De um lado, a estiagem que castiga todo o país ajudou a engordar os preços dos produtos in natura, o que elevou as despesas com a alimentação nos domicílios. De outro, a desaceleração da economia brasileira pressiona o orçamento doméstico, cenário que afastou muitas famílias das idas aos restaurantes, obrigando os donos desses estabelecimentos a postergar ao máximo as remarcações dos valores exibidos no cardápio. Resultado: a inflação dos alimentos dentro de casa avança num ritmo superior ao observado fora do lar. Isso não ocorria em Belo Horizonte e no Brasil desde 2012.
Dados da Fundação Ipead, vinculada à UFMG, mostram que a inflação da alimentação no domicílio alcançou 5,4% no acumulado de janeiro a maio. Já a variação percentual dos preços da alimentação fora do lar foi de 5,15% no mesmo período. Em 2014, o dragão impactou mais o consumo nos bares, lanchonetes e restaurantes: 8,01%, ante 5,37%. O mesmo ocorreu em 2013: 10,42% a 6,2%.
O movimento dos preços vai na mesma direção no país. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alimentação no domicílio encareceu 6,38% nos cinco primeiros meses de 2015, enquanto fora do lar ficou 5,14% mais cara. Em 2014, o balanço foi inverso, respectivamente, de 7,1% e 9,79%. Em 2013, o resultado foi na mesma direção: 7,64% e 10,07% (veja o quadro).
Um dos motivos da alta da inflação dos alimentos em casa se deve a problemas climáticos. A estiagem em algumas regiões e o excesso de chuva em outras prejudicaram a safra. Tanto é assim que o conjunto de produtos in natura (os hortifurtis), um dos três itens que compõem a inflação na alimentação nas residências, conforme a metodologia da Fundação Ipead, ficou 25,56% mais caro de janeiro a maio. O indicador também foi bem mais alto do que os dos outros dois conjuntos que compõem a alimentação na residência: produtos industrializados (4,2%) e mercadorias de elaboração primária – arroz, carnes, em especial – (0,25%).
“Houve pressão (de aumento nos preços) dos alimentos in natura em razão de problemas climáticos (estiagem, principalmente). No caso dos itens industrializados, houve repasses de preços dos estabelecimentos (fabricantes) devido à alta nos custos, como os de energia elétrica e água”, informou a economista Thaise Martins, coordenadora de Pesquisa da Fundação Ipead.
A dona de casa sofre para administrar o orçamento. Marilene Aparecida Silva Teixeira, de 63 anos, levou um susto, dias atrás, quando foi comprar cebola para temperar carne e usar em saladas. “O quilo está quase R$ 7. Comprei em menor quantidade. O preço do quiabo também disparou e passa de R$ 5”, afirma.
O maior impacto nos hortifrutigranjeiros vendidos no entreposto da Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas) em Contagem, o maior do estado, foi comandado pela cebola, o alimento que dona Marilene gosta tanto de usar como acompanhamento de carnes e em saladas. No atacado, o preço do quilo do legume no primeiro semestre, em média de R$ 2,35, foi 89,5% superior ao de igual período de 2014 (R$ 1,24).
Na rua, é a crise que dá as cartas
Bares e restaurantes sentem queda de receita e evitam repassar aumentos de custos para não perder clientes
No aperto para esticar o orçamento afetado pela inflação alta deste ano e com o desaquecimento da economia, que provoca aumento do desemprego e pressiona os rendimentos da população, o consumidor mudou os hábitos também nos bares, restaurantes e lanchonetes, adotando maior cautela nos gastos. Lucas Pêgo, diretor-executivo da regional mineira da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), informa que houve queda nas vendas do setor em todo o país. “Caiu o faturamento das casas com tíquete médio acima de R$ 30 e aumentou a receita daquelas que trabalham com valor médio abaixo de R$ 15. As pessoas estão gastando menos para se alimentar ou buscam, no mesmo restaurante que já frequentam, opções a preços mais baixos”, afirma.
