Brasília – Os países emergentes despontaram, na década passada, como os motores da economia global. No auge da euforia, chegou-se a projetar que, com a nova ordem, a produção de riquezas do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — ultrapassaria a do G7, grupo das sete maiores economias do mundo, até 2030. O que se vê agora, no entanto, é um racha. A China ainda é protagonista, apesar da forte desaceleração, e a Índia mantém o vigor, enquanto as economias de Rússia e Brasil desandaram, com os dois países mergulhados na recessão, e a África do Sul segue no papel de coadjuvante. Agora, nada indica que a previsão vai se concretizar. Responsável pela maior decepção do acrônimo, o Brasil empurrou o seu futuro – e o do Brics – para depois.
Nessa postergação, o Brasil tem papel fundamental ao perder as características que o credenciavam a fazer parte do grupo. Mas, para entender por que, é preciso saber o que era a nova ordem global. O termo Bric foi criado em 2001 pelo economista inglês Jim O’Neill — que depois adicionou a letra S em referência à entrada da África do Sul (em inglês, South Africa) — para denominar o conjunto de países com bom crescimento econômico, estabilidade política, mão de obra em grande quantidade e em processo de qualificação e diminuição da desigualdade social, entre outras características em comum.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) reconfigurou o mundo do século 21, em seu relatório de 2013, anunciando que as nações em desenvolvimento assumiriam a liderança do crescimento econômico, ao retirar centenas de milhões de pessoas da pobreza e levar bilhões de outras a integrar uma nova classe média. “A ascensão tem decorrido a uma velocidade e escala sem precedentes. Pela primeira vez, os emergentes, no seu conjunto, serão o motor do crescimento econômico global e das mudanças sociais”, diz o relatório daquele ano, que ainda estima: até 2020, a produção conjunta das três principais economias do Brics — China, Brasil e Índia — terá superado a produção agregada de Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Japão, Itália e Canadá.
Com as crises de Brasil e Rússia e a desaceleração da China, isso não vai ocorrer. A última previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI), feita em outubro de 2015, aponta quo o PIB do G7 somará US$ 41,9 trilhões em 2020, enquanto a produção de riquezas do Brics será de US$ 24,7 trilhões.
Marcos Troyjo, diretor do BricLab da Universidade de Columbia, admite que houve um desapontamento. “A China não cresce mais 10% ao ano. A Rússia, que prometia uma economia em transição, com estoque de capital importante, também teve um freio. Mas a maior decepção foi o Brasil, por conta da falta de reformas competitivas, além das barbeiragens macroeconômicas que a gente conhece”, explica.