(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Mercados reagem à morte trágica de Eduardo Campos

Para analistas, volatilidade vai afetar o pregão até que Marina Silva defina se é candidata


postado em 14/08/2014 06:00 / atualizado em 14/08/2014 07:18

A trágica morte do presidenciável Eduardo Campos (PSB), que estava a bordo de uma aeronave que caiu ontem pela manhã em Santos, no litoral sul de São Paulo, levou pânico ao mercado financeiro. Tão logo surgiram as primeiras notícias sobre o acidente, a Bolsa de Valores de São Paulo inverteu a tendência de alta, que seguia durante toda a manhã, e passou a operar no vermelho. Nas mesas de operação, o clima era de incerteza, com os analistas de bancos e corretoras se perguntando como ficará o quadro político a dois meses das eleições.

Por volta do meio dia, boatos de que a candidata a vice-presidente na chapa de Campos, a ex-senadora Marina Silva (Rede), também estaria à bordo da aeronave que se chocou a um conjunto de casas localizado no bairro do Boqueirão, em Santos, alimentaram as tensões nos mercados. Em questão de minutos, o Ibovespa, índice que acompanha as principais ações negociadas no pregão paulista, passou de alta para uma forte queda, de mais de 2%. Menos de uma hora depois, a confirmação de que Marina Silva não estava entre os mortos, que chegaram a sete, trouxe certa calma ao mercado. Mesmo assim, não a ponto de reverter a tendência de perdas da bolsa, que fechou em queda de 1,53%. O dólar fechou o dia estável, a R$ 2,278 para a venda.

Para analistas, a volatilidade continuará ditando o rumo do pregão até que o PSB defina o sucessor de Eduardo Campos na campanha ao Planalto. “Até que fique claro se a Marina vai ou não entrar na disputa, porque ainda não há nenhuma sinalização desse tipo, o mercado ficará volátil”, disse a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif.



Para ela, a tensão que se viu ontem, com a bolsa caminhando em direções opostas em um curto espaço de tempo, “é do jogo”, e se deve, sobretudo, à indefinição sobre se haverá ou não um segundo turno nas eleições de outubro. “O mercado tem seus exageros, e a incerteza do quadro político apenas alimenta esse vai-e-vem da bolsa”, assinalou. O que está em jogo, emenda o estrategista-chefe para o Brasil do banco japonês Mizuho, Luciano Rostagno, é se Marina Silva será a candidata de 2014, quando ainda oscilava abaixo de 10% das intenções de voto, ou a de 2010, quando arregimentou mais de 20 milhões de votos e foi decisiva para a realização de um segundo turno entre PT e PSDB.

A tensão que se viu ontem na bolsa afetou diretamente as ações da Petrobras, uma das empresas mais afetadas pela política econômica do governo, que segurou reajustes nos preços dos combustíveis para tentar controlar uma escalada ainda maior da inflação. Os papéis da petroleira despencaram quase 5% ontem, jogando todo o Ibovespa para o campo negativo. Para Rostagno, além da petroleira, os papéis da estatal Eletrobrás também deverão apresentar instabilidade por causa da indefinição no quadro político.

Incertezas

O pernambucano Eduardo Campos, poderia representar uma "virada de mesa" na eleição deste ano, na opinião do gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo. A reação instantânea do mercado à inesperada morte do político era inevitável, acrescenta o analista. "Sem Eduardo, as incertezas se intensificam, e o mercado logo percebeu isso", argumenta.

A última vez que o mercado financeiro esteve tão atrelado ao mundo político, avalia Galhardo, foi em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão. "Há tempos, não via os investidores tão reféns dos movimentos na política", reforça. Embora em uma escala menor do que nas eleições de 2002, a Bolsa e o câmbio têm refletido o que os investidores esperam da política macroeconômica, analisa o professor da Universidade de São Paulo (USP) Simão Davi Silber. "A terceira via sumiu. Começa uma nova eleição que ninguém sabe no que vai dar. Qualquer que seja a decisão do comando da campanha de Eduardo Campos, a morte dele traz ainda mais dúvidas em um momento que já não era o dos mais claros."

Há 12 anos, na primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o dólar chegou a bater R$ 4 quando uma pesquisa colocou o petista à frente nas intenções de voto. "A volatilidade tende a aumentar. Com esse episódio, o mercado deu mais um recado de que está completamente inseguro", comenta Thiago Guedes, sócio da DXI Planejamento Financeiro, apostando que as próximas pesquisas exercerão impacto ainda maior no mercado. (Com Diego Amorim e Rosana Hessel)

 

Empresariado lamenta

 

A interrupção da carreira política do candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB) foi lamentada pelas principais lideranças empresariais do país. Reconhecido como líder de uma nova geração de políticos, Eduardo Campos tinha bom diálogo e o respeito dos empresários. Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) reconheceu a capacidade de gestão e a habilidade de articulação dele, que o colocaram entre os principais presidenciáveis: "A perda prematura desse jovem líder entristece a todos e empobrece a política brasileira. Neste momento de pesar, nossos pensamentos se voltam para os familiares das vítimas desse trágico acidente".

O presidente do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), Flávio Rocha, lembrou os encontros do setor com o ex-governador de Pernambuco, nos quais Campos se mostrou sempre aberto a dialogar sobre os assuntos ligados ao setor. "É uma grande perda para o país". Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza, acrescentou: "a impressão que fica é que ele era uma pessoa interessada, aberta ao diálogo e sensível não só ao setor varejista, mas ao Brasil por inteiro".

O presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau, se emocionou ao falar da perda do pessebista. "Era um símbolo de líder jovem com competência. Era a esperança para o futuro, mesmo que não se elegesse hoje". A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em nota, lamentou a morte do presidenciável. "O país perde um grande brasileiro de trajetória marcada por dedicação diante de suas convicções."

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, classificou como "uma perda forte para a política nacional" a morte do candidato do PSB. Para ele, Campos era "um político nato, uma pessoa que negociava e costurava com habilidade". O diretor de Infraetrutura da General Eletric, Daniel Meniuk, considerou difícil digerir a notícia. "Ele tinha um discurso afinado com o do empresariado. Um cara com visão de país, negócios, desenvolvimento. Era um visionário de sucesso. Perda absurda".

Carisma

Em seus encontros de campanha, Campos deixou boa impressão onde esteve. Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa, o candidato "cativou pessoalmente" a todos que participaram de reunião recente sobre o futuro do gás natural. "Uma tragédia. Não há como descrever de forma diferente a morte de Eduardo Campos (…) seu compromisso com o debate técnico das questões de energia e com o diálogo nos impressionou", afirmou Pedrosa.

Os reflexos nas eleições foram outro ponto levantado por empresários. "Forte candidato à Presidência da República, incentivava o debate eleitoral e a discussão de ideias e soluções para o país. Homem público, com experiência no Poder Executivo, respeitador do Estado Democrático de Direito, das instituições, das regras, dos contratos, comprometido com a competitividade da indústria nacional e com a atração de investimentos, especialmente em infraestrutura. Fará falta a todos nós", afirmou o presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE), Alexei Vivan.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)