Hermann fez fortuna no ramo imobiliário e de importação e exportação, nas décadas de 1940 e 1950. Era figura presente nas colunas sociais dos jornais do Rio de Janeiro, então capital federal, e gozava de bom trânsito entre jornalistas, políticos e autoridades. O lançamento da Cidade Marina recebeu ampla divulgação, por ser assinado por Niemeyer, de quem Hermann era amigo e com quem compartilhava os mesmos ideais políticos. Ambos ligados ao Partido Comunista.
Pouco depois do lançamento do projeto, a Ruralminas – autarquia responsável pela reforma agrária no estado, extinta em 2015 –, declarou as terras da Fazenda Menino devolutas e liberou a invasão de posseiros com a promessa de regularizá-la. “Com isso, a área foi ocupada em prazo curtíssimo, o que inviabilizou o projeto”, comenta Aloysio, genro de Hermann. “Meu pai era um empresário bem-sucedido. Colocou seu tempo e dinheiro na fazenda”, lamenta Carmen.
PERSEGUIÇÃO E PRISÕES
Após o golpe militar, Hermann foi preso diversas vezes. “Nossos filhos até achavam que o avô era delegado, de tanto que a gente ia na delegacia”, conta o genro, que foi detido na única vez em que visitou a Fazenda Menino.
Marina morreu em 1969, aos 50 anos, acometida por câncer. Hermann, sem posses, passou a viver sob os cuidados de Carmen, que até hoje recebe oficiais de justiça devido a inúmeros processos de usucapião. Em 1987, segundo jornais da época, Hermann quis vender a área ao Incra, para reforma agrária, mas uma vistoria constatou que a área era imprópria para cultivo. Herrman morreu no ano seguinte. “Meu pai deu murros em ponta de faca. Lutou muito e morreu de decepção e tristeza.”
PRESENÇA DE MARINA
Mesmo que a cidade não tenha saído do papel, o nome de Marina ainda paira na memória da família e dos moradores da Fazenda Menino. Filha de espanhóis, Marina Ramona Gomes foi a segunda esposa de Max Hermann, anteriormente casado com Adriana Hermann, com quem teve três filhos. Marina, que daria o nome à cidade, também é o sobrenome da filha, Carmen, e também o nome de batismo das filhas dos ex-empregados Adão Machado e Geralda Brito.
SEM REGISTROS
A reportagem entrou em contato com a Fundação Niemeyer para questionar sobre a não execução do projeto do arquiteto. Segundo a fundação, “no arquivo documental existente na Fundação Oscar Niemeyer não existe nenhum registro ou informação que explique o motivo de não ter sido implementado o projeto da Cidade Marina, de autoria de Oscar Niemeyer.”