Se tem um setor que não tem muito do que queixar da crise econômica no Brasil é o farmacêutico. Impulsionado por fatores como o envelhecimento da população ou o avanço dos medicamentos genéricos, a indústria apresentou crescimento de 13,1% no ano passado, representando um faturamento de cerca de R$ 85 bilhões no período.
Mas um país com 200 milhões de habitantes nunca deixará de ser visto como um mercado estratégico para as indústrias.
A farmacêutica acaba de anunciar R$ 450 milhões nos próximos quatro anos para a construção de um novo complexo industrial em Pouso Alegre, no Sul do estado, com área construída de 60 mil metros quadrados, distribuídos em sete complexos, e geração de 800 empregos diretos. No local serão produzidas a cada ano 200 milhões de unidades de várias classes de medicamentos.
O projeto está em fase final, e as obras começarão neste segundo semestre. A produção atenderá ao mercado interno e externo, como os Estados Unidos e União Europeia. Para isso, a empresa seguirá as normas FDA (Food and Drug Administration) e EMA (European Medicines Agency), na tentativa de obter a certificação internacional. Também seguirá as regras para a certificação de fábrica verde.
“Continuamos acreditando e investindo no Brasil e em nossos profissionais, buscando sempre melhorar”, afirmou o CEO da Biolab, Paulo Marques. A qualidade, segundo ele, é que faz com que o paciente fidelize a marca, especialista em medicamentos de uso contínuo.
A fabricante de produtos farmacêuticos Cimed também anunciou um investimento de R$ 100 milhões na ampliação de seu parque produtivo de vitaminas em Pouso Alegre, além da construção de uma fábrica de medicamentos sólidos.
A nova unidade vai contar com três linhas, destinadas a medicamentos genéricos, similares e isentos de prescrição médica. A expectativa é dobrar a capacidade produtiva de medicamentos sólidos e 500 postos de trabalhos sejam criados até o final do ano que vem, quando a unidade deve ser inaugurada.
O presidente do grupo Cimed, João Adibe, ressalta que Minas Gerais é um estado importante do ponto de vista geográfico, facilitando a logística de distribuição da produção. Atualmente, 40% do faturamento da empresa está concentrado na região Sudeste.
E por falar em faturamento, a empresa contabiliza crescimento constante. “O setor farmacêutico não se abala diante de uma crise porque o medicamento é um produto de primeira necessidade. E uma estratégia nossa sempre foi o preço. A gente consegue passar para o varejo qualidade com preços mais atrativos”, diz João Adibe. Prova disso é que, segundo ele, somente neste ano houve um crescimento de 15% na contratação de pessoal.
Embalagens Especializada em produção de embalagens, ampolas e frascos destinados à indústria farmacêutica, a OMPI do Brasil – pertencente à italiana Stevanato Group – anunciou em fevereiro do ano passado um acordo com o governo estadual para investir R$ 100 milhões na fábrica de Sete Lagoas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Pouco mais de um ano depois da cerimônia de lançamento da pedra fundamental, a fábrica está pronta e a produção já começou.
“A primeira remessa de amostras produzidas no local foi enviada neste mês de julho a um dos clientes da empresa no Brasil. O volume de produção crescerá gradualmente a partir de agora”, informou a Assessoria de Imprensa da Stevanato Group. A fábrica será inaugurada oficialmente em novembro.
Atualmente são empregados no local 80 pessoas, número que chegará a 200 quando a unidades estiver operando em plena capacidade.
“A decisão de investir no Brasil foi tomada depois de análises precisas do mercado local. O Brasil é o sexto maior mercado farmacêutico do mundo e projetamos que continuará crescendo a taxas de dois dígitos”, afirmou em fevereiro Marco Stevanato, vice-presidente do grupo.
Com a unidade brasileira, o grupo italiano ampliou para dez o número de fábricas, que estão instaladas também na Itália, Dinamarca, Eslováquia, México e China.
Carga tributária e câmbio são entraves
Em meio a uma crise generalizada, os números do setor de medicamentos podem – e devem – ser comemorados. Mas eles podiam ser ainda melhores, segundo análise da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).
Alguns fatores como a variação no câmbio, alta tributação (34% do preço dos remédios diz respeito a imposto), roubo de carga nas estradas durante o transporte dos produtos e controle rigoroso de preços impedem um crescimento que poderia ser bem maior que os 13% registrados no último ano.
“São muitos os problemas, o que faz com que a indústria tenha que se reinventar para fazer mais”, diz Pedro Bernardo, diretor da Interfarma. Uma reclamação constante do setor é a alta tributação, embora a Constituição Federal estabeleça que a carga de impostos deve levar em consideração a essencialidade do produto.
O índice dos medicamentos só perde para o cigarro e bebidas alcoolicas, mas é mais alto por exemplo que o cobrado sobre moda praia e alguns brinquedos.
O diretor enfatiza outro ponto importante: a participação das importações de produtos e insumos no mercado farmacêutico saltou 19 pontos percentuais em 10 anos, chegando a representar 58% do total comercializado no Brasil.
Para se ter uma ideia, em 2005 as importações correspondiam a 33% do mercado. Na ponta, pode repercutir em menos investimento em tecnologia e geração de empregos.
“A importação da matéria-prima e produto pronto está subindo bem mais que o faturamento. O aumento da importação representa um ganho que estamos deixando de registrar. Lógico que temos investimentos e crescimento, mas poderia ser muito maior", analisa Pedro Bernardo.
Ele lembra que o custo do Brasil é muito alto, o que envolve ainda burocracia e processos muito demorados, o que muitas vezes desencoraja investimentos na produção de insumos e medicamentos.
Por outro lado, o Brasil se mantém como um dos alvos do setor em razão de algumas características como o envelhecimento da população – atualmente em 75,5 anos, fase em que é mais comum o uso de medicamentos.
Mas há ainda outros fatores, como o sobrepeso da população. Estima-se que 56% dos brasileiros estão acima do peso, condição que propicia o surgimento de mais doenças, como a hipertensão e diabetes, levando consequentemente a uma maior necessidade de uso de remédios de forma constante.