Brasília – O ritmo de alta da inflação está acelerando e o brasileiro precisa estar preparado para um forte aumento dos preços neste ano, principalmente, dos preços monitorados, ou seja, das tarifas públicas que vinham sendo seguradas pelo governo até o ano passado e agora começam a sofrer reajustes, como é o caso dos bilhetes de ônibus e metrô, e da conta de luz, que deverá continuar salgada neste ano.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro acelerou em relação a novembro e subiu de 0,51% para 0,78% encerrando o ano com alta acumulada de 6,41%, de acordo com dados do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem. O resultado ficou acima da mediana dos economistas ouvidos pelo Banco Central, de 0,75% e foi a maior elevação desde 2011, quando o índice acumulado chegou a 6,50% – teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Neste ano, o indicador da inflação oficial deverá chegar a 6,71% pela mediana das estimativas dos top five (os economistas que mais acertam) do relatório semanal Focus do BC. As previsões de inflação para o ano variam de 6,50% para os mais otimistas, como o BES Investimento do Brasil (Besi), passando por 6,80%, como a dos bancos Santander e Bradesco, e chegam a 6,90% como é o caso da consultoria LCA. Logo, há um consenso entre os especialistas de que a inflação deste ano vai estourar o limite imposto pelo CMN.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reconheceu ontem que a inflação será ainda mais alta em janeiro do que foi “em alguns meses do ano passado”. “Em parte, porque janeiro e fevereiro são meses em que, todo ano, tem mais reajustes, como de escola, IPTU, ônibus etc. Além disso, para a economia voltar a crescer, temos que fazer algumas arrumações e isso pode mexer em alguns preços. Os economistas chamam isso de mudança nos preços relativos e ela é importante para acomodar a economia em um novo caminho de crescimento”, explicou Levy em um bate papo na manhã de ontem na página do Portal Brasil no Facebook.
O ministro fez questão de garantir que a inflação não vai estourar o teto da meta não somente neste ano como não deverá ultrapassar o centro da meta, de 4,5%, em 2016 e sinalizou que o governo vai se comprometer em segurar os gastos. “E, deixa eu dizer também que para a gente segurar a inflação é preciso que o governo não gaste demais. Se a gente fizer isso agora, vamos poder ter a inflação caindo no ano que vem”, afirmou Levy.
Novas pressões Entre os preços monitorados, a energia elétrica, que foi um dos vilões de 2014, continuará pressionando o IPCA, devendo se manter no posto este ano, de acordo com os especialistas.. “Os preços monitorados tiveram alta de 5,3% em 2014, e, em 2015, devem subir 9,1% e, com isso, devem puxar a inflação do ano, superando a alta de 6,3% dos preços livres, que deverão ter um ritmo menor de expansão devido à desaceleração da economia”, explicou o economista Étore Sanchez, da LCA Consultores. Pelas contas do analista, o custo da energia elétrica que cresceu 17,06%, em 2014, vai continuar subindo e acumulará aumento 26,70%, em 2015. Flavio Serrano, economista sênior do Besi, também prevê maior pressão dos preços administrados neste ano. “Eles podem subir 7,8% ou mesmo chegar a 10%”, disse ele que prevê alta de 7% no IPCA acumulado de janeiro.
mais caros O principal vilão da inflação de 2014 foi a carne, de acordo com técnica Irene Maria Machado, gerente de pesquisa do IBGE. Como tem um mais peso do que outros itens, a alta acumulada do produto no ano foi de 22,21% e ele foi responsável por 0,55 ponto percentual no aumento do IPCA. “A carne substituiu o tomate como vilão no ano passado”, disse a técnica. Segundo ela, a energia elétrica foi o segundo item que mais pesou no bolso do consumidor no ano passado. “Os reajustes nas contas de luz tiveram um impacto forte na inflação como um todo”, explicou. As passagens aéreas figuram entre os vilões da alta de preços em dezembro. Subiram 42,53% no mês passado, acumulando alta de 7,79% no ano.
Carne pesa no bolso do consumidor
Em Belo Horizonte, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta em dezembro de 0,44% e, no acumulado do ano, de 5,83%. Mas, se em Minas o índice ficou dentro do limite fixado pelo governo, em seis das 13 capitais pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA estourou o teto da meta, com destaque para Rio de Janeiro (7,60%) e Goiânia (7,20%). Porém, os números da Fundação Ipead/UFMG, divulgados esta semana, mostraram que, na capital, o dragão foi mais feroz do que mostra o IBGE. Segundo a entidade, por aqui a inflação avançou 6,91% em 2014, conforme mostrou o Estado de Minas na edição de quarta-feira.
E o sufoco tem pesado na carteira dos belo-horizontinos. A carne se manteve em alta no Brasil e também na capital mineira desde o segundo semestre de 2014, segundo a análise do IBGE. “Depois de outubro, houve semanas em que comprávamos a carne bovina com três tipos de preço. Por um momento, não queríamos repassar esse aumento para o nosso cliente, então, fomos segurando. Porém, o cerco foi apertando e não teve jeito: tivemos prejuízo e aumentamos nossos valores”, conta a sócia proprietária do açougue Bella Carne, na Região da Savassi, Naira Rezende. Ela diz que, em dezembro, teve que aumentar os preços. O quilo do acém custava R$ 14,99 e, hoje, custa R$ 16,99. O contra-filé passou de R$ 22,99 para R$ 25,99.
No embalo da carne, a alimentação for a de casa subiu de um mês para o outro, 1,41% , e, no ano, a alta foi de 9,96%. Esse aumento, o engenheiro José Carvalho de Paula sentiu no bolso. Sempre almoçando em restaurantes, ele conta que gastava em média, no início de 2014, R$ 18 por almoço. Hoje, comendo o mesmo tanto, gasta R$ 23. “Além disso, as compras em supermercados também ficaram mais caras. Ás vezes, está mais caro comer dentro de casa do que na rua”, afirma.
BC promete esforços
Brasília – O último ano do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff terminou com inflação beirando o limite máximo de tolerância da meta. Por poucos décimos, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não foi obrigado a enviar uma carta ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, se justificando por não ter conseguido manter os preços dentro da meta, de 4,5%, com tolerância de dois pontos para baixo ou para cima.
Não por outro motivo, horas após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar o resultado da inflação oficial em 2014, Tombini divulgou nota para comentar o resultado. No comunicado, o presidente do BC lembra que a variação do ano posicionou-se “dentro do intervalo de tolerância”, que vigora desde 21 de junho de 1999.
Também justificou o resultado elevado de 2014 às a alta do dólar sobre o real e os reajustes de preços controlados pelo governo, como gasolina e tarifas de energia e transportes. “Embora a inflação tenda a mostrar resistência no curto prazo, o Banco Central reafirma que irá fazer o que for necessário para que este ano a inflação entre em longo período de declínio, que a levará à meta de 4,5% em 2016.