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Estado de Minas

Indústria tenta driblar impactos da Copa do Mundo na economia

Com a economia desaquecida, fábricas vão dar férias coletivas para reduzir produção. Em alguns setores, dispensa nos jogos terá horas compensadas


postado em 30/05/2014 06:00 / atualizado em 30/05/2014 07:20

Em Nova Serrana, indústria calçadista pretende parar no período dos jogos para se ajustar ao mercado (foto: NANDO OLIVEIRA/ESP. EM/D. A PRESS)
Em Nova Serrana, indústria calçadista pretende parar no período dos jogos para se ajustar ao mercado (foto: NANDO OLIVEIRA/ESP. EM/D. A PRESS)

A indústria se prepara para tentar contornar nova queda da produção em junho, com os jogos da Copa do Mundo, que só agravam o movimento de altos e baixos no ritmo das fábricas. Enquanto a bola rolar nos gramados pelo Brasil, fica adiada a tão almeja reação do setor. As estratégias para reduzir ao mínimo os impactos da competição, especialmente dos jogos da Seleção Brasileira, sobre o chão de fábrica estão sendo adotadas de acordo com o nível dos estoques. Elas variam do reforço de horas extraordinárias nas últimas semanas à paralisação de máquinas durante as partidas, com a futura compensação da jornada de trabalho interrompida, e a opção das férias coletivas naquelas empresas que mais se ressentem do desaquecimento do consumo de seus produtos.

A produção industrial brasileira caiu 0,5%, na média, em março e a de Minas Gerais diminuiu 0,2%, com base no levantamento de dados mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Novos números serão divulgados sobre o comportamento em abril na terça e quarta-feira da semana que vem. As fábricas mineiras estão rodando a um nível 4,8%, em média, abaixo do observado em julho de 2008, portanto antes da crise financeira mundial. O nível dos estoques cresceu em abril acima do planejado pelas empresas, segundo consulta feita pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) a 151 indústrias de pequeno, médio e grande porte.

Férias coletivas serão concedidas durante o mês que vem em boa parte das empresas do polo calçadista de Nova Serrana, no Centro-Oeste de Minas, informou o sindicato do setor (Sindinova). A medida ajusta uma produção que já enfrenta baixa de pedidos do comércio, conta o presidente da instituição, Pedro Gomes da Silva. “Grande parte das fábricas está sem pedidos e enfrenta queda de vendas”, diz o industrial. O Sindinova está coletando informações para fazer um balanço da evolução da produção neste primeiro semestre.

Com estoques elevados, montadoras vão dar férias coletivas entre 10 e 20 dias no período do Mundial(foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
Com estoques elevados, montadoras vão dar férias coletivas entre 10 e 20 dias no período do Mundial (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)

Em Betim, na Grande Belo Horizonte, o sindicato local dos metalúrgicos recebeu comunicado de férias coletivas de 10 a 20 dias de duas empresas, sendo uma delas fornecedora da Fiat Automóveis, a ZF Sistemas de Direção. A maioria das fabricantes de autopeças aguarda a decisão da montadora italiana sobre como será conduzida a produção durante a Copa, informou o presidente do sindicato dos trabalhadores, João Alves de Almeida. “Algumas empresas já manifestaram a intenção de negociar a compensação da jornada de trabalho, depois dos jogos do Brasil, mas consultamos os trabalhadores e eles entendem que devam ser liberados. Seria uma troca pela produtividade que eles têm oferecido às fábricas”, afirma.

A Fiat e a Mercedes Benz, de Juiz de Fora, informaram, por meio de suas assessorias de imprensa, que estão estudando alternativas diante do impacto dos jogos sobre a produção. Para se ajustarem à retração do mercado, as duas montadoras anunciaram redução parcial da produção. A Fiat diminuiu em 50% o ritmo de produção da linha 4 da fábrica de Betim, de onde saem os modelos Linea, Idea e Bravo, e a unidade fabril de caminhões Mercedes está trabalhando no sistema de jornada reduzida, durante quatro dias por semana.

No setor têxtil, as empresas se dividem entre grupos que concederão férias coletivas na primeira etapa da Copa, na maioria dos casos de 10 dias, e aquelas que vão dispensar os empregados para assistir às partidas e compensar posteriormente as horas não trabalhadas. O presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas de Minas Gerais, Flávio Roscoe, observa que como algumas indústrias trabalham em turnos durante 24 horas sete dias por semana, a competição afetará particularmente o turno diurno, mas a tendência é de alguma redução da produção global do mês. “Os clientes também reduzem as suas encomendas no período”, afirma.

