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Estado de Minas

Inflação em BH em 2014 vai a 6,91% e supera teto da meta do governo

Custo de vida na capital mineira no acumulado do ano passado fica acima do teto estabelecido pelo governo no início de 2014, de 6,5%. A alta superou o registrado nos dois anos anteriores


postado em 07/01/2015 06:00 / atualizado em 07/01/2015 07:30

O custo de vida disparou na capital mineira no ano passado. Medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que leva em conta o gasto das famílias com rendimento de um a 40 salários mínimos, a inflação em Belo Horizonte avançou 6,91% em 2014, acima do teto da meta (6,5%) definido pela equipe econômica do governo federal para o indicador nacional – o centro previsto para a carestia era de 4,5%. O resultado mostra que os preços de serviços e mercadorias tiveram fortes reajustes pelo terceiro ano consecutivo em BH: 5,75% em 2012 e 6,14% em 2013. Os dados de 2014 foram divulgados ontem pela Fundação Ipead/UFMG. Apenas em dezembro, o índice ficou em 0,59%, desacelerando em relação aos 0,77% de novembro.

O indicador nacional também deve superar o de 2012 (5,83%) e o de 2013 (5,91%). O balanço será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira e vale recordar que o IPCA de janeiro a novembro acumula alta de 6,56%, em 12 meses no país. Por outro lado, não há unanimidade entre os especialistas de que o indicador vai superar o teto da meta. “Ficará bem perto do teto, sendo um pouco menor ou um pouco maior”, avaliou o economista Eduardo Antunes, da Fundação Ipead/UFMG.

Em junho, em conversa com repórteres em Brasília e diante de críticas da oposição de que a disparada dos preços comprometia o crescimento da economia, a presidenta Dilma Rousseff garantiu que o dragão estava sob controle: “Quero dizer para vocês que a inflação está sob controle, que o país tem todas as condições de manter um crescimento constante e contínuo a partir de agora, e que tudo que plantamos vamos colher”. Já em setembro, durante a campanha eleitoral, ela rifou Guido Mantega, então ministro da Fazenda.

Nova conta Para 2015, porém, tanto ele quanto outros especialistas acreditam, pelo menos nesse momento, que o IPCA vai superar o teto de 6,5% definido pelo Palácio do Planalto. “Este ano será de ajustes. Acho difícil ficar abaixo. Gostaria muito de queimar a língua porque quem paga a conta é o consumidor. Mas, neste mês, por exemplo, deverá ocorrer reajuste em torno de 6% no valor da energia elétrica”, prevê Eduardo. O último boletim Focus, divulgado toda segunda-feira pelo Banco Central (BC) com base na opinião dos principais especialistas do mercado, estipulou o IPCA nacional de 2015 em 6,56%.

Para Eduardo Antunes, do Ipead, o indicador nacional será elevado (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Para Eduardo Antunes, do Ipead, o indicador nacional será elevado (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Na semana anterior, esse percentual era de 6,53%. A inflação em alta tem como consequência a disparada dos juros, uma das estratégias para o governo inibir o consumo e forçar a redução de preços. Dessa forma, especialistas avaliam que a Selic deverá passar dos atuais 11,75% ao ano para 12,5% no acumulado de 2015.

“Após surpreender a totalidade dos analistas em outubro, aumentando a Selic em 0,25 ponto percentual, para 11,25%, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu, em dezembro, intensificar o ritmo do aperto monetário, elevando a Selic a 11,75%. Diante dessa decisão, reafirmamos o nosso cenário de juros, que já previa um aperto monetário total de 150 pontos-base, elevando a Selic a 12,5% ao ano. O ciclo de aperto deverá manter o gradualismo. O Copom deixou essa questão em aberto, ao mencionar ‘que o esforço adicional de política monetária tende a ser implementado com parcimônia’”, avaliou o economista Flávio Combat, da Concórdia.

Viagens

Em Belo Horizonte, levando-se em conta os produtos e serviços individuais, o maior impacto na alta do IPCA no ano passado foi causado pelo item excursões (variação de 71,36%). Em razão da alta do dólar ao longo de 2014, muitos brasileiros trocaram as viagens internacionais pelas domésticas, puxando preços de hotéis e dos transportes para cima.

Para se ter ideia, a média mensal da moeda americana oscilou 12,3% de janeiro (R$ 2,35) a dezembro (R$ 2,64). O reflexo da disparada do dólar no preço das excursões internas atrapalhou as férias que Luciene Pereira de Jesus, de 37 anos, havia planejado com a família para Natal (RN) daqui alguns meses. “Decidi que vamos ficar por aqui, passear por aqui, porque ficaria uma viagem muito cara”. Em julho de 2014, ela foi para Porto Seguro (BA) com os filhos e se surpreendeu com o preço das mercadorias na região: “Paguei mais de R$ 30 num PF (prato feito). Não quero que isso ocorra novamente. Por isso suspendi a viagem para Natal”.

O aumento dos preços, aliás, levou Luciene a mudar o estilo de vida: “Semana passada fui ao sacolão e saí de lá com alguns produtos em duas sacolas médias. Desembolsei R$ 80. É um valor muito alto. Há alguns meses, eu gastava o mesmo valor, mas saía com maior número de produtos e sacolas. Mudei também o número de idas ao salão de beleza. Eu ia toda semana. Fazia cabelo e unhas. Hoje, não vou com tanta frequência”.

Outra mudança que ela tem em mente é alterar o modo de transporte do bairro onde mora, o Renascença, para o local em que trabalha, o Santa Efigênia. “Quero comprar uma moto, pois a passagem do ônibus na capital está muito cara. Pago R$ 3,10 para ir ao trabalho e mais R$ 3,10 na volta para casa. É um preço alto para a qualidade do transporte. O coletivo passa cheio e muitas vezes fora do horário”, reclama a funcionária de uma pizzaria. O transporte que ela faz questão de reclamar ajudará a impactar a inflação na capital mineira em janeiro.

Isso porque o reajuste das tarifas do transporte coletivo na cidade ocorreu em 29 de dezembro, quando a maioria das linhas teve o valor do bilhete aumentado em 8,7%, de R$ 2,85 para R$ 3,10. “Haverá ainda o impacto do IPTU, matrícula escolar…”, lembrou o economista da Fundação Ipead/UFMG.


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