São Paulo, 30 - O ambiente de crise econômica, associado ao elevado volume de distratos, tende a manter o mercado imobiliário em baixa neste ano. Na capital paulista, a perspectiva é que as vendas de imóveis residenciais novos totalizem 16 mil unidades em 2016, ante um patamar de 20,1 mil em 2015. Já os lançamentos devem totalizar 17 mil unidades neste ano, ante 23 mil no ano passado, de acordo com estimativas apresentadas pelo economista-chefe do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Celso Petrucci, durante palestra no Congresso Lares 2016, organizado pela Associação Latinonamericana de Mercado Imobiliário (Lares, na sigla em inglês).
Petrucci comentou também que os distratos seguem elevados, na ordem de 26% das vendas, e representam um risco considerável para o setor. "Quando digo que vamos vender 16 mil unidades, na verdade vamos vender mais de 20 mil unidades, mas os distratos estão em torno de 26%", explicou. O economista atribuiu as rescisões de negócios ao ambiente marcado pela crise econômica, alta do desemprego, da inflação e da taxa de juros, que reduziram a capacidade dos compradores de imóveis concluírem a negociação. "Houve uma confluência de fatores que provocou a elevação dos distratos", avaliou.
Petrucci citou que a demanda dos consumidores está concentrada nos segmentos de imóveis para famílias de rendas média e baixa, onde o déficit habitacional é maior. Nesse segmento, também há maior disponibilidade de crédito bancário para financiar a construção e a comercialização dos imóveis. Entre janeiro e julho, foram vendidas 8 mil moradias em São Paulo, dos quais 67% estão abaixo de R$ 500 mil. Já os lançamentos no mesmo período somaram 6,8 mil unidades, sendo 72% abaixo de R$ 500 mil.
O representante do Secovi afirmou ainda que espera que o governo federal e o Congresso avancem na adoção das medidas de ajuste fiscal, com a aprovação em breve da PEC 241, que limita os gastos públicos. Caso isso ocorra, ajudará a aumentar a confiança dos agentes financeiros, empresários e consumidores, dando mais condições para a retomada do crescimento da economia nos meses seguintes.
Petrucci também apontou a perspectiva de queda da Selic para o patamar de 10% a 11% em 2017, abrindo espaço para melhora na captação de recursos pela caderneta de poupança e ampliação da disponibilidade de recursos para o crédito que abastece o mercado imobiliário. "Nossa visão é de que mercado imobiliário passa por inflexão e terá recuperação gradual em 2017", disse.
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O presidente da Associação Brasileira das Entidades de Poupança e Empréstimo (Abecip), Gilberto Duarte de Abreu Filho, também palestrou no mesmo evento e compartilhou a visão de que o mercado passa por uma inflexão. "As condições de queda de juros vão voltar a fomentar o mercado de crédito imobiliário. Acredito que estamos em um momento de inflexão", pontuou.
Duarte reiterou a projeção de que os financiamento para a produção e comercialização de imóveis no Brasil atinjam R$ 50 bilhões em 2016, uma queda considerável em relação ao montante de R$ 76 bilhões de 2015 e R$ 113 bilhões de 2014, com o mercado afetado pela crise macroeconômica. "Na recuperação, não devemos atingir o patamar que vimos durante o auge, mas certamente melhor que nesses dois anos", completou.