A estiagem prolongada que assola a Região Sudeste do Brasil obriga a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) a trabalhar muito aquém da sua capacidade instalada. A empresa estatal tem possibilidade de produzir até 7,4 mil megawatts (MW), mas, devido ao baixo nível dos reservatórios, tem gerado apenas 2,9 mil MW – 39,18% do total. Em Três Marias, por exemplo, das seis turbinas, somente duas continuam em operação, o que faz com que a produção seja de 36MW em vez dos 396MW possíveis.
A Usina de Aimorés, no Rio Doce, ficou 45 dias sem gerar energia, tendo sido reativada depois da chuva do fim de semana. A unidade tem potência instalada de 330Mw. A Usina de Rosal, na divisa do Rio de Janeiro com o Espírito Santo, também voltou a funcionar nos últimos dias. Outra que ainda corre o risco de ser desligada é a de Camargos, no Rio Grande. A chuva ajudou a elevar um pouco o nível da represa, passando de 0,4% para 0,8%, mas não está afastada a possibilidade de interrupção da geração. A unidade está produzindo apenas 6,5% da capacidade instalada (3 dos 46 megawatts possíveis). A pequena central hidrelétrica de Cajuru permanece desligada.
O gerente de Planejamento Energético da Cemig, Marcelo de Deus, afirma que, apesar da capacidade instalada ser de 7,4 mil MW, a empresa “jamais” ativa toda a sua potência. Isso porque, ao longo do ano, parte das usinas está em manutenção e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) administra a geração de acordo com a conveniência. Mas afirma que “a seca, com certeza, agrava o quadro”. Segundo ele, a baixa geração, “em parte”, é motivada pela vazão reduzida.
Devido ao baixo nível em Três Marias e em outras unidades, a Cemig faz monitoramento constante das bombas geradoras para verificar o comportamento das turbinas. Quinze sensores acompanham as reações de alguns fatores, como a vibração do eixo. O controle se explica por ser a primeira vez que a usina funciona em patamar tão baixo. Apesar de se tratar de um trabalho atípico, ainda não representa transtorno. O principal problema seria a repercussão da usina quando a represa atingir o volume morto. Mas, pelos cálculos da Cemig, isso só aconteceria em dezembro, mesmo assim, se não houver chuvas – cenário pouco provável, uma vez que já se iniciou o período chuvoso.
A represa de Três Marias também aproxima-se do chamado volume morto. Com menos de 3% da capacidade, a vazão foi reduzida para 120 metros cúbicos por segundo. A medida será válida até meados de dezembro. A expectativa da Agência Nacional das Águas (ANA) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é que, com a vazão reduzida durante o período chuvoso, dê para encher a represa. “A vazão vai ser mantida baixa para aumentar o volume, já pensando no ano que vem”, afirma o vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Wagner Soares Costa. As primeiras chuvas, no entanto, não foram suficientes para abastecer o lago, sendo o volume totalmente absorvido pelo solo.
Planejamento
Nova reunião entre os órgãos responsáveis pela gestão da bacia deve ser realizada perto do Natal. Apesar do planejamento para o próximo ano, o CBHSF cobra maior discussão acerca de medidas de médio e longo prazo. Segundo Costa, entre as alternativas cabíveis está a retenção de água da chuva para se ter maior reserva em crises futuras e a produção de campanha para uso racional, tanto de água quanto de energia.
Em outubro, o volume de chuvas no estado foi inferior em relação à média histórica em todas as regiões, segundo dados do 5º distrito do Instituto Nacional de Meteorologia. Com o início do período chuvoso atrasado, no Triângulo e no Sul de Minas o volume ficou próximo de 50% da média. Segundo o meteorologista Cléber de Souza, uma massa de ar seco bloqueia a chegada de frentes frias. Neste mês, a expectativa é de que a chegada dessas frentes ocorra com mais frequência. Com a atuação do El niño, a tendência é de dias mais quentes com temporais no fim da tarde. Historicamente, a média mensal de precipitações no Sul de Minas e em Três Marias é de 288mm e 267mm, respectivamente. “Neste mês, devemos ter concentração maior de chuvas no Oeste e Sul do estado. As chuvas mais intensas são registradas em dezembro e janeiro”, afirma Souza.
A previsão da Associação Brasileira de Empresas Geradoras de Energia (Abrage) era que as represas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis por mais de 70% do parque nacional, encerrariam novembro com 18% da capacidade. Mas, com as chuvas abaixo do previsto, o mês iniciou já com esse percentual. Com isso, a associação reviu a previsão: a expectativa é de que até o dia 30 os reservatórios estejam com 15% do total. A consequência para o consumidor é o aumento do custo da energia. “Com as térmicas ligadas por mais tempo, a conta vai ficar cada vez mais cara”, afirma Neiva.