa 108 anos em 2014. Ele funciona como referência da comunidade nas áreas social, de educação e de saúde, disse Mário Chagas. No local, funcionou o primeiro posto de saúde do Rio de Janeiro, cuja inauguração teve a presença do sanitarista Oswaldo Cruz e foi sede da primeira escola de datilografia voltada para uma comunidade de baixa renda. Desde 1998, o instituto abriga o espaço do CDI Comunidade, um dos projetos que funcionam no local.
Rodrigo Baggio informou que desde novembro do ano passado a ONG trabalha com dez lideranças comunitárias de favelas do Rio de Janeiro para alinhar e priorizar os principais problemas comuns a todas. A meta, no Morro da Providência, é apresentar os problemas selecionados para que os desenvolvedores de tecnologias, designers, líderes sociais e empreendedores, inclusive da própria comunidade, que participarão do 1º Startup Wekend Favela, possam “criar ideias, usando tecnologias emergentes que possam impactar positivamente esses problemas”. No final das 54 horas do evento serão apresentadas as ideias das 15 equipes que serão formadas.
Como há um limite de 120 vagas para os interessados em participar das equipes, Baggio explicou que as inscrições podem ser feitas a partir de hoje no endereço www.riofavela.startupweekend.org. Trinta líderes sociais integrarão também as equipes.