Brasília – A poucos dias da visita do primeiro-ministro da China Li Keqiang, na próxima semana, crescem as especulações de futuros investimentos do país asiático em território nacional. Uma fonte próxima ao governo conta que os chineses estão de olho em construtoras nacionais envolvidas no escândalo da Operação Lava-Jato e que atravessam problemas financeiros.
Duas dessas empreiteiras encabeçam o topo da lista de interesse de integrantes da comitiva de Li, com cerca de 150 empresários. Trata-se da OAS e da Engevix. “Os investidores estão esperando o momento certo para entrar nesse mercado e estão avaliando os alvos potenciais”, destacou a fonte revelando que um dos possíveis compradores seria a estatal chinesa da área de construção CNEC. Procuradas, as duas companhias brasileiras não comentaram o assunto.
A baiana OAS entrou com um pedido de recuperação judicial em março deste ano e está em busca de investidores para comprar seis empresas do grupo além de 25% de participação na Invepar, companhia que explora concessões de na área de infraestrutura. A dívida estimada holding é de R$ 8,3 bilhões. A paulista Engevix, por sua vez, não pretende entrar com pedido de recuperação judicial pois conseguiu negociar um alongamento da dívida. A empresa não divulga o valor da dívida, mas algumas estimativas de mercado apontam que ela gire em torno de R$ 1,5 bilhão.
O apetite do governo da presidente Dilma Rousseff pelo capital chinês vem crescendo diante do fraco crescimento da economia neste ano e do aumento da desconfiança de investidores dos mercados desenvolvidos em relação ao país. De 2005 a 2014, o Brasil recebeu US$ 28,4 bilhões, dos US$ 860 bilhões que Pequim despejou no mercado externo nesse período, conforme dados da Heritage Foundation. Logo, as autoridades brasileiras querem ampliar essa fatia e pretendem anunciar uma série de acordos com os chineses durante a visita de Li a Brasília no próximo dia 19.
O principal deles será o acordo-chave entre o Ministério do Planejamento e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC). Essa parceria será feita para executar o mapeamento de uma lista de tentativas de projetos para estudos em conjunto nas seguintes áreas: infraestrutura, energia elétrica, mineração e manufatura e que somam US$ 53 bilhões.
Nessa lista, segundo uma fonte do governo, estão incluídos projetos que já figuram em vários pacotes de Dilma, como o da ferrovia Lucas do Rio Verde (MT) a Uruaçu (GO), próxima a Campinorte (GO), um importante canal de escoamento da soja do Centro-Oeste brasileiro. Outra obra que está listada é o linhão de transmissão de Belo Monte, cujo investimento de quase R$ 5 bilhões já foi anunciado pela estatal chinesa State Grid em 2014.
Fabrizio Panzini, especialista em negociações internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), vê esse anúncio de US$ 53,3 bilhões de investimentos chineses no país com cautela. “É preciso ver em que período eles ocorrerão”, disse.