São Paulo, 26 - Até um ano atrás, o principal foco da Odebrecht Transport, braço de transporte e mobilidade urbana do Grupo Odebrecht, era procurar oportunidades de investimentos para ampliar a estrutura da empresa. Mas a crise econômica e a Operação Lava Jato, envolvendo a construtora Norberto Odebrecht, mudaram o rumo dos negócios. Hoje, a prioridade é renegociar dívidas com bancos, buscar financiamentos para projetos em andamento e encontrar sócios estratégicos para reforçar o capital.
"Gasto 70% do meu tempo com questões ligadas a financiamentos", diz Paulo Cesena, presidente da Odebrecht Transport, empresa que foi protagonista dos últimos leilões realizados pelos governos federal e estadual. Responsável por 5% das receitas do grupo, tem em seu portfólio concessões como a do Aeroporto do Galeão e Supervia, no Rio; BR-163, em Mato Grosso; Linha 6 e Linha 4 do Metrô, em São Paulo.
A Odebrecht Transport, que tem como um dos principais sócios o FI-FGTS (fundo de investimentos com recursos do Fundo de Garantia), mantém quatro unidades que administram ativos de rodovias, mobilidade urbana, portos e aeroportos. Em quase todas, há questões financeiras pendentes que precisam ser resolvidas. Na Embraport, empresa dona de um dos terminais portuários mais modernos de Santos, construído em parceria com a Dubai Port Word (DPW), Cesena diz que está tentando renegociar a dívida de R$ 2 bilhões com seis instituições financeiras.
O objetivo é alongar o financiamento, cujas amortizações semestrais já estão sendo pagas, e adequar a dívida à geração de caixa. Com o volume menor de comércio exterior, especialmente de importações, a movimentação em Santos caiu e as receitas ficaram abaixo das projeções, diz Cesena. Segundo ele, a expectativa é fechar um acordo até dezembro.
Outro problema que tem tirado o sono do executivo são os financiamentos de longo prazo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para as obras do Galeão, da BR-163 e da Linha 6 do Metrô. No total, a companhia pleiteia um crédito de R$ 10 bilhões. Enquanto o financiamento não sai, os investimentos estão sendo feitos com dinheiro de empréstimos-ponte (um empréstimo de curto prazo feito até sair o de longo prazo). Foram liberados R$ 3 bilhões.
O problema é que esses empréstimos vencem no primeiro trimestre de 2016. Se até lá o BNDES não liberar os recursos, as obras podem ser paralisadas por falta de dinheiro. Cesena diz que o banco está exigindo uma série de garantias que antes não eram necessárias. Perguntado se essa dificuldade não está relacionada com a Lava Jato, ele nega e afirma que é reflexo da crise econômica, uma vez que quem está envolvida no escândalo é a construtora.
No mercado, a interpretação é outra. Segundo fontes, parte dos entraves é, sim, reflexo da Lava Jato. Se para todo o setor privado está mais complicado conseguir crédito, para as empresas envolvidas no escândalo a dificuldade é dobrada.
Uma sondagem da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que a preocupação das empresas de infraestrutura com o crédito quase triplicou nos últimos 12 meses por causa da alta dos juros, perda do grau de investimento e da Lava Jato. Em setembro de 2014, 11,7% das empresas citavam o acesso ao crédito como "fator limitativo". No mês passado, 30,6% apontaram o crédito como problema.
Alternativa
Uma iniciativa da Odebrecht Transport para reforçar o caixa é buscar um sócio para a empresa de rodovias, que detém a concessão de 1.700 km. Mas Cesena diz que essa sempre foi uma estratégia do grupo. Todas as outras unidades de negócios têm sócios. Em mobilidade, a parceira é a Mitsui; em portos, a DPW; e em aeroportos, a Changi. Em rodovias, Cesena diz que conversou com alguns potenciais investidores, mas que não há negociação perto de ser concluída.
O fato é que, diante do atual cenário, a Odebrecht Transport quer focar seus negócios nas concessões. Para isso, tem avaliado ativos não estratégicos para se desfazer. O primeiro deles foi a ConectCar - empresa de pagamento de pedágio, estacionamento e combustíveis - vendida semana passada para o Itaú Unibanco. A companhia embolsou R$ 150 milhões com o negócio.