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Estado de Minas O INTERIOR TEM A FORÇA

Cidades de pequeno e médio porte de Minas movimentaram R$ 140 bilhões em 2013

No país, municípios fora das regiões metropolitanas giraram R$ 827 bilhões, segundo estudo inédito


postado em 25/05/2014 07:00 / atualizado em 25/05/2014 07:27

Comércios da Avenida Dom Cabral, em Nova Serrana(foto: Euler Junior / EM / D.A Press)
Comércios da Avenida Dom Cabral, em Nova Serrana (foto: Euler Junior / EM / D.A Press)

Nova Serrana
– Às vésperas do 20º aniversário do Real, implantado em 1º de julho de 1994, um estudo inédito mostra que os moradores do interior de Minas Gerais movimentaram R$ 140 bilhões em compras ao longo de 2013. No restante do país, excluindo-se as regiões metropolitanas, as cidades de pequeno e médio porte movimentaram R$ 827 bilhões (veja mapa) no ano passado. Os valores fazem parte do “Dossiê interior do Brasil: dimensionamento, características e oportunidades”, elaborado pelo Data Popular em parceria com o Sebrae e a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e calculado com base em diversas planilhas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e de outras fontes.

A pesquisa mostra ainda uma espécie de roteiro de compras dos moradores do interior em 2014, pois aponta o sonho de consumo de quem reside fora das regiões metropolitanas. Para se ter ideia, de janeiro a dezembro deste ano, 17,4 milhões de pessoas planejam comprar ou já adquiriram uma TV, seja o aparelho de plasma, LED ou LCD. Elias Soares de Andrade, de 25 anos, faz parte dessa lista. Ele pretende se casar no fim do ano e está mobiliando a moradia.

“No fim do ano passado, adquiri um fogão, um armário e outros móveis. Em janeiro, comprei uma televisão. Gastei em torno de R$ 9 mil, mas faltam alguns móveis bacanas, como um sofá”, disse o rapaz, que reside em Nova Serrana, na Região Centro-Oeste do estado e a cerca de 90 quilômetros de Belo Horizonte. Ao todo, Elias e os mineiros do interior de Minas desembolsaram R$ 4 bilhões, em 2013, com a aquisição de eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos.

Já os mineiros que conquistaram o sonho de comprar o veículo próprio custearam o dobro desse valor. Foi o caso do vendedor Marcos Nogueira, de 20, que nasceu no mesmo ano da implantação do Real. De lá para cá, muita coisa mudou, como a derrocada de uma inflação galopante, que chegou a ultrapassar o percentual de 1.000% ao mês. Para se ter ideia, especialistas avaliam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, deve fechar o ano em torno de 6,5%. Embora possa alcançar o teto estabelecido pelo Ministério da Fazenda, é um percentual bem abaixo da era pré-Real.

Por outro lado, os juros no Brasil continuam nas alturas. A Selic, por exemplo, passou de 7,5% ao ano, em abril de 2013, para os atuais 11%. Resultado: Marcos, o vendedor que comprou um carro, vai pagar R$ 9 mil de juros no Uno que ele financiou em 48 prestações. “O problema no Brasil é o juro. Esse carro é usado, ano 2010. Sairá, no fim, por R$ 32 mil. Comprei-o porque eu tinha uma namorada em Belo Horizonte e precisava ir à capital toda semana”, explica o comerciante, que também mora em Nova Serrana.

Os gastos dos mineiros do interior com veículos (R$ 8 bilhões) e com equipamentos eletrodomésticos e eletrônicos, porém, não estão longe de serem os maiores valores do dossiê. A cifra de R$ 140 bilhões leva em conta 19 itens, sendo as despesas do lar as responsáveis pela maior parcela desse montante: R$ 45 bilhões. Parte desse valor abasteceu os caixas da Eletro Sá, uma loja que vende chuveiros, luminárias, cabeamento e outros artigos na histórica Diamantina, no Vale do Jequitinhonha.

(foto: Arte / EM)
(foto: Arte / EM)

O dono do estabelecimento, Samuel Sá, de 24, conta que suas vendas subiram mais de 100% no confronto entre o primeiro trimestre deste ano e o mesmo período do anterior. “Meu objetivo para 2015 é abrir uma filial em outra cidade da região”, planeja, acrescentando que uma das lições que aprendeu na vida é dar um passo de cada vez. Em 2011, ele pediu conta na empresa em que trabalhava e se tornou um microempreendedor individual (MEI), categoria criada pelo governo, há cinco anos, para estimular a migração da informalidade para a formalidade e para abrir as portas a quem desejava entrar no ramo dos negócios. Pela lei, porém, o MEI pode faturar até R$ 60 mil anuais.

A loja montada por Samuel em 2011 começou a faturar mais que esse valor e, em 2013, ele subiu um degrau: virou microempresa. “Fiz mais de 10 cursos no Sebrae e fui colocando em prática o que aprendi, como o balanço de caixa e como expor corretamente meus produtos. Daí as vendas foram aumentando”. Resultado: hoje ele conta com quatro funcionários. Aliás, o estudo concluiu que as pequenas empresas do interior do Brasil geram R$ 7,1 bilhões de massa salarial formal, sendo R$ 1,5 bilhão em Minas Gerais.

OBJETIVO O estudo foi elaborado com a intenção de ajudar o poder público a subsidiar estratégias e ações para o interior, cuja população corresponde a 49% dos habitantes do país (94,3 milhões dos 190,7 milhões de homens e mulheres que vivem no Brasil).

