São Paulo, 30 - O Bradesco alterou para pior suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2016 e de 2017. Para este ano, a expectativa passou de queda de 3,4% para declínio de 3,6%, levando em consideração uma projeção queda de 0,7% para o quarto trimestre deste ano. Já a estimativa de crescimento para o PIB fechado em 2017 foi reduzida de 1,00% para 0,30%.
"Por conta das perspectivas mais fracas para consumo, investimentos e exportações, atualizamos nossa projeção de crescimento para o ano que vem, de 1,0% para 0,3%. Entendemos que os riscos do cenário central, agora, nos parecem um pouco mais equilibrados", argumenta.
Para a instituição, os dados correntes mais fracos, a piora adicional no mercado de trabalho, a discrepância entre as aberturas de situação atual e expectativas nas sondagens de consumidores e empresários e a interrupção de melhora das condições financeiras favorecem um cenário de retomada "razoavelmente mais lenta do que antecipávamos."
De acordo com o banco, os gastos das famílias continuam apresentando contração, refletindo o esfriamento maior do que o esperado no mercado de trabalho. "De fato, os últimos resultados da Pnad contínua chamam atenção tanto pela velocidade de alta do desemprego quanto pela sua composição: hoje uma parcela maior dessa velocidade é explicada pela queda da ocupação", conforme relatório assinado pelo diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do banco, Octavio de Barros.
O Bradesco observa que, diferentemente de 2015 quando parte relevante da queda do consumo se deveu a um aumento "precaucional" da poupança, hoje é o mercado de trabalho que tem mais pesado sobre as decisões dos consumidores.
Outro ponto, conforme a instituição, é que a estabilização dos investimentos na metade do ano não se sustentou. No terceiro trimestre, houve recuo de 3,1% em relação ao período imediatamente anterior, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o banco, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) deve ter retração parecida no último trimestre deste ano.
A piora na demanda externa nos últimos meses também vem atrapalhando uma retomada da economia, de acordo com a instituição. "As exportações em quantum têm caído nos últimos meses e a sua contribuição para o PIB deve continuar em terreno negativo no quarto trimestre, salvo forte melhora nos dados de dezembro. Ainda que não estejamos vendo uma piora relevante do cenário externo (há, inclusive, um ganho nos termos de troca nos últimos meses), há uma percepção de que a demanda externa mostrou certo recuo", justifica.
Dentre os riscos para a economia brasileira, o banco lista os seguintes fatores: incerteza sobre o tamanho total do problema fiscal dos estados; dificuldade em mensurar o risco associado ao processo de construção do consenso político; ainda que as condições financeiras internacionais sejam favoráveis, são menos favoráveis do que há dois meses atrás. Por fim, acrescenta que as condições financeiras locais também pararam de melhorar, em nível contracionista.
Mas há também riscos positivos, pondera. "Estimativas de safra para 2017 estão nos dois dígitos de crescimento; há expectativa de aumento de oferta de energia limpa ao longo dos próximos trimestres, aumentando a eficiência da economia - bem como o valor adicionado do setor, dentro do PIB industrial; e o desempenho mais fraco da atividade no curto prazo pode abrir caminho, via queda da inflação, para um recuo mais rápido e intenso dos juros."