Embora o Natal seja época de boas vendas e recuperação de perdas acumuladas ao longo do ano, lojistas começam a se preparar para a data sem euforia, planejam estoques mais reduzidos e não há pressa para comprar. Os pequenos sinais de vida na indústria ainda não são suficientes para assegurar retomada do setor produtivo, mas há segmentos que estão prevendo retração menor do que estimavam no início do ano.
A produção industrial fechou junho apertada, mas no azul. O crescimento de 1,1% frente ao mês anterior foi a quarta alta consecutiva do setor produtivo, que nos últimos 12 meses acumula queda de 9,8% frente idêntico período do ano passado. Junto ao mercado de trabalho, é um dos principais termômetros da recessão. Os fabricantes de eletrodomésticos, que amargaram queda de 18% nas vendas da linha branca (fogões, geladeiras e lavadouras) em 2015 estimam leve retomada em 2016.
“Percebemos que as demissões pararam de ocorrer na indústria e os empregos de fim de ano devem movimentar o comércio”, diz Lourival Kiçula, presidente da Eletros, que reúne fabricantes da linha branca, marrom e eletroportáteis. Segundo o executivo, o setor já percebe leve retomada da confiança no país.
No primeiro semestre deste ano, houve retração de 34% nas vendas de televisores e foram comercializados 25% menos refrigeradores na comparação com o mesmo semestre de 2015. “Acreditamos que poderemos fechar o ano com alta de até 5% nas vendas da linha branca e 2% na linha marrom perante o ano passado”, estima Kiçula. Apesar de a base de comparação ser baixa, a projeção representa melhora frente ao primeiro semestre. Diferentemente do que ocorre em anos de crescimento da economia, o varejo não tem pressa para fechar as encomendas de Natal e formar seus estoques, mas a indústria está apostando em uma leve volta da confiança do consumidor.
Há 25 anos à frente da Modecor, fábrica de móveis do polo de Ubá, na Zona da Mata mineira, Michel Pires não se lembra de ter enfrentado momento pior na economia. Ele, que também é vice-presidente do Sindicato das Indústrias Moveleiras de Ubá (Intersind), polo que reúne 300 fábricas, estima que 2 mil postos de trabalho tenham sido fechados na região em 2016. O polo de Ubá enfrentou queda de 20% nas vendas no primeiro semestre, mas a expectativa do setor é que o ano comece agora e ganhe ritmo em setembro, com as encomendas de Natal.
“Esperamos alta de 10% nas vendas do segundo semestre, o que reduzirá as perdas do início do ano”, calcula Michel Pires. A razão do otimismo é que o varejo já iniciou algumas sondagens para compras, uma vez que na ponta da cadeia o consumidor dá pequenos sinais de ânimo para adquirir móveis novos. “As demissões agora pararam de ocorrer e a indústria vai aguardar pela reação da economia a partir de 2017.”
Para atrair clientes A crise afetou praticamente todos os segmentos da economia. No tradicional Mercado Central, instalado no Centro de Belo Horizonte, Antônio Sérgio Tavares está convencido de que as vendas do Natal vão fechar o ano em queda frente ao ano anterior. Há 54 anos na delicatéssen Império dos Cocos, conhecido ponto de vendas de nozes, castanhas, frutas e bacalhau, entre outros produtos típicos das festas de fim de ano, ele decidiu adiar as compras, certo de que os fornecedores estão bem estocados. “Farei as compras em outubro e novembro, aproveitando as promoções de última hora”, planeja ele, que não prevê para este ano reação da economia. A expectativa é de movimentar as vendas com preços atrativos.
Nos setores de alimentação, as estimativas podem ser revistas. A Associação Mineira de Supermercados (Amis) projetava em janeiro alta de 0,5% nas vendas de 2016, mas o primeiro semestre fechou com crescimento de 2,97%, tendência que pode repercutir em resultado melhor que o projetado.