A primeira sequência de fortes precipitações no estado permitiu o início da recuperação de alguns dos principais reservatórios de usinas hidrelétricas em Minas Gerais. Com a vazão defluente (quantidade de água liberada da represa) nos menores patamares históricos e a baixa geração de energia elétrica, as chuvas levaram ao aumento do volume armazenado de Três Marias e de Camargos, duas das hidrelétricas mais afetadas pela prolongada estiagem deste ano.
A continuidade de chuvas dos últimos dias fez com que a vazão afluente (quantidade de água que chega ao reservatório) da represa da Usina Hidrelétrica de Três Marias subisse para 250 metros cúbicos por segundo. Em outubro, chegava a apenas 38 metros cúbicos por segundo. Em contrapartida, a vazão defluente está em seu menor nível histórico – 123 metros cúbicos por segundo. A combinação de mais água entrando com menos água saindo da represa é óbvia: o reservatório finalmente voltou a encher. Na segunda-feira, o volume útil de armazenamento era de 2,6%. Ele subiu para 2,94% na terça e ontem, à meia -noite, atingiu 3,04%, depois ter alcançado 3,13% ao longo do dia. Até domingo, a previsão é que a afluência atinja 600 metros cúbicos por segundo, cinco vezes mais que a vazão defluente.
Em igual data de 2013, prenúncio da situação negativa enfrentada neste ano, o reservatório marcava volume útil muito superior ao atual, de 21,17%. Na prática, isso não significa que no próximo ano o cenário será ainda pior. No ano passado, a defluência era de 476 metros cúbicos por segundo em idêntico período, enquanto a afluência ficou em 245 metros cúbicos por segundo. Ou seja, saía mais água do que entrava na represa.
A mudança na política operacional impediu que Três Marias atingisse o volume morto. A nova estratégia da Companhia Energética do Estado de Minas Gerais (Cemig), negociada em reuniões conjuntas com a Agência Nacional das Águas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e outros órgãos públicos e da sociedade civil organizada, busca manter uma política de recuperação dos níveis dos reservatórios. A tática é manter a vazão defluente em níveis baixos, mas tentando administrar outros atores que dependem da bacia, a exemplo do monitoramento da condição dos peixes. “A expectativa é manter a defluência baixa para reposicionar os reservatórios”, afirma o engenheiro de Planejamento do Sistema Elétrico da Cemig Ivan Alves Carneiro.
Em reunião na quarta-feira dos representantes de instituições envolvidas na gestão da bacia ficou decidida a manutenção da defluência em 120 metros cúbicos por segundo, pelo menos até a primeira semana de dezembro. Novo encontro está marcado para a semana que vem. “A proposta é definir uma curva de segurança para minimizar o risco de eventos dessa natureza”, afirma Carneiro.
Outra usina que se recupera com o período chuvoso é a de Camargos, no Rio Grande. O volume da represa chegou a atingir 0,8%. Com as chuvas, o reservatório atingiu ontem 6,6% da sua capacidade. O coordenador da Câmara Consultiva do Alto São Francisco, órgão vinculado ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Márcio Pedrosa, afirma que a tendência é de o volume aumentar gradualmente, a menos que haja um veranico. “Isso permite voltar à normalidade a irrigação e outras atividades socioeconômicas”, afirma.
A recuperação do nível dos reservatórios deve se manter nos próximos dias. Segundo o 5º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão é de chuvas em todo o estado até domingo. Com isso, o volume acumulado de chuvas em novembro deve ficar próximo da média histórica. Na Grande BH, por enquanto, só choveu 40% da marca registrada, enquanto na região do São Francisco, que inclui Três Marias e cidades próximas, choveu 60% de 116 milímetros. Em dezembro, a média é mais de duas vezes maior, de 248 milímetros.