Do concurso público ao empreendedorismo: conheça a gamer brasileira pioneira em VR


Arquivo Pessoal

Parecia o roteiro de mais uma vida pacata: depois de formada em psicologia, Ana Ribeiro foi aprovada em um concurso e trabalhava digitando processos, divórcios e alvarás em um tribunal de justiça na sua cidade. Mas ao invés de seguir em uma carreira sem muitas ambições e grande estabilidade, ela se transformou em uma das pioneiras da realidade virtual no Brasil e vive incertezas e desafios como empreendedora e programadora de jogos digitais.


"Comecei a fazer jogos há seis anos – antes disso, não sabia nada de programação. Já jogava e era gamer, mas até então tinha uma vida considerada normal, lá no Maranhão, em um trabalho muito burocrático no Tribunal de Justiça", relembra Ana. "Lá não existia criatividade, não podia nem mudar a fonte dos documentos, era Times New Roman", desabafou, sempre bem humorada.


Para quem hoje tem reconhecimento mundial na área de jogos digitais em realidade virtual, o caminho de Ana no empreendedorismo surpreende. "Depois de cinco anos naquilo, me senti impulsionada a mudar de vida. As vezes você tem que fazer uma coisa que você não quer mesmo fazer para ter incentivo para sair e buscar algo mais. Então eu comecei a levar empadas para o trabalho!", conta ela.


"Primeiro comecei a vender algumas apenas no meu setor, para o pessoal mais próximo. Dai fez sucesso e passei a levar uma maletinha, já vendia a empada, o refrigerante e tudo mais. O pessoal do cartório começou a reclamar que vinha muita gente vender empadas e mudei meu horário para poder ir de manhã só vender. Dai a notícia espalhou e vendi também no TRE que era no vizinho", detalhou.


O sucesso das empadas da Ana não parecia ter limites. Ela reformou a cozinha de casa para aumentar a produção, que passava de 4000 empadas por mês, contratou funcionários, fez planos para uma lanchonete física e até parou de vender para se dedicar a administrar o negócio. Foi quando ela decidiu fazer um curso no Sebrae para microempresas, que mudaria totalmente sua vida.


"Foi algo intenso. E lá me fizeram três perguntas: como eu imaginaria meu negócio daqui a cinco, dez e quinze anos. Minhas respostas foram automáticas. Em cinco anos, queria que a Empada Quero Mais virasse uma franquia espalhada por todo o Maranhão. Em dez anos, pelo menos uma loja em cada capital do Brasil. E em quinze anos, uma inauguração no exterior. Parecia simples", relembrou. "Mas depois fizeram a mesma pergunta em relação a mim. E foi aí que eu vi que não queria vender empadas o resto da minha vida".

 

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Mudança de caminho


Foi quando Ana começou a refletir mais sobre sua vida, primeiro olhando para o futuro e depois para o passado: o que ela mais gostava de fazer na sua vida era jogar. E não era uma jogadora casual, mas sim uma gamer que levava seu hobby a sério: já teve clã de Counter Strike e cresceu jogando em casa com os três irmãos. Criar seus próprios jogos digitais tinha muito mais a ver com a sua história do que administrar a franquia de empadas.


O passo seguinte de Ana foi finalmente largar a estabilidade do concurso. Não deu mais as caras na repartição por um tempo e depois voltou lá só para buscar suas coisas. Largou tudo. "Eu já estava decidida a sair, porque ganhava mais com as empadas. Mas peguei o dinheiro que tinha juntado para abrir a lanchonete e pensei: se é para chutar o pau da barraca, é para chutar de vez".

Ana percebeu que o que mais gostava nas suas empadas era a criatividade. Inventava todo tipo de sabor, de Hot Dog a Feijoada. Com as economias, decidiu ir para a Inglaterra e matricular em um curso de programação de jogos digitais. Lá, aprendeu muito e partiu para um mestrado na área, em que apenas oito alunos eram aprovados por semestre. Foi quando começou a criar o jogo que hoje é o Pixel Ripped, um game em realidade virtual que conta a história dos vídeogames.


"Ele foi meu projeto de conclusão de curso. Meu público é quem cresceu jogando nos anos 80 e 90. Ele é um jogo sobre ser jogador. Para completar o jogo vc tem que lidar com a realidade. Vai ser uma viagem no tempo referenciando vários períodos da indústria de games. Começamos com 1989, em que a personagem principal está na escola jogando o jogo dentro do jogo. O desafio extra é que, além de jogar, ela precisa esconder da professora que está jogando", descreveu Ana.


Com lançamento programado para outubro, Pixel Ripped será lançado no Oculus Rift e no PSVR, do PlayStation. Nos primeiros testes e exibições, o game foi bem elogiado e é uma das promessas que pode fazer com que a realidade virtual em jogos digitais realmente emplaque. Mas, como já mostrou ao longo de sua história, Ana não deve parar por ai. "Queremos lançar mais jogos, desenvolver e continuar vivendo esse sonho", completou.

 

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