“É importante ter políticas locais que incentivem as compras governamentais e privadas da região, para que as divisas fiquem nos municípios e estes possam se desenvolver. Da mesma forma que as empresas locais se modernizem em termos de revitalização de lojas, vitrines etc., tornando o produto mais atrativos e acessível ao consumidor”, alerta Francis Bossaert, gerente da unidade Desenvolvimento Territorial do Sebrae Minas.

O representante comercial Rômulo Garcia se preocupa com as vitrines das lojas em que ele tem parceria para negociar aparelhos da telefonia móvel. “Atendo 18 lojas da Região Centro-Oeste. Em Nova Serrana, por exemplo, as empresas (que vendem os aparelhos da operadora que represento) negociam em torno de 1 mil unidades por mês. Em Pará de Minas, onde resido, são mais de 600 unidades. O bom de negociar aparelhos de telefone é que eles estão sempre mudando, o que ajuda a aumentar esse mercado. O interior mudou muito nos últimos anos”, avaliou. Em relação à era pré-Real, aliás, todo o país mudou.

Tamanho não é documento

Genilson Pacheco acompanhou a expansão imobiliária da região de Nova Serrana(foto: Euler Junior / EM / D.A Press)
Genilson Pacheco acompanhou a expansão imobiliária da região de Nova Serrana (foto: Euler Junior / EM / D.A Press)
Nova Serrana e Serra da Saudade – O dia a dia de Genilson Pacheco, dono da imobiliária Confiança, é um corre-corre danado: ele atende o celular várias vezes ao dia e está sempre acompanhando o mercado de Nova Serrana, no Centro-Oeste do estado, onde a população foi a que mais cresceu em percentual na última década. Resultado: o preço dos imóveis disparou no município e ajudou o interior de Minas a liderar o ranking nacional de gastos com material de construção civil: R$ 12 bilhões. Para se ter ideia, a segunda colocação ficou com o interior de São Paulo (R$ 9 bilhões).

“O preço dos imóveis subiu bastante em cinco anos. Nessa avenida, a Dom Cabral (Centro), o valor médio do metro quadrado foi de R$ 800, em 2009, para R$ 4 mil em2014. O preço disparou porque a população cresceu. Aqui há apartamentos que são vendidos na planta por mais de R$ 1 milhão. Negociei três recentemente. Aqui perto há um edifício residencial em construção. São 30 unidades, e todas já foram negociadas por mais ou menos R$ 300 mil cada”, conta Genilson, que trocou a faculdade de direito em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, para ganhar a vida no ramo imobiliário no município do Centro-Oeste há nove anos.

Parte do gasto com material de construção no país, destaca Francis Bossaert, gerente da unidade de Desenvolvimento Territorial do Sebrae Minas, pode ser atribuída ao aumento real do salário mínimo nas últimas décadas.” Não é à toa que as lojas do setor são onipresentes nos municípios menores. Talvez seja até um indicador de que a qualidade de vida do interior está realmente melhorando. Outro fato é que hoje há muito mais crédito imobiliário e grande parte das instituições financeiras disponibiliza essas linhas para a compra de material de construção”, complementa o especialista.

O boom imobiliário em Nova Serrana, conhecida pela quantidade de fábricas de calçados, fomentou o emprego na cidade. Ainda assim, muitos empresários reclamam da falta de mão de obra. “Tenho amigos que são donos de empresas que me telefonam e dizem que se aparecer algum desempregado aqui é para encaminhar para eles”, conta o dono da imobiliária.

No primeiro quadrimestre do ano, a taxa de emprego no município cresceu 15,41%, tendo a taxa da construção civil alcançado 11,34%. No Brasil, as mesmas taxas foram, respectivamente, de 1,13% e 2,42%. Em Minas Gerais, esses percentuais foram, na mesma ordem, de 1,28% e 1,25% – os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

A oferta de empregos na cidade atraiu grandes redes, como a Ricardo Eletro, a Magazine Luiza, a Casas Bahia e o Ponto Frio. Pessoas de diversos estados e de cidades de Minas se mandaram para lá. Por outro lado, a cerca de 150 quilômetros de Nova Serrana, a população da pacata Serra da Saudade encolheu. De 2000 para 2013, o número de habitantes caiu de 873 pessoas para 825. Com isso, Serra da Saudade se tornou a cidade brasileira com a menor população – o “título” antes pertencia a Borá (SP), que agora tem 834 habitantes.

Lá não há posto de combustível, agência bancária, restaurante, sorveteria... Mas a tranquilidade do local é destaque entre os moradores. “É uma cidade tranquila, sem violência. Podemos até dormir com a porta destrancada”, garante Cássio Rodrigues, de 27, dono da única lotérica do município. É lá que Maria Márcia Gomes, de 57, recebe seu salário como agricultora responsável pela horta da creche e da escola municipais.

“Antes de a lotérica abrir, há dois anos, eu precisava ir até outra cidade para sacar meu salário”, conta Maria Márcia, que planta beterraba, cenoura, brócolis e que recebe um salário mínimo da prefeitura, a maior empregadora do município, onde há um único microempreendedor individual. Trata-se de Renato Antônio de Farias, de 35 e dono do Baratão do Renato, uma loja que reforma e vende móveis.

“Sou de Pará de Minas e vim passear dois dias aqui. Gostei tanto que fiquei. Lá se foram sete anos. Não há lugar melhor no mundo para se morar. Aqui não há ladrão, não há drogado, não há violência. E meu negócio está prosperando”, comemora. Parte do aumento de seu serviço se deve à tecnologia: Renato colocou sua loja na rede virtual. “É uma boa propaganda, pois consigo vender meus serviços para fora da cidade.”


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