A probabilidade de a economia brasileira já estar em recessão é de 90%, aponta estudo entregue com exclusividade ao Broadcast pelo Banco Cooperativo Sicredi. O trabalho tomou como premissa o critério de classificação de recessões do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ou seja, a avaliação de séries econômicas de diversos indicadores que podem identificar o curso de um declínio na taxa de crescimento antes de se confirmar uma recessão técnica de dois trimestres seguidos de Produto Interno Bruto (PIB) negativo.
Quando se expurga do modelo o Índice de Confiança da Indústria (ICI), a probabilidade de a economia estar em recessão cai para 20% - indicativo de que a indústria responde destacadamente pelo arrefecimento por qual passa a economia brasileira.
Existem duas ou mais formas de classificar recessões econômicas, afirma o economista do Sicredi Pedro Ramos. A mais usual é aquela que aceita como tal o registro de dois trimestres consecutivos de PIB negativo. O Ibre, segundo Ramos, tem como critério a avaliação de séries econômicas de diversos indicadores, cruzando-as com períodos em que a economia de fato entrou em rota de declínios.
"Nós pegamos estas séries de variáveis e indicadores antecedentes e coincidentes para ver se neste momento estamos ou não em recessão", explica o economista. Para isso, o Departamento Econômico do Sicredi criou um modelo com uma variável que assume zero (0) quando a economia está em expansão e 1 quando está em recessão.
"Colocamos o conjunto de variáveis no modelo para classificar 0 ou 1 e ver se, pela classificação da FGV, a economia encontra-se em regime de queda. Nosso principal resultado é que estamos com 90% de chance de já estarmos em recessão no segundo trimestre", anotou Ramos.
Entraram no modelo do Sicredi indicadores como expedição de papelão ondulado (ABPO), base monetária, consultas em bases de dados do comércio de São Paulo, empregos formais, confiança do consumidor e da indústria, entre outros.
Interessante, avalia o economista do Sicredi, é que quando se retira o Índice de Confiança da Indústria (ICI) do exercício o modelo mostra num primeiro instante que a equação está incompleta. Mas depois, forçado a rodar assim mesmo, o modelo mostra que a probabilidade de a economia já se encontrar em recessão cai para 20%.
"A conclusão é de que muito dos 90% de probabilidade de a economia estar em processo de declínio na sua taxa de crescimento se deve ao mau comportamento da indústria. Isso é explicado pelo fato do ICI ter chegado a 87 pontos, o que ocorreu só em períodos em que o Brasil esteve em recessão", explicou Ramos.
Colabora para o mau momento da economia o fato de que em outras épocas, a despeito de a indústria não crescer ou crescer menos, a agropecuária e os segmentos de serviços mostravam taxas destacadas de crescimento. Agora, observa Ramos, serviços e agropecuária estão crescendo menos. "Caracteriza-se assim um quadro que não acontecia desde 2009. Agora, as diversas variáveis de confiança estão caindo para níveis não vistos antes", afirma.
NBER
Ramos diz que o Sicredi se sentiu movido a construir um modelo que tentasse identificar se o País já está em processo de recessão porque a economia tem apresentado, por meio de seus diversos indicadores antecedentes e coincidentes de atividade, resultados análogos aos de períodos que antecederam momentos marcados por recessões no Brasil.
Ele lembra que é com base nesse tipo de evidências que o National Bureau of Economic Research (NBER) entendeu em 2000 que os Estados Unidos haviam entrado em recessão antes mesmo dos dois trimestres seguidos de queda do PIB.
"O NBER faz a classificação de ciclos econômicos", disse Ramos. Esse mesmo trabalho, salvo algumas pequenas diferenças, o Ibre faz no Brasil.
De acordo com ele, é pertinente a probabilidade de 90% de a economia brasileira já se encontrar em recessão porque, além de os indicadores antecedentes de atividade já trazerem resultados negativos, a consolidação dos dados econômicos no primeiro trimestre levou a um uma baixa taxa de crescimento do PIB, de apenas 0,2%.
O segundo trimestre, segundo parte majoritária dos analistas do mercado financeiro, deve se encerrar com a economia adentrando no campo negativo. No Sicredi, a previsão é de uma queda de 0,1%.
Na semana passada, a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) informou que o fluxo de veículos pesados caiu 4,3% em junho, a Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO) confirmou queda de 3,3% na expedição de papelão ondulado e a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou recuo na fabricação de veículos de 19%, dessazonalizado pelo Banco Sicredi.
Não dá, porém, para assegurar que a economia brasileira terá dois ou três trimestres consecutivos de queda do PIB, afirma o economista. Mesmo porque, segundo Ramos, os setores da economia que viram suas respectivas atividades caírem poderão se recuperar. Para ele, a economia não parou em junho só por causa da indústria. "Parou também para o comércio. Agora o aquecimento deve voltar, mas não o suficiente para recuperar os impactos da Copa sobre os estoques", disse.