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Estado de Minas

Fôlego para reajustar preços deve diminuir

Baixo crescimento da economia e a disputa por um consumidor mais arredio impõem desafios aos prestadores de serviços na formação de custos e preços. Energia segue em alta neste ano


postado em 18/01/2015 06:00 / atualizado em 18/01/2015 07:25

Alessandro Carneiro atribui aos custos aumentos da ordem de 125% nos preços de consertos pedidos por clientes como Alex Pereira(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Alessandro Carneiro atribui aos custos aumentos da ordem de 125% nos preços de consertos pedidos por clientes como Alex Pereira (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

No cenário incerto da economia em 2015, tarefa difícil para os analistas é arriscar se os prestadores de serviços continuarão a ter fôlego para manter reajustes acima da inflação. Depois de um 2014 de baixo crescimento do país e com as projeções de resultados também muito modestos em 2015, o setor poderá ser obrigado a pôr um freio na corrida à frente do custo de vida, pelo menos em parte desse grupo de despesas, já que as contas de energia e o transporte estão encarecendo. “As pessoas vão ajustar o orçamento se não conseguirem rendimentos persistentemente acima da inflação, porque os serviços estão caros”, afirma o analista do IBGE Antonio Braz de Oliveira e Silva.


O economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), está convencido de que a elevação das taxas de juros desestimula os investimentos produtivos da iniciativa privada para melhorar os índices de produtividade do trabalho e assim, conter a alta de preços. “Possivelmente, a inflação de serviços ficará abaixo de 8%, mas ainda muito próxima à média geral”, afirma. No ano passado, os serviços subiram 8,3%, em média, com base no IPCA Serviços do Banco Central, e o IPCA geral variou 6,4%.


A demanda dos serviços em algumas áreas, como a de consertos de eletroeletrônicos, também já dá sinais de que ajustes serão necessários. No segmento, a procura menor se alia, ainda, à concorrência que os produtos novos, em particular os importados chineses, começaram a fazer aos reparos. É que observa o dono da empresa especializada no ramo HD Eletrônicos, Alexandre Reis. “Com a entrada das marcas chinesas no mercado brasileiro, as pessoas pagam menos em um determinado item, sem muita qualidade, e, quando ele estraga, em vez de consertar, preferem comprar outro, já que, na maioria das vezes, esses produtos não têm conserto”, afirma.


Reis destaca que o conserto de uma tela de televisor LCD custa entre R$ 600 e R$ 700. “Com pouco mais que esse valor é possível comprar uma televisão nova, por R$ 800 ou R$ 900”, compara. O técnico em eletrônica da HD Francis Júnior completa, lembrando que o reparo de um micro-ondas custa em torno de R$ 100, quando há aparelho novos que o consumidor encontra na faixa de R$ 180. “Não há como aumentarmos os preços, se diminui a procura por esse tipo de serviço”, afirma.


Para o coordenador interino de pesquisas da Fundação Ipead, vinculada à UFMG, Eduardo Antunes, são muitos os fatores que influenciam as altas dos serviços em Belo Horizonte. No caso dos clubes, por exemplo, ele comenta que a pouca oferta de cotas no mercado e também a carência de espaços de lazer na cidade contribuem para o reajuste acima da inflação. Reconhecendo que cada serviço tem a sua pecularidade ele diz que para os reparos em casa, hoje, o ofício está mais profissionalizado.


Os seguros de veículos, por sua vez, também refletem o perfil da sociedade. “É estranho pensar que quanto mais carros há nas ruas, mais caro fica o seguro. Mas as seguradoras levam em conta que, com um intenso número de veículos, há mais pessoas com habilitações recentes e também mais colisões”, observa. Outro exemplo destacado pelo especialista é o valor dos ingressos para jogos de futebol. “Observamos que houve um aumento de mais de 50% nas entradas em 2014. Antes, o ingresso custava R$ 30 e chegou a R$ 60, mas isso se deve também às boas colocações das equipes mineiras nos campeonatos. São números que pressionam a inflação.”


Nas telecomunicações, cujos preços, curiosamente, subiram abaixo da inflação nos últimos três anos – em 2014, houve queda de 0,28% no grupo de itens das comunicações –, novos repasses devem ser contidos, na avaliação de João Moretti, diretor da MC1, especializada em mobilidade corporativa. A tendência é justificada pela maior competição entre as empresas e a multiplicação de pacotes de acesso à internet, assim como a expansão das redes sociais. “Este ano será um período difícil, com baixo crescimento da economia. As empresas deverão adotar iniciativas para reter e conquistar novos clientes e não pensar em correções de preços acima da inflação”, afirma. Moretti lembra que a telefonia no Brasil ainda é uma das mais caras do mundo.


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