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Estado de Minas

Mesmo após promessa de Dilma, custo médio do crédito atinge maior nível em dois anos

Índice chegou a 41,2% ao ano em fevereiro, segundo dados do Banco Central


postado em 27/03/2014 07:04 / atualizado em 27/03/2014 07:24

Roberta Lopes desistiu de comprar apartamento devido ao alto custo do financiamento(foto: Marcos Michelin/EM DA Press)
Roberta Lopes desistiu de comprar apartamento devido ao alto custo do financiamento (foto: Marcos Michelin/EM DA Press)
A cruzada contra os juros altos, que envolveu pessoalmente a presidente Dilma Rousseff, durou dois anos e chegou ao fim com a vitória dos bancos privados. Em fevereiro, os juros médios cobrados das famílias chegaram a 41,2% ao ano, alta de 1,3% sobre janeiro. Além de elevada, a escalada das taxas juros foi também disseminada, e atingiu 13 das 14 linhas de financiamento pesquisadas pelo Banco Central (BC). A última vez que o brasileiro tinha pagado tão caro para tomar crédito havia sido em fevereiro de 2012, justamente quando o governo deu início à campanha pela redução dos juros ao consumidor.

Naquela época, para forçar a queda das taxas, o governo obrigou os bancos públicos a reduzir margens de lucro, achatando o spread bancário – diferença entre o que essas instituições pagam e o que cobram para emprestar dinheiro. Em abril de 2012, Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal anunciaram descontos nas taxas superiores a 45%.

Na véspera do feriado de 1º de maio, veio o golpe final do governo: em pronunciamento oficial em cadeia de rádio e TV, a presidente Dilma atacou o que chamou de “lógica perversa” dos bancos privados. “É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo”, disse. “O Brasil de hoje não justifica isso”, criticou a presidente, para concluir: “Os bancos não podem continuar cobrando os mesmos juros para as empresas e para o consumidor enquanto a taxa básica Selic cai, a economia se mantém estável e a maioria esmagadora dos brasileiros honra com presteza e honestidade seus compromissos”, assinalou.

Em reuniões com banqueiros, a presidente traçou um cenário otimista para a economia. Garantiu que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) seria forte e sustentável e que a inflação, persistentemente acima do centro da meta, de 4,5% ao ano, cairia. Dilma foi além e assegurou aos empresários que o ciclo de quedas da Selic, posto em prática pelo BC desde julho de 2011, seria consistente e duradouro.

Diante da pressão, os banqueiros reduziram as taxas. Em dezembro de 2012, os juros ao consumidor atingiram o menor patamar histórico: 33,8% ao ano. Mas voltaram a subir tão logo o cenário traçado pela presidente se mostrou descolado da realidade. A começar pelo crescimento econômico, de apenas 1% em 2012.

Peso no bolso e no comércio

Com os seguidos aumentos, a alta da taxa de juros vem assombrando consumidores como a dona de casa e comerciante Rosângela Maria de Fátima Vitor, de 48 anos. Na segunda-feira ela saiu de casa com o firme propósito de comprar à prestação uma lavadora de roupas e uma geladeira para substituir seus eletrodomésticos usados. Ao chegar ao comércio levou um susto. A máquina de lavar roupas foi dividida em oito vezes e saiu por quase R$ 1,5 mil. “Se eu tivesse comprado à vista seria pouco mais de R$ 800.”

O recurso da dona de casa foi congelar a compra do segundo eletrodoméstico. “Adiei para dezembro. Até lá pretendo juntar o dinheiro e tentar pagar a geladeira à vista. ” Rosângela também paga prestações de um carro que comprou financiado em 48 meses e diz que quando atrasa a prestação fica assustada com os juros que são cobrados. “Estou em dia com as mensalidades mas vou entrar na Justiça, porque os juros cobrados por atrasos no pagamento são abusivos”, declarou. Roberta Lopes, fisioterapeuta, 44 anos, conta que pretendia comprar um apartamento pequeno para investimento, mas decidiu postergar seu projeto por alguns meses na expectativa de as taxas de juros serem reduzidas. “Vou aguardar algum tempo, mas não tenho muita esperança de que os juros venham a cair."

Atuando na ponta do varejo, Alexandre Peixoto é gerente de vendas em uma concessionária da capital. Ele diz que a alta da taxa de juros dificultou o crédito e freou as vendas. Segundo ele, dois modelos de veículos comercializados na empresa têm taxas de juros subsidiadas e por isso experimentaram crescimento nas vendas próximo a 15% no último mês. Já os demais modelos tiveram baixa entre 15% e 20% no mesmo período. “Torcemos para que os juros não mantenham trajetória de alta.”

Menos oferta de recursos


A menor oferta de crédito pelos bancos privados levou mais consumidores a ter que recorrer ao cheque especial e ao rotativo do cartão de crédito para fechar as contas do mês. Em fevereiro, as concessões de empréstimos encolheram 0,9% em fevereiro, na modalidade com recursos livres. Sem acesso a crédito barato, a solução foi recorrer a linhas que não dependem da autorização imediata do gerente. São os casos do rotativo do cartão de crédito e do cheque especial, justamente as modalidades de financiamento que tiveram maior procura em fevereiro. As altas foram de, respectivamente, 1,2% e 6,4%.

Bom para os bancos, que aproveitaram para embolsar mais algum diante da alta procura dos clientes. Quem recorreu ao cheque especial em fevereiro pagou, em média, juros de 156,6% ao ano. A alta de 2,6 pontos percentuais verificada no mês foi a maior desde junho de 2012. O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, atribuiu esse fenômeno (uso maior do cheque especial) à sazonalidade de fevereiro. “Início de ano concentra o pagamento de tributos, férias, compra de material escolar e até a fatura do cartão de crédito do período de gastos de fim de ano”, disse. Explicando: o consumidor que gastou demais em 2013 se viu obrigado a recorrer às linhas disponíveis.

Certo é que a bandeira dos menores juros básicos da história, 7,25% ao ano, durou apenas seis meses. Em abril de 2013 o BC voltou a elevar a taxa Selic. Desde então foram oito altas consecutivas e uma injeção de 3,5 pontos percentuais na taxa, que voltou ao mesmo patamar que a presidente Dilma Rousseff havia recebido de seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: 10,75%. (DB com Gulherme Araújo).

Alexandre Peixoto revela que as vendas de carros caíram(foto: Alexandre Guzanshe/EM DA Press)
Alexandre Peixoto revela que as vendas de carros caíram (foto: Alexandre Guzanshe/EM DA Press)
 


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