O governo de Minas Gerais quer atacar as deficiências de logística para escoamento de produtos destinados às exportações e admite compartilhar investimentos com a iniciativa privada em infraestrutura de portos fluviais. O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Rogério Nery, entrega até dezembro a proposta de concessão de hidrovias com base em estudo que está sendo feito para definição do melhor modelo entre a licitação pública e uma parceria público-privada (PPP).
Em outra frente para contornar um dos principais gargalos no comércio de Minas com o exterior, técnicos antecipam acordo com a nova empresa concessionária do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, de Confins, na Grande BH – a BH Airport – com objetivo de pôr em funcionamento o Aeroporto-Indústria, área incentivada aos exportadores no terminal. A BH Aiport reúne os vencedores do leilão de Confins, a CCR S/A e os operadores Flughafen Zurich AG e Flughafen Munchen GmbH. O governo mineiro pretende reservar espaço no aeroporto também para a instalação de câmaras frigoríficas a serviço de embarques de alimentos.
Segundo Nery, estão sendo analisados a viabilidade econômica da hidrovia e o formato jurídico de uma eventual concessão. “Demanda existe, principalmente do agronegócio e do comércio de gás, que justificaria uma hidrovia em determinados pontos do interior do estado”, afirmou. O secretário não revelou, no entanto, a localização dos modais de transporte, com o argumento de que a divulgação antecipada pode prejudicar a licitação de áreas.
Para o professor Mário Cicareli Pinheiro, do departamento de Engenharia Hidráulica de Recursos Hídricos da UFMG, a estratégia faz sentido como aproveitamento dos rios São Francisco e Paranaíba. No Velho Chico, a opção natural seria a revitalização da estrutura da hidrovia existente a partir de Pirapora, no Norte do estado, que já conta com porto e equipamentos. Outra possibilidade seria a navegação comercial no Paranaíba, no Triângulo Mineiro, conectando o Porto Alencastro à hidrovia Tietê-Paraná. “É boa política, mas ela tem de ser pensada de uma forma que direcione as cargas naturais do seu entorno com conexões a outros modais de transporte, como a ferrovia”, afirmou o especialista.
Custos
Envolvido no trabalho, o secretário adjunto de desenvolvimento econômico, Antônio Eduardo, disse que há pelo menos duas bacias hídricas de Minas que mereceriam investimentos em portos fluviais. A possibilidade de o estado se associar a investidor privado no empreendimento está sendo considerada. Os portos fluviais oferecem como atrativos , na visão do estado, custos menores e o transporte mais seguro de mercadorias na comparação com as rodovias. Em Confins, a discussão com a empresa concessionária do terminal refere-se ao formato de cessão dos espaços destinados ao Aeroporto-Indústria, primeiro projeto do gênero no país e inaugurado em março.
Exportações via aérea
Do total das exportações mineiras no ano passado, avaliadas em US$ 33,437 bilhões, as vendas efetuadas por modal aéreo somaram só 6,1%, o equivalente a US$ 2,04 bilhões, de acordo com o s dados consolidados no Panorama do Comércio Exterior de Minas, divulgado ontem pela Exportaminas, agência de promoção do setor vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico. Entre os 15 aeroportos usados para embarque, o de Confins, na Grande BH, ficou na terceira posição, depois dos de Guarulhos e de Viracopos, ao responder com modestos 2,6% do valor global, uma receita de US$ 52,72 milhões.
Se consideradas as exportações brasileiras por Confins, mais de um terço das mercadorias embarcadas em 2013 foi de metais preciosos e pedras e artigos de joalheira (36,6%). Em segundo lugar, ficaram os embarques de petróleo e derivados, seguidos de instrumentos e aparelhos de ótica e de precisão. O modal marítimo despachou 89,6% da receita de vendas do estado no exterior.
Já as vendas externas do estado ficaram praticamente estáveis no ano passado, ante a receita de US$ 33,24 bilhões em 2012, com evolução de 0,6%, enquanto as importações subiram 2,4% na mesma base de comparação, totalizando US$ 12,34 bilhões. A concentração do comércio em produtos básicos se manteve, com 48,8% do total em minérios metalúrgicos, basicamente o ferro. Mais que o resultado final, preocupa a queda de 10,7% do número de empresas exportadoras, de 1.546 em 2012 para 1.380 estabelecimentos no ano passado, menor nível da série de dados, apurada desde 2004. O universo de exportadores caiu pelo sexto ano.
Barreiras
Fora da esfera da política cambial conduzida pelo governo federal, a coordenadora da Exportaminas, Fernanda Cimini, diz que as principais dificuldades dos exportadores estão ligadas à falta de incentivo para cruzar a fronteira, sobretudo em períodos de demanda interna ativa por seus produtos, aos entraves burocráticos e às complicações na logística dos embarques. “Trabalhamos no sentido de reverter essa tendência, atendendo os exportadores”, afirma. (MV)