O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que não comentará o indiciamento da diretora gerente Christine Lagarde na investigação de uma arbitragem entre o empresário Bernard Tapie e o banco Crédit Lyonnais. "A diretora-gerente já fez declarações sobre o assunto. Viajou a Washington e evidentemente informará o Conselho de Administração (do FMI) o mais rápido possível", disse o porta-voz do Fundo, Gerry Rice. "Não tempos outro comentário a fazer", completou.
Lagarde foi indiciada pela justiça francesa por "negligência" na investigação de um polêmico caso de arbitragem privada, o que fragiliza sua posição no FMI. Mas ela já ressaltou que não pensa em renunciar ao cargo. Lagarde, cujo destino está nas mãos do Conselho de Administração do FMI, anunciou à AFP o indiciamento no caso de arbitragem, que aconteceu quando ela era ministra da Economia na França para encerrar uma disputa entre o polêmico empresário Bernard Tapie e o banco Crédit Lyonnais.
Procurada pela AFP para saber se pretende renunciar ao cargo no FMI, a ex-ministra da Economia francesa foi taxativa e disse "não". "Volto a trabalhar em Washington ainda nesta tarde", afirmou. Lagarde sucedeu em 2011 no comando do FMI o também francês Dominique Strauss-Kahn, afetado por um escândalo sexual em Nova York.
Lagarde foi interrogada pela quarta vez na terça-feira, por mais de 15 horas, pelos magistrados da Corte de Justiça da República (CJR), instância habilitada para investigar os membros do governo por supostas irregularidades cometidas no exercício das funções.
"A comissão de instrução da CJR decidiu por meu indiciamento com base em uma simples negligência", disse à AFP no escritório de seu advogado, Yves Repiquet. "Depois de três anos de instrução e dezenas de horas de interrogatórios, a comissão se rendeu à evidência de que não fui cúmplice de nenhuma infração e se limitou a alegar que não teria sido suficientemente vigilante na arbitragem", completou.
O processo de arbitragem rendeu ao polêmico empresário Tapie uma indenização milionária. "Pedi a meu advogado que apresente todos os recursos a esta decisão, que considero totalmente infundada", completou. A justiça investiga a sentença arbitral de 2008 que concedeu 400 milhões de euros a Bernard Tapie, sendo 45 milhões por danos morais, para acabar com uma longa disputa entre o empresário e o banco Crédit Lyonnais pela revenda da empresa de artigos esportivos Adidas.
Cinco pessoas são acusadas de "fraude em grupo organizado", incluindo o próprio Tapie e o ex-diretor de gabinete de Lagarde quando ela era ministra da Economia e atual conselheiro delegado da empresa de telefonia Orange, Stéphane Richard.
Os juízes tentam determinar se a sentença foi resultado de um "simulacro" de arbitragem organizado com o aval do governo da época, quando Nicolas Sarkozy era presidente do país. Em 2013, a justiça considerou Lagarde testemunha assistida, uma figura judicial que fica entre a simples testemunha e a acusação. Desde então, o FMI manifesta apoio a sua diretora. Lagarde, que poderia ser condenada à prisão e a pagar 15.000 euros de multa, é criticada por não ter apresentado um recurso contra a decisão da arbitragem.