Negociação coletiva

O sistema de compensação de jornada relativa aos dias de paralisação da produção já está sendo negociado por empresas do setor automotivo e metalúrgico em Belo Horizonte e Contagem, na Região Metropolitana da capital. “O que não podemos é aceitar que a produção seja reduzida em prejuízo dos direitos dos trabalhadores”, diz Geraldo Valgas, presidente do sindicato dos empregados.

Polos industriais a exemplo dos fabricantes de móveis de Ubá e região, na Zona da Mata mineira, também estão adotando a negociação com os trabalhadores para compensar os dias ou horas parados no Mundial. O presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá, Michel Pires, diz que a solução foi definida para manutenção da produção das fábricas que estão com seus estoques em níveis considerados normais. Uma das formas de compensação definida em industrias de calçados de Belo Horizonte que trabalham com turno de trabalho contínuo, informou o presidente do sindicato das empresas de Minas (Sindicalçados), Jânio Gomes Lemos, será a antecipação do horário de entrada dos trabalhadores nos dias das partidas do Brasil.

Para quem vai trabalhar: telões


Para as empresas que não podem interromper a produção ou precisam garantir os estoques, como as industrias de alimentos, os lances dos craques do futebol só serão acompanhados de telões instalados nas fábricas, se os sistemas de segurança deixarem. Independentemente das soluções que serão usadas nas unidades fabris, ainda é cedo para estimar a perda em junho e com qual intensidade ela afetará as projeções para a produção industrial de 2014. O gerente de Estudos Econômicos da Fiemg, Guilherme Veloso Leão, afirma que a instituição não mais espera taxa de crescimento da produção mineira e brasileira superior a 1,5% neste ano.

“Tendo em vista que a economia está desaquecida, a tendência é de que os jogos da Copa funcionem como um fator adicional para redução da produção. Só não há como estimá-la no momento”, diz Veloso Leão. Essa equação vai depender, inclusive, do desempenho da Seleção Brasileira, destaca o presidente do Sindimalhas, Flávio Roscoe. “O desempenho do Brasil na competição também conta para a definição dos dias e horas de paralisação, afinal vamos passar por todas as etapas do campeonato?”.

Com boas perspectivas de vendas de seus produtos no mercado brasileiro e no exterior, a Forno de Minas, maior fabricante brasileira de pães de queijo, programou horas extraordinárias de trabalho já cumpridas, fará compensação de jornada em junho para os dias em que liberar parte dos trabalhadores e vai instalar telão na fábrica para atender o pessoal que não poderá se ausentar das linhas de produção. O gerente industrial da empresa de Contagem, na Grande BH, Analdo Guimarães, diz que o turno diretamente afetado nos horários previstos dos jogos do Brasil será de pelo menos uma centena de trabalhadores.

“Planejamos ajustes até mesmo para assegurar o transporte dos empregados porque não podemos correr o risco de perder produção”, afirma Guimarães. Na fábrica de Lagoa da Prata, no Centro-Oeste de Minas, da Embaré, uma das maiores fabricantes de produtos lácteos do país, os segmentos de lácteos e caldeira não podem paralisar. A unidade demanda vapor num processo contínuo alimentado em três turnos e cerca de 150 trabalhadores, que representam 10% do quadro de pessoal, estão nessas áreas essenciais.

A opção acertada com a empresa nesses casos é a de livre negociação entre empregados qualificados para as funções. Quem não se interessar pelos jogos poderá substituir o colega apaixonado por futebol. Na área da confeitaria há alguma flexibilidade para a adequação da produção, dependendo do plano pré-estabelecido, com a compensação de eventuais horas não trabalhadas. O grupo siderúrgico ArcelorMittal Brasil Aços Longos informou que as áreas operacionais não vão parar nas fábricas de todo o país, incluindo as mineiras de Sabará, Juiz de Fora e João Monlevade. Em algumas delas, serão instalados aparelhos de TV para acompanhamento dos jogos do Brasil onde for possível e desde que não haja riscos à segurança.

Efeito no varejo
A perspectiva de maior número de feriados em junho, associados aos jogos da Copa, e de uma menor circulação de clientes nas lojas tende a reduzir as compras do comércio junto a diversos setores da indústria. “Se houver mais feriados, sem dúvida, isso vai impactar negativamente os estoques na maioria dos estabelecimentos”, afirma o economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). De acordo com estudo da CNC, o comércio, incluída a comercialização de combustíveis e móveis, terá perda superior a R$ 1 bilhão em junho. (MV)


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