O ajuste das empresas ao novo comportamento do cliente, na visão dos empresários, explica o fato de a inflação dos alimentos no lar avançar mais do que aquela fora dos domicílios. Os donos de bares e restaurantes seguram o quanto podem os repasses de aumentos dos cutos para o consumidor. Levantamento feito pela Abrasel mostrou que o faturamento médio do setor no país recuou 8,39% entre o último trimestre de 2014 e o primeiro de 2015. Segundo a entidade, considerando-se o fator da sazonalidade histórica das vendas do segmento, a queda real foi de 2,39%. A pesquisa não detalha dados por capitais.
De janeiro a março, sete em cada 10 empresas informaram que a rentabilidade no período analisado oscilou em até 10%, sendo que metade apontou um percentual inferior a 5%. Tais dados vão na contramão de uma rentabilidade média histórica de 10%, apurada em períodos de economia mais favorável. “O setor tem que se adaptar à realidade do público. Tem que reduzir custos e fazer promoções”, afirma Lucas Pêgo.
Aposta nessa premissa o restaurante especializado em culinária japonesa Kinoko, instalado no Bairro Buritis, Zona Oeste de BH. “Se repassasse todo o aumento dos custos da casa aos preços ao consumidor, o negócio ficaria inviável. Temos feito um processo interno de revisão de conceitos e formas de trabalhar , buscando redução de gastos com água e luz”, disse Cássio Kinoko, dono do empreendimento. Ele observa que a crise fez aflorar a criatividade na getão e projetos acabarem sendo tirados da gaveta. Um deles é presentear o cliente no dia do aniversário com um rodízio grátis, no valor de R$ 50. Toda terça-feira, há rodada dupla de cerveja e às quintas, rodada dupla de drinques.
Se dentro do domicílio as compras já seguiam a regra da pesquisa de preços como hábito frequente, o mesmo deve ocorrer fora do lar, ensina a dona de casa Marilene Aparecida Silva Teixeira. “Temos de bater sola de sapato mesmo. Dou preferência para alimentos vendidos a preços mais em conta”, ensina. E não é por pouco. A elevação dos preços dos alimentos in natura fez a cesta básica calculada pela Fundação Ipead na capital mineira encarecer 6,95% no acumulado de janeiro a maio. O custo medido em junho foi de R$ 359,30. A estiagem provocou problemas adicionais nas lavouras, que encareceram os alimentos, como a baixa produtividade, de acordo com o analista da seção de Informações de mercado da CeasaMinas, Ricardo Martins.
Dados da Fundação Ipead, vinculada à UFMG, mostram que a inflação da alimentação no domicílio alcançou 5,4% no acumulado de janeiro a maio. Já a variação percentual dos preços da alimentação fora do lar foi de 5,15% no mesmo período. Em 2014, o dragão impactou mais o consumo nos bares, lanchonetes e restaurantes: 8,01%, ante 5,37%. O mesmo ocorreu em 2013: 10,42% a 6,2%.
O movimento dos preços vai na mesma direção no país. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alimentação no domicílio encareceu 6,38% nos cinco primeiros meses de 2015, enquanto fora do lar ficou 5,14% mais cara. Em 2014, o balanço foi inverso, respectivamente, de 7,1% e 9,79%. Em 2013, o resultado foi na mesma direção: 7,64% e 10,07% (veja o quadro).
Um dos motivos da alta da inflação dos alimentos em casa se deve a problemas climáticos. A estiagem em algumas regiões e o excesso de chuva em outras prejudicaram a safra. Tanto é assim que o conjunto de produtos in natura (os hortifurtis), um dos três itens que compõem a inflação na alimentação nas residências, conforme a metodologia da Fundação Ipead, ficou 25,56% mais caro de janeiro a maio. O indicador também foi bem mais alto do que os dos outros dois conjuntos que compõem a alimentação na residência: produtos industrializados (4,2%) e mercadorias de elaboração primária – arroz, carnes, em especial – (0,25%).
“Houve pressão (de aumento nos preços) dos alimentos in natura em razão de problemas climáticos (estiagem, principalmente). No caso dos itens industrializados, houve repasses de preços dos estabelecimentos (fabricantes) devido à alta nos custos, como os de energia elétrica e água”, informou a economista Thaise Martins, coordenadora de Pesquisa da Fundação Ipead.
A dona de casa sofre para administrar o orçamento. Marilene Aparecida Silva Teixeira, de 63 anos, levou um susto, dias atrás, quando foi comprar cebola para temperar carne e usar em saladas. “O quilo está quase R$ 7. Comprei em menor quantidade. O preço do quiabo também disparou e passa de R$ 5”, afirma.
O maior impacto nos hortifrutigranjeiros vendidos no entreposto da Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas) em Contagem, o maior do estado, foi comandado pela cebola, o alimento que dona Marilene gosta tanto de usar como acompanhamento de carnes e em saladas. No atacado, o preço do quilo do legume no primeiro semestre, em média de R$ 2,35, foi 89,5% superior ao de igual período de 2014 (R$ 1,24).
Na rua, é a crise que dá as cartas
Bares e restaurantes sentem queda de receita e evitam repassar aumentos de custos para não perder clientes
No aperto para esticar o orçamento afetado pela inflação alta deste ano e com o desaquecimento da economia, que provoca aumento do desemprego e pressiona os rendimentos da população, o consumidor mudou os hábitos também nos bares, restaurantes e lanchonetes, adotando maior cautela nos gastos. Lucas Pêgo, diretor-executivo da regional mineira da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), informa que houve queda nas vendas do setor em todo o país. “Caiu o faturamento das casas com tíquete médio acima de R$ 30 e aumentou a receita daquelas que trabalham com valor médio abaixo de R$ 15. As pessoas estão gastando menos para se alimentar ou buscam, no mesmo restaurante que já frequentam, opções a preços mais baixos”, afirma.
O ajuste das empresas ao novo comportamento do cliente, na visão dos empresários, explica o fato de a inflação dos alimentos no lar avançar mais do que aquela fora dos domicílios. Os donos de bares e restaurantes seguram o quanto podem os repasses de aumentos dos cutos para o consumidor. Levantamento feito pela Abrasel mostrou que o faturamento médio do setor no país recuou 8,39% entre o último trimestre de 2014 e o primeiro de 2015. Segundo a entidade, considerando-se o fator da sazonalidade histórica das vendas do segmento, a queda real foi de 2,39%. A pesquisa não detalha dados por capitais.
De janeiro a março, sete em cada 10 empresas informaram que a rentabilidade no período analisado oscilou em até 10%, sendo que metade apontou um percentual inferior a 5%. Tais dados vão na contramão de uma rentabilidade média histórica de 10%, apurada em períodos de economia mais favorável. “O setor tem que se adaptar à realidade do público. Tem que reduzir custos e fazer promoções”, afirma Lucas Pêgo.
Aposta nessa premissa o restaurante especializado em culinária japonesa Kinoko, instalado no Bairro Buritis, Zona Oeste de BH. “Se repassasse todo o aumento dos custos da casa aos preços ao consumidor, o negócio ficaria inviável. Temos feito um processo interno de revisão de conceitos e formas de trabalhar , buscando redução de gastos com água e luz”, disse Cássio Kinoko, dono do empreendimento. Ele observa que a crise fez aflorar a criatividade na getão e projetos acabarem sendo tirados da gaveta. Um deles é presentear o cliente no dia do aniversário com um rodízio grátis, no valor de R$ 50. Toda terça-feira, há rodada dupla de cerveja e às quintas, rodada dupla de drinques.
Se dentro do domicílio as compras já seguiam a regra da pesquisa de preços como hábito frequente, o mesmo deve ocorrer fora do lar, ensina a dona de casa Marilene Aparecida Silva Teixeira. “Temos de bater sola de sapato mesmo. Dou preferência para alimentos vendidos a preços mais em conta”, ensina. E não é por pouco. A elevação dos preços dos alimentos in natura fez a cesta básica calculada pela Fundação Ipead na capital mineira encarecer 6,95% no acumulado de janeiro a maio. O custo medido em junho foi de R$ 359,30. A estiagem provocou problemas adicionais nas lavouras, que encareceram os alimentos, como a baixa produtividade, de acordo com o analista da seção de Informações de mercado da CeasaMinas, Ricardo Martins.