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Estado de Minas EXCLUSIVO

'Faxina' na Odebrecht vai excluir até o herdeiro Marcelo

De ex-presidente a condenado pela Justiça e preso, ele não terá mais cargo de comando no conglomerado empresarial fundado e ainda controlado por sua família


postado em 10/09/2017 06:00 / atualizado em 10/09/2017 08:36

(foto: MICHELLE O'CONNELL/AFP)
(foto: MICHELLE O'CONNELL/AFP)

O ex-presidente e herdeiro do grupo Odebrecht Marcelo Odebrecht deixará a prisão em menos de três meses, mas não voltará a assumir cargo oficial no conglomerado que leva seu sobrenome. Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, o diretor da Odebrecht responsável pelo processo de implementação de regras para combate a irregularidades dentro da empresa, André Amaro, garantiu que o empresário não fará mais parte do corpo diretivo da empresa. No entanto, como a família se mantém a principal acionista do grupo, Marcelo Odebrecht pode manter influência em decisões do conglomerado. Segundo Amaro, dos 78 executivos que participaram das delações, 26 voltarão a atuar na empresa, mas sem ocupar cargos de liderança e com monitoramento de todas suas atividades.

Amaro coordena um grupo de 63 pessoas que acompanha a implementação da chamada “política de conformidade” dentro do conglomerado. Segundo ele, as empresas do grupo já sinalizaram que não farão mais doações para campanhas políticas no Brasil e desde o ano passado os critérios na relação com agentes públicos passou a ser mais rigoroso. Em 2016, a Odebrecht anunciou que alteraria práticas de transparência e estimularia denúncias de irregularidades que envolvem desvios éticos internos.


Sobre o futuro de Marcelo Odebretch, preso em junho de 2015 e condenado pelo juiz Sergio Moro, em março do ano passado, a 19 anos de prisão por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa, Amaro ressalta que o ex-presidente do conglomerado não participará do corpo diretivo da Odebrecht, mas que seu papel dentro da família será definido pelo próprio clã Odebrecht.

“Não vejo se ele (Marcelo Odebrecht) terá grande influência. Existe a família acionista e enquanto ela não vender as ações continua sendo acionista do grupo. E Marcelo continua sendo membro da família. Agora, do corpo diretivo da Odebrecht S.A, que tem presidente e diretores, ele não participará. Também não participará do conselho de administração. Agora, o papel dele dentro da família acionista compete somente à família”, explica André Amaro.

Desde a homologação do acordo de delação premiada e de leniência da Odebrecht com o Ministério Público, em abril deste ano, Emílio Odebrecht deixou o conselho da empresa, que ficou pela primeira vez sem nenhum membro da família Odebrecht.

BOA CONDUTA Em janeiro, em meio à reestruturação da empresa, a Odebrecht divulgou a intenção de abrir capital para sua construtora. A entrada na bolsa de valores, no entanto, deve acontecer após a conclusão de um processo de adequação a padrões rígidos de boa conduta corporativa e transparência. Desde o final do ano passado, um comitê de conformidade foi criado pela holding para implementar mudanças no comportamento de altos executivos e funcionários da empresa.

“Implementamos dentro das nossas empresas um sistema baseado na prevenção, no monitoramento e na remediação de questões que envolvam desvio de conduta ético. E a corrupção é um desses desvios”, explica Amaro. Segundo ele, a empresa buscou “inspiração” em casos internacionais de grandes corporações que passaram por escândalos de corrupção, como a Siemens, na Alemanha. “Rodamos o mundo atrás de exemplos de empresas que passaram pelo que nós passamos e encontramos muito conhecimento. A Siemens e a GE passaram por episódios gravíssimos e se transformaram em exemplos de ética”, diz.

Delatores voltam com 'crachá novo'
Na implementação de regras mais rigorosas sobre o comportamento dos funcionários da Odebrecht, a empresa colocou no crachá de cada um a lista com os “10 mandamentos” a serem seguidos por todos os trabalhadores do grupo.

Além da foto e as identificações pessoais dos funcionários, os crachás trazem também diretrizes como “adotar princípios éticos, íntegros e transparentes”, “dizer não, com firmeza e determinação, a oportunidades de negócio que conflitem com o compromisso de combate à corrupção” e “jamais invocar condições culturais ou usuais do mercado como justificativa para ações indevidas”.

Os crachás serão usados pelos ex-executivos da empresa que abriram o jogo e contaram detalhes sobre as relações corruptas com políticos. Segundo o diretor responsável por coordenar o grupo de 63 pessoas que estão implantando regras contra irregularidades no grupo, André Amaro, dos 78 executivos da Odebrecht que fizeram acordo de delação, 26 voltarão a assumir cargos dentro do grupo nos próximos meses.

Nas delações para os investigadores da Operação Lava-Jato, os dirigentes da Odebrecht citaram mais de uma centena de políticos, entre eles as principais lideranças partidárias do Brasil, como o presidente Michel Temer, os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, e várias lideranças parlamentares, como Aécio Neves e Renan Calheiros. As denúncias levaram à abertura de 83 inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Acreditamos que as pessoas podem se regenerar, mudar e aprender. Estabelecemos uma regra em acordo com as autoridades e estamos sendo monitorados. Esses executivos continuarão na empresa porque eles têm conhecimento profundo de tecnologias específicas e processos específicos. Mas sobre eles se aplicam regras e monitoramento específico. Inclusive, a empresa monitora as comunicações dessas pessoas e eles não ocuparão cargos de liderança”, explica Amaro.

OUTROS PAÍSES
O diretor conta ainda que a Odebrecht continua negociando acordos em outros países para esclarecer denúncias de corrupção. Além do Brasil, a empresa já admitiu ter pago propina para agentes públicos em outros 11 países. Até agora, foram fechados acordos de leniência no Panamá, Equador e na República Dominicana. Nos outros oito países as negociações estão em andamento.

“Nossa disposição é colaborar com todos eles e reparar todos os ilícitos. A punição para uma empresa é uma ponta em uma grande teia e, além de pagar nossas multas, a empresa pode contribuir revelando informações para desbaratar grandes esquemas”, diz Amaro.


Do corpo diretivo da Odebrecht S.A, que tem presidente e diretores, ele (Marcelo Odebrecht) não participará. Também não participará do conselho de administração


>> André Amaro,presidente da Odebrecht Defesa e Tecnologia e responsável por coordenar grupo para implantar a política de conformidade


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