Quando foi criada em 2004, a Associação Suricato tinha como objetivo ser um espaço de encontro entre a cidade e a loucura, quebrando os muros representados pelos estigmas enfrentados por pacientes de sofrimento mental em Belo Horizonte. Treze anos depois, o visitante que caminha pelos corredores da ampla casa na Rua Souza Bastos, no Bairro Floresta, Leste da capital, e se assenta a uma das mesas do bar que funciona no quintal quase sempre se confronta com o mesmo questionamento enquanto olha à sua volta: “Mas, afinal, quem é louco aqui?”.
A pergunta, segundo Marta Soares, terapeuta ocupacional e coordenadora do Suricato, faz parte do cotidiano da casa, que há mais de uma década promove a reinserção social de pacientes psiquiátricos da rede municipal por meio do trabalho. Lá – do recepcionista aos cozinheiros, passando pelos garçons e artistas –, todos se tratam de algum quadro de sofrimento mental. “Há 30 anos, essas pessoas aqui estariam internadas em hospitais psiquiátricos. Hoje, carregam menos sequelas, marcas. É possível tratar em liberdade”, constata Marta.
Suricato é um mangusto africano que, para sobreviver às intempéries das savanas, se une a outros da mesma espécie, que se protegem. “Aqui se derrubam mil muros. Berlim jamais chegará ao que é aqui. É preciso saber que a loucura, o tratamento psiquiátrico, não são doença. As pessoas não são doentias assim”, desabafa Frederico Eymard, jornalista, poeta, músico e tradutor, que acaba de lançar seu segundo livro, em noite de autógrafos promovida no Suricato. “Eu tomo remédios, mas o remédio não me cura. O que me cura é a arte. É preciso fazer a desconstrução da loucura. Quem faz tratamento tem capacidade de realizar muitas coisas”, conta Eymard.
CUSTEIO
Além do bar, o Suricato, há três anos no bairro Floresta, expõe pinturas, mandalas, móveis e obras de arte produzidas por pacientes psiquiátricos. “No mundo capitalista, nós que tomamos remédio somos discriminados. Então fizemos essa ONG para gerar trabalho e renda. Estamos na luta, trabalhando, mostrando que a gente é capaz”, conta Clarismundo Messias Prudêncio. “Trabalhar, viver em sociedade, circular livremente, interagir com público em geral – a autoestima subiu bastante. O cliente quando chega aqui e vê nosso produto não acredita”, conta o artesão que produz mandalas.
A casa se mantém com a venda de produtos e recebe subsídio da prefeitura, mas o valor de R$ 10 mil mensais não dá conta de um quinto das despesas, segundo Marta Soares. Por isso, a associação lançou uma vaquinha on-line, com a meta de custear a reforma da cozinha e a construção de dois banheiros. Ao todo, são 54 postos de trabalho gerados pelo Suricato, contando os núcleos produtivos, que ficam no Bairro São Paulo.
Visite
Espaço Suricato
Endereço: Rua Souza Bastos, 175, Floresta
Telefone: (31) 2526-5367
Bar: de quinta a sábado, a partir das